Ícone do site Tribuna de Minas

Telemedicina do HU-UFJF busca ampliação na Zona da Mata

PERSPECTIVAS SAUDE Marcelo Maroco by Leonardo Costa capa
PUBLICIDADE

O isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19 fez diversos setores repensarem sua forma de atuação. O on-line veio como alternativa para o trabalho, para os estudos e até para os atendimentos médicos. Com a impossibilidade de pacientes se deslocarem ao Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), sob gestão da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), a unidade de E-saúde resolveu, então, chegar a esses pacientes usando recursos de teleatendimento. Mesmo após a pandemia, o projeto se manteve, cresceu e busca se ampliar ainda mais no próximo ano, levando teleconsultas e teleinterconsultas para outros municípios da Zona da Mata.

Atualmente, a unidade de E-saúde do HU-UFJF atua juntamente com 30 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Juiz de Fora, além de atender, também, a outros nove municípios da região. Para 2024, a ideia é ampliar o projeto para as demais UBSs de Juiz de Fora, bem como abrir inscrições para os 94 municípios que integram a Superintendência Regional de Saúde, de acordo com o chefe da unidade de E-saúde, Marcelo Alvim.

PUBLICIDADE

O projeto já existe há mais de dez anos, mas funcionava apenas como teleducação, voltado para estudantes e residentes do HU-UFJF. A pandemia, entretanto, levou à necessidade de incluir, também, o atendimento remoto, que se manteve desde então. “O paciente não pode vir para cá. Então nós vamos trabalhar remotamente, nós vamos até o paciente de alguma forma”, comenta Alvim.

PUBLICIDADE

Para 2024, há também a intenção de levar o projeto de teleatendimento para a Penitenciária José Edson Cavalieri, em Juiz de Fora. De acordo com o chefe da E-saúde, a proposta foi apresentada para a diretoria da penitenciária e deve atuar em articulação com o centro médico instalado no local.

Teleconsultas e teleinterconsultas

Atualmente, a E-saúde oferece duas modalidades de atendimento: teleconsulta e teleinterconsulta. A primeira envolve o contato remoto entre o paciente e o médico especialista e é geralmente voltada para acompanhamentos, como quando uma pessoa faz uma cirurgia e tem alta hospitalar, por exemplo. Já a teleinterconsulta envolve um médico da UBS, de forma presencial, e outro especialista, que estará on-line, para discutirem um caso com um paciente.

PUBLICIDADE

“Cerca de 90% dos pacientes que foram interconsultados não continuam na lista do presencial, porque a cada dez teleinterconsultas, apenas em uma os médicos chegam à conclusão de que é caso de realmente ir para o hospital”, explica o chefe da E-saúde. “A fila está diminuindo, permanecendo apenas aquelas pessoas que realmente precisam ir ao hospital.”

Os atendimentos são regulados pela PJF, através de sua central de marcação de consultas. Conforme Alvim, o HU-UFJF e as UBSs possuem uma agenda paralela, sendo que os médicos especialistas ficam disponíveis no mesmo horário de atendimento dos médicos das UBSs. As consultas on-line, entretanto, não se aplicam a todas as especialidades e a todos os casos, considerando as especificidades e os estados clínicos dos pacientes.

PUBLICIDADE

Economia e inclusão

Desde a implantação das teleconsultas, o projeto alcançou diversos pacientes que, de outra forma, não conseguiriam atendimento médico especializado. Alvim cita exemplos de pacientes internados em outros municípios, idosos acamados e, recentemente, o de uma jovem de 28 anos que tem uma doença rara que a impede de sair de casa.

“Se olharmos para a parcela da população que precisa do SUS e tem essas necessidades, vemos o quanto é importante implementar esses atendimentos remotos”, diz. “Mais do que economizar tempo e recurso como transporte, dinheiro, etc, é uma situação de incluir as pessoas que hoje estão fora do atendimento pelo SUS.”

Em dezembro, o professor e neurologista do HU-UFJF Marcelo Maroco Cruzeiro realizou sua primeira teleinterconsulta para atender a paciente com uma doença rara citada por Alvim. O profissional acredita que a área da saúde deve, de fato, se adequar às necessidades e que o teleatendimento auxilia muitos pacientes, mas deve haver cautela, considerando as condições clínicas ou mesmo de acesso aos equipamentos necessários para a realização do atendimento. “É algo que precisa ser feito com muito critério para não ser banalizado e para que não traga uma redução na qualidade do tipo de atendimento.”

PUBLICIDADE
Em dezembro, o professor e neurologista do HU-UFJF Marcelo Maroco Cruzeiro realizou sua primeira teleinterconsulta, para atender uma paciente com doença rara (Foto: Leonardo Costa)

Desafios

Chefe da Unidade de Saúde da Criança e do Adolescente e coordenadora do Serviço de Doenças Raras do HU-UFJF, Paula Bruno de Martin atua com a unidade de E-saúde nos atendimentos on-line e aponta que a telemedicina tem contribuído para o acesso a locais antes impedidos. O Serviço de Doenças Raras atende a 15 Gerências Regionais de Saúde, totalizando 280 municípios. Dessa forma, as teleconsultas evitam grandes deslocamentos por parte dos pacientes.

Apesar dos benefícios já demonstrados nas experiências da E-saúde, há determinados desafios que ainda precisam ser vencidos para a expansão da telemedicina no serviço público. “Eu vejo alguns desafios: os profissionais aderirem e a população em si ter acesso melhor a uma internet de qualidade, a um computador preparado para isso ou a um telefone pessoal”, diz Paula. “Eu faço atendimento de enfermagem virtual e, às vezes, o celular da pessoa não é compatível com o programa, a internet ‘agarra’ e aí você atrasa porque a pessoa não consegue entrar. As pessoas mais velhas têm um pouco de dificuldade para poder acessar”, exemplifica.

Paula de Martin é chefe da Unidade de Saúde da Criança e do Adolescente e coordenadora do Serviço de Doenças Raras do HU-UFJF, e atua com a unidade de E-saúde nos atendimentos on-line (Foto: Arquivo pessoal)

Prefeitura investe em informatização da rede pública

Desde 2022, a PJF vem trabalhando no processo de informatização das UBSs e do sistema de saúde público da cidade. Em entrevista exclusiva à equipe de reportagem da Tribuna, a prefeita Margarida Salomão (PT) adiantou que, até janeiro de 2024, todas as UBSs estarão equipadas com computadores. Além disso, a Administração municipal também está concluindo a contratação de um Planejamento de Recursos Governamentais (GRP, na sigla em inglês). Tais medidas podem contribuir, inclusive, para o avanço da telemedicina na rede pública de Juiz de Fora.

PUBLICIDADE

“Estamos comprando também tablets para os agentes comunitários de saúde e de endemia. Esse é, na verdade, o problema mais fácil de resolver, porque o problema real é como essa informação coletada se integra em rede. Por isso entendo que nosso maior investimento, hoje, é na aquisição do GRP da saúde, que está em fase final de contratação.”

Conforme a prefeita, o programa irá permitir, por exemplo, que os profissionais da saúde trabalhem com prontuário eletrônico, facilitando o atendimento entre diferentes especialidades. Além disso, como lembrado por Margarida, em 2023, a Prefeitura lançou o BuscaSaudeJF, que disponibiliza informações sobre as filas do SUS na cidade.

“A gente acha que a saúde é uma das maiores áreas potenciais de investimento em desenvolvimento tecnológico em Juiz de Fora”, diz. “Nós estamos incorporando mais tecnologia, seja na forma da telemedicina, mas principalmente na aquisição desse sistema, que vai começar a ser implantado a partir de janeiro deste ano. Eu espero que nós consigamos, ainda no correr do ano, um retorno muito interessante.”

Sair da versão mobile