O ano começou com a obscura história de Lady Dayane da Silva Otaviano, de 1 ano e 10 meses, maltratada, violentada sexualmente e assassinada supostamente pelo jovem, 24, que deveria ser seu guardião (ao lado da prima da mãe biológica da vítima). O caso foi ainda mais estarrecedor pelo fato de a menina ser irmã de Luana Silva da Rocha, 2, espancada até a morte pelo padrasto em 2015. Na época, ele e a mãe foram presos em flagrante durante o velório da criança. A mulher, 26, foi absolvida pela Justiça, enquanto o marido, 29, foi condenado a 20 anos. Lady Dayane tinha apenas dois meses quando seu pai biológico foi acusado da morte da irmã mais velha. Embora os novos responsáveis pudessem lhe dar a chance de um destino diferente, ela foi vítima de violência semelhante um ano e oito meses depois, repetindo a tragédia familiar.
Lembro daquela manhã, quando comecei a ler o boletim de ocorrência da Polícia Militar, espantada com a perversidade daquele ser humano, capaz de sentir algum prazer em um ato tão abominável. A necropsia apontou que a menina morreu em decorrência de hemorragia aguda grave causada por politraumatismo, possivelmente em decorrência de espancamento. Também foram constatadas lesões nos órgãos da criança, principalmente no fígado, que foi dilacerado, e no pulmão esquerdo, perfurado por uma costela quebrada. A vítima ainda teve o intestino estourado por conta do abuso sexual. Quando me dei conta de que Lady Dayane era irmã de Luana, fiquei ainda mais apavorada. Não sou mãe, mas sou tia, madrinha e amo nossas crianças.
Há dez anos como repórter policial, me choquei e me emocionei incontáveis vezes. Naquele momento, apurando tamanha brutalidade tão perto de mim, fiquei despedaçada. Depois de ser preso, o suspeito alegou à polícia que havia “perdido a cabeça” e estava em surto. Surtados estamos ficando todos nós, diante da absurda violência que assola diariamente muitas vidas.
Um respiro
Mas setembro chegou e, antes mesmo da primavera, pude respirar em meio a um turbulento plantão de sábado: alunos e professores da Escola Propagadora da Música transformaram a rua da feira do São Mateus em um verdadeiro palco, irradiando afeto. Desafiada para cobrir a intervenção para a plataforma Playbuzz, de construção de narrativa na internet, consegui ter um novo olhar sobre o ser humano, enquanto os mais variados sons transbordavam esperança.
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