Uma foto de um bueiro coberto por lixo? Ah, é uma foto feia, mas que conscientiza. E mais, depois de arrumado, não preciso voltar para fazer alguma epidemia no bairro por causa daquela sujeira. Um clique de um poste sem luz? Sim, não quero ninguém assaltado ou violentado naquele local sombrio, não quero mesmo ir novamente numa entrevista coletiva que apresenta um estuprador. Olha o poste aceso durante o dia, que desperdício de energia. E o buraco na rua próximo a um colégio? Fotografo também, depois asfaltam e não preciso registrar uma criança atropelada pelo motorista que foi desviar do relevo.
E aquela pichação no patrimônio público? Semana que vem será retirada, só publicar lá no “Vida”. Olha a senhora correndo fora da faixa para chegar no outro lado da rua, preciso mostrar para a minha leitora que não é assim que atravessa. O teto do ponto de ônibus vai cair, vou clicar antes que eu tenha que voltar para uma indesejável foto dos populares machucados quando esperavam o seu coletivo. E o buraco que renasce em frente à Câmara dos Vereadores, local de grande fluxo de pedestres? Registro para mostrar ao poder público que ele tem que ser tampado, antes que alguém tropece nas pedras portuguesas.
Nossa, olha a quantidade de entulho naquele terreno, coladinho naquela escola, vamos prevenir a dengue, não quero fazer a imagem de mais uma família chorando por causa de um mosquito. Corta o mato alto, poda a árvore com praga, pinta a sujeira daquela parede, tira aquele carro abandonado da rua e, assim, vamos moldando nossa cidade. Evitar uma desgraça, impedir uma tristeza, prevenir uma catástrofe é melhor do que qualquer foto triste, forte ou chocante na capa do jornal.
Prefiro com meu olhar, com o meu prazer de servir a utilidade pública, iluminar a cidade, dar luz para a minha comunidade do que fotografá-la apagada. É a minha vida urbana de jornalista de imagem.
