Com a responsabilidade de propor um projeto que apresente uma solução para um problema real, seja no âmbito socioeconômico ou socioambiental, relacionando natureza e sociedade, os estudantes Artur Dutra Pena, Laís Rodrigues de Souza Ferreira e Yasmin de Souza Spindola são os representantes de Minas Gerais na fase nacional da Olimpíada Brasileira de Geografia e Ciência da Terra, oriundos de instituições privadas. O projeto, mantido em segredo pelos alunos, vai contemplar um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, referente à agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Além da proposta, os participantes têm até este domingo (31) para submeter as respostas da última prova específica da Olimpíada.
Os estudantes encaram o desafio de transmitir e explicar a ideia de seus projetos por meio de formatos que podem ser compartilhados em redes sociais. Eles acessaram a penúltima fase da Olimpíada com a melhor nota do estado nas três fases anteriores. Os três estão em turmas do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Jesuítas. Eles passaram, inicialmente, por uma seleção interna para participar, já que o número de estudantes por escola é limitado.
O grupo foi formado e começou a trabalhar com as tarefas e provas que foram submetidas em ambiente virtual, em função dos protocolos sanitários contra a Covid-19. As questões eram respondidas pelos três, que sempre precisavam pensar no que era proposto e formular uma solução conjunta, algo que o trio avalia como aspecto positivo do formato dessa competição de conhecimento.
“Os conteúdos que vimos, realmente, não são aqueles que aprendemos dentro de sala de aula. Pesquisamos muito e precisamos aprender sobre outras coisas, expandimos os horizontes, porque conseguimos nos aprofundar nos temas”, detalha Yasmin. A jovem relata que os três e o professor de Geografia, Henrique Lage Chaves, que é componente e mentor da equipe, tinham muitas reuniões semanais on-line para elaborar sobre tudo o que era proposto dentro das tarefas.
Artur destaca que a proposta da Olimpíada não é apenas a realização objetiva de questões, exames e atividades que possam ser aplicados para medir o conhecimento. “Eles usam as provas como um trampolim para que você conheça outras coisas que não são abordadas no currículo normal, incentivando o olhar sobre pontos que poderiam ‘passar batido’.”
Para Laís, poder contar com dois outros diferentes pontos de vista durante todo o processo fez a dinâmica ficar ainda mais interessante. “Achei que foi bem melhor fazer as questões em grupo, porque quando você não sabe direito fazer uma questão, ou quando ficava desanimado, tinham mais duas pessoas para apoiar, ajudar e também para confirmar se a sua ideia está certa. Foi muito bom interagir, participar da prova e ter essa experiência com amigos.”
Para as duas jovens, a participação também ajudou a criar laços de amizade, já que ambas se mudaram de outras escolas e estreitaram a relação com a disciplina.
O que o trio consegue adiantar sobre o projeto final, é que ele está relacionado com as comunidades de suas cidades de origem e se repetem em Juiz de Fora. Segundo Laís, o empenho sobre a temática trabalhada fez com que ela e os colegas vislumbrem que podem vir a ajudar a criar uma resolução palpável. “Buscamos ser realistas, falamos de problemas que ainda não foram solucionados de forma consciente. Fizemos um projeto simples, que possa ajudar mais pessoas, de acordo com o que víamos diariamente nas nossas cidades.”
O professor Henrique ressalta que a escolha dos estudantes e o trabalho realizado por eles reforçam a autonomia dos jovens. “Mesmo com todas as dificuldades que a pandemia impôs, eles foram brilhantes. Acompanhei de perto e o protagonismo é deles, em todas as etapas.” O docente chegou a pensar em um tema para propor, para que eles desenvolvessem na etapa final. Porém, os estudantes já tinham delineado algo que estava ajustado às vivências e percepções deles.
O que foi ganho, na avaliação do mentor, vai além do conhecimento que a equipe conquistou. “Eles construíram uma convivência, uma solidariedade entre eles. O mais precioso é, justamente, a possibilidade de enriquecer o lado humano, com base na cidadania e no cuidado com o coletivo.”
Além de Henrique, outros professores de Geografia do colégio também deram suporte aos alunos.
Jornada interdisciplinar
A proposta interdisciplinar da Olimpíada de Geografia e Ciências da Terra, que realiza sua sexta edição, é estimular o pensamento e o posicionamento crítico dos adolescentes em relação à sociedade na qual estão inseridos. O aprofundamento que o conteúdo curricular não permite é estimulado pela iniciativa, conforme reitera o professor Henrique. Conteúdos como climatologia, geologia, cartografia estão presentes em detalhes nas atividades. “Tive a oportunidade de revisar conteúdos que eu aprendi na faculdade e tive que resgatar para apresentar a eles. Cheguei a mostrar um caderno da época da graduação, que tirei da gaveta para mostrar alguns detalhes.”
A contribuição para a formação, na avaliação do docente, ajuda a tornar a leitura do mundo dos jovens ainda mais abrangente.
“Olimpíada não serve apenas para formar novos geógrafos, mas sim, qualquer cidadão que tenha habilidades para ver de uma forma mais criteriosa a realidade que ele vive.” Ele exemplifica essa afirmação por meio do contato que os alunos tiveram com fontes primárias de informações, como as bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), conhecimento que, segundo ele, pode ser útil para qualquer carreira que eles tenham a intenção de seguir futuramente.
Percurso de desafios
As primeiras fases da competição exigiram que os estudantes explorassem seus sentidos. Em uma das tarefas, eles precisavam analisar áudios para descobrir do que os arquivos sonoros tratavam. O assunto causou certa comoção entre os participantes de todo o país, porque alguns dos itens, segundo Yasmin, pareciam ser sobre os mesmos assuntos. Artur diz que eles gastaram muito tempo ouvindo o material e conseguiram um bom resultado no fim.
“Desenvolvemos um sentido que colocamos em segundo plano, priorizamos a visão, os olhos estão captando, a tarefa era ouvir, simplesmente, e lidar com um assunto desconhecido. Depois, começamos a pensar qual o sentido maior ao qual aquela tarefa remetia, no porquê de ela estar ali”, detalhou Artur.
Laís considera também que equilibrar as demais tarefas escolares e as lições das Olimpíadas foi outro aprendizado. “Ficou um pouquinho apertado, mas muita coisa do que aprendi com meus colegas, discutindo assuntos e lendo sobre, ajudou na própria escola na hora de estudar para os vestibulares. Se tornou forma de ver a matéria de uma maneira bem mais ampla.”
O trio também precisou criar laços também por meio das telas, já que cada um é oriundo de uma cidade diferente: Artur é de Manhuaçu, Laís de Carangola e Yasmin de Cataguases. “Ligar as câmeras para criar uma proximidade maior fez quebrar um pouco essa distância normal que existe. Então, criamos esse espaço não só para a questão acadêmica, mas também para criar conexões”, relata Yasmin.
O grupo não esperava ser representante de Minas na fase nacional da competição. Eles contam que estavam confiantes a respeito do trabalho que construíram e otimistas com o potencial que alcançaram juntos após os primeiros resultados. Mas chegar à última fase, que pode não só aumentar o número de medalhas conquistadas por eles dentro da etapa nacional, como também poderá gerar convites para que eles integrem a seleção brasileira que participará da 17th International Geography Olympiad (Igeo/2022), que será realizada em Paris (França), não estava dentro do que eles imaginavam.
Eles recomendam que mais estudantes se interessem e participem das próximas edições das Olimpíadas. “Essa participação ajuda a ter uma visão menos pragmática do conhecimento, dos estudos. Espero que nas próximas tenhamos cada vez mais equipes inscritas”, projeta Artur.
“Aconselho que todo mundo participe, principalmente em Olimpíadas dentro das Ciências Humanas, porque, despertar um olhar mais consciente para o social, ajuda a mudar a relação com o mundo em que vivemos”, diz Laís.
Já Yasmin, que pretende prestar exames de seleção para universidades no exterior, arremata dizendo que o caminho do conhecimento não só colabora para a formação profissional futura, mas também forma cidadãos mais conscientes. “Não devemos pensar cegamente só na faculdade, precisamos nos dedicar a adquirir outros conhecimentos, porque aprender nunca é pouco e pode ser uma forma de encontrar outros caminhos.”