A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher investiga o caso de uma jovem de 22 anos que foi mantida em cárcere privado por, pelo menos, 15 dias, em um imóvel localizado no Bairro Alto Eldorado, na Zona Leste de Juiz de Fora, pelo próprio companheiro, de mesma idade. A delegada Ângela Fellet, que preside o inquérito policial, informou nesta quinta-feira (31) que os familiares da vítima devem ser ouvidos nos próximos dias, assim como possíveis testemunhas que tomaram conhecimento dos fatos. O suspeito foi preso em flagrante pelo crime de cárcere privado e encaminhado ao Ceresp, onde permanece desde a noite da última quarta-feira (30), à disposição da Justiça.
Segundo a delegada, o episódio só foi descoberto após denúncias anônimas que chegaram à delegacia na última terça. “Recebemos três telefonemas de pessoas que não quiseram se identificar dando conta que a vítima estaria sendo mantida em cárcere. A equipe diligenciou até o local e constatou que, de fato, ela estava nesta situação”, afirmou. O suspeito chegou ao imóvel quando os investigadores interrogavam a jovem, sendo preso em seguida.
Ele prestou depoimento e assumiu o cárcere, alegando ciúmes. “O local onde ela foi encontrada é totalmente insalubre, desorganizado, sujo e sem nenhum tipo de cuidado. Em virtude disso, iremos apurar, no decorrer das investigações, possível ocorrência de maus-tratos.” Inclusive, a jovem teria relatado que, durante o período em que esteve sob poder do companheiro, a alimentação era precária, restrita a determinados alimentos e disse que não era sempre que tinha todas as refeições comuns a uma pessoa. “Ou seja, não era suficiente”, pontuou Ângela Fellet.
O casal se relacionava desde 2016. Entretanto, o ciúme excessivo do namorado levou a jovem a colocar fim na relação no ano passado. No entanto, fragilizada pela perda do padrasto, ela reatou o namoro, mas as ameaças e as agressões psicológicas permaneceram.
“Ele a coagia a não sair de casa”
As apurações por parte da Polícia Civil apontam ainda que há cerca de duas semanas, em decorrência do ciúmes doentio por parte do companheiro, a jovem optou por abandonar o emprego em um comércio de Juiz de Fora, assim como a graduação de educadora física. “Ela disse que fez isso para se tratar psicologicamente diante das ameaças sofridas por ele e da proibição em frequentar as aulas. Ele a coagia a não sair de casa. Caso assim fizesse, era torturada, ameaçada psicologicamente. Ela não fala sobre agressões físicas, todavia, em depoimento, o suspeito afirmou ter havido episódios de agressões mútuas”, conta a delegada.
Ainda de acordo com com a autoridade policial, a vítima possuía as chaves do imóvel e não vivia trancada, entretanto, tinha muito medo das consequências caso mantivesse uma vida normal. “Os celulares deles eram sincronizados, de forma que ele monitorava a companheira, uma vez que tinha acesso às conversas dela, às redes sociais e aos telefonemas que ela recebia e efetuava. Desse jeito, ele controlava demais a questão de ela estar dentro de casa ou ter saído”.
Após a prisão do suspeito, foi requerida medida protetiva de urgência para a jovem, mas, até o fechamento desta edição, não havia sido expedida. Para este caso, a pena de reclusão pode ser de dois a cinco anos. As investigações prosseguem a fim de apurar a prática de outros possíveis crimes durante o cárcere privado, entre eles, maus-tratos. Se a vítima ficou presa por mais de 15 dias na residência do suspeito, o crime ainda será agravado. O inquérito do caso deverá ser remetido à Justiça no prazo de dez dias, contados a partir desta quinta-feira.