*Atualizada às 16h56
O julgamento do caso do homicídio do professor Bernardo Tostes Cardoso de Paula Monteiro, 33 anos, foi retomado na tarde desta quarta-feira (31), no Tribunal do Júri, no Fórum Benjamin Colucci. O assistente de acusação, Nelson Rezende Júnior, afirmou aos sete jurados que é preciso haver justiça, uma vez que a família da vítima vem sofrendo desde 3 junho de 2012, data em que o professor foi encontrado morto na cobertura de um apartamento na Avenida Olegário Maciel, no Bairro Paineiras.
Nelson defende a tese exposta pela perita oficial de que a morte do professor teria se dado por asfixia por esganadura, dentro de um contexto de homicídio, já que a vítima tinha braços e pernas amarrados e apresentava lesões pelo corpo.
O advogado analisa agora o depoimento de um dos policiais que atendeu a ocorrência e encontrou o professor com os dois réus em cima dele. Segundo o assistente, a cena teria sido modificada para parecer que houve uma contenção da vítima, como foi a percepção do sargento da PM, quando chegou ao local do crime.
Iniciado na terça-feira (30) pela manhã e interrompido por volta das 20h, o júri foi retomado na manhã desta quarta-feira (31). Os trabalhos foram reiniciados às 9h30 de hoje, quando começou a ser ouvido um dos réus, um vendedor de 34 anos. Ele falou por cerca de duas horas e afirmou que não desejava a morte de Bernardo e que apenas tentou contê-lo, junto com a empresária, após ele ficar extremamente agitado e partir para cima deles. “Ele passou mal de repente. Nem entendemos o que estava acontecendo. Caiu deitado de lado, ficou nervoso e começou a se debater. Depois se levantou, afastou a gente, e chamamos o socorro”, disse o acusado.
Ele acrescentou que havia encontrado Bernardo na noite anterior ao crime. Durante a madrugada, teriam dado carona para a empresária na porta de uma casa noturna e, no início da manhã, foram para a casa dela, onde “passaram o dia bebendo e consumindo cocaína”.
Ainda conforme suas declarações, quando Bernardo levantou, “começou a quebrar tudo”. “Minha conduta foi me afastar. Acho que pelo fato de a casa ser dela, tentou contê-lo, e ele deu um soco nela. Ela caiu, ele a pegou pelos cabelos e tentou bater com a cara dela em um vidro. Ajudei ela a se desvencilhar dele. Com isso, ele me agrediu também. Caí e foi aquela confusão. Pedi que tirasse meu cinto, e ela colocou nas pernas dele. A blusa dela tinha saído nas mãos dele. Ela pegou e colocou a blusa em volta das mãos dele.”
O vendedor disse que a situação demorou “uma eternidade” e negou ter desferido um golpe de mata leão na vítima, como contaram os policiais militares que efetuaram as prisões em flagrante. A necropsia também apontou marcas de esganadura no pescoço do professor. “Nunca pratiquei artes marciais. Não lutei com ele. Apenas tentei contê-lo.”
O acusado ainda disse que Bernardo jogou uma televisão na direção deles e tomou de suas mãos uma cadeira de madeira que pegou para se defender. “Ele quebrou, pegou uma ripa de uns 40 cm e bateu contra ela.” O vendedor também disse não se recordar como havia uma mesa de madeira rústica em cima da vítima. “Acredito que foi ela quem colocou, no intuito de ele não se levantar.” Questionado sobre seu sentimento em relação ao ocorrido, ele afirmou ser de “tristeza”: “Jamais gostaria de passar por tudo isso de novo.”
A outra acusada
Por volta de 11h20, a outra acusada, uma empresária de 42 anos, na época moradora do imóvel, começou a ser ouvida, mas seu depoimento foi interrompido, por volta das 13h, para almoço. Na primeira parte, ela foi inquerida pelo juiz Paulo Tristão e pelo promotor Oscar Santos de Abreu. A mulher disse ter encontrado com Bernardo e o vendedor na porta da casa noturna, quando estava prestes a pegar um táxi. “Eles me chamaram para tomar uma cerveja, mas não encontramos nenhum bar aberto. Então compramos algumas e fomos para minha casa.”
Ela negou ter consumido drogas em excesso e afirmou ter experimentado cocaína pela primeira vez naquele dia.
Já no início da noite, Bernardo teria voltado após ter sido levado em casa pelo vendedor para tomar banho. “Eles chegaram com umas quatro cervejas. Mas nem deu tempo de tomá-las. Foi uma cena horrível. Ele caiu com os olhos revirando e a língua enrolando.”
A empresária afirmou não saber o que fazer. “Depois ele se levantou em fúria. Parecia um bicho. Me deu um soco no olho esquerdo. Fiquei atordoada a achei que tivesse sido uma paulada”, justificou ela, ao ser questionada sobre uma contradição no processo. “Ele me espancou dos pés à cabeça. Estava completamente fora de si. Tudo o que tinha (na sala) foi quebrado.”
Sobre as múltiplas lesões sofridas pelo professor pelo corpo, a acusada disse não terem sido fruto de agressões. “Ele caiu e escorregou várias vezes. E tinham muitos cacos de vidro pelo chão. Não houve agressão. Acho que o corpo dele entrou em colapso, choque, não sei.”
Ela afirmou que o vendedor retirou seu próprio cinto e a entregou para que colocasse nas pernas da vítima. “Ficamos com medo de ele ter um novo ataque.” A mulher acrescentou que nunca teve relacionamento amoroso com os envolvidos e que os conhecia superficialmente.