No último domingo (28), a Tribuna publicou uma reportagem apresentando os planos da Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) para a região da Cidade Alta, após a finalização das obras na BR-440. Um projeto em andamento na pasta planeja transformar a Rua José Lourenço Kelmer, a Avenida Presidente Costa e Silva e a rodovia em um binário, alterando a mão de algumas vias e implantando semáforos para assessorar o tráfego em determinados pontos. A reportagem conversou com especialistas para discutir a proposta da Settra e quais os possíveis impactos para região após sua implementação, estimada para acontecer até setembro de 2020.
Há mais de dez anos, o professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), José Alberto Castañon, havia doado à Prefeitura um projeto de circulação urbana para a Cidade Alta, que constituía na criação de binário entre a Avenida Presidente Costa e Silva e a Rua José Lourenço Kelmer, além da Avenida Pedro Henrique Krambeck, paralela à BR-440. Conforme o especialista, o esquema era diametralmente oposto ao que a Settra planeja implantar, cuja ideia é transformar a Rua José Lourenço Kelmer e a Avenida Presidente Costa e Silva em vias de mão única, com o trânsito no sentido do Centro/bairro.
Quando o projeto foi idealizado, entretanto, não se sabia qual seria o uso da rodovia. Na proposta de Castañon, não haveria cruzamento no Pórtico Norte da UFJF. “Quando o veículo for acessar a universidade, vai entrar em conflito com o que está saindo e vai para o outro lado. A proposta da Settra está sendo na chamada ‘mão inglesa’, e os nossos carros são com volante do outro lado, então esses cruzamentos geram conflitos”, explica. Ainda segundo o professor, a possível implantação de semáforo na entrada da UFJF é questionável, considerando que já houve tentativa anterior de semaforização no local, mas a mesma não foi bem-sucedida.
Castañon destaca que é necessário conhecer o projeto mais afundo para avaliá-lo, entretanto, para o especialista, a Cidade Alta precisa de modificações no trânsito. “A região está conturbada com o tráfego, que está muito pesado, principalmente na época em que a universidade funciona”, explica. “A princípio, é uma mudança bem-vinda, uma coisa que precisa ser feita. São Pedro não está suportando mais o tráfego.”
‘Custo irrecuperável’
A BR-440 foi planejada para atuar como um corredor de tráfego entre as rodovias BR-040 e a BR-267, na Avenida Brasil. Em 2012, quando 44% dos trabalhos já estavam prontos, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou indícios de irregularidades no contrato firmado entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e a Empa S/A Serviços de Engenharia. Na época, a construção parcial da estrada, entre a Represa de São Pedro e o campo do Nova União, havia custado aos cofres públicos R$ 58,1 milhões. Uma nova concorrência pública foi realizada em 2015, sendo que a mesma empresa venceu o certame por R$ 44,06 milhões.
Os altos valores investidos nas intervenções e a falta de resultados caracterizam o que o ramo da economia chama de “custo irrecuperável”, de acordo com o engenheiro especialista em planejamento de transporte urbano Luiz Antonio Moreira. Desta forma, o projeto de trânsito para a região, envolvendo a rodovia, pode auxiliar o deslocamento pela região. “O custo da obra da BR-440 envolveu, inclusive, canalização de córrego, então não foi uma obra barata, e é uma obra que não trazia benefício nenhum ao município”, diz Moreira. “Acho que a Prefeitura tem, realmente, que pegar o que já foi feito e colocar aquilo a serviço da população.”
O especialista lembrou que, em dias de provas de concurso ou vestibular, como do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism/UFJF), a Rua José Lourenço Kelmer costuma ser alterada para mão única, no sentido universidade/Centro. De acordo com Moreira, uma contagem volumétrica do trânsito local deve justificar o plano da Administração municipal. “A Settra tem subsídio para definir. Se essa é a melhor alteração que está propondo, é porque deve ter algum dado que justifique isso. De todo jeito, alguma serventia teria que ser dada à obra da BR-440.”
Retenções
A implantação de um binário na região pode acarretar circuitos maiores para realização de retornos. Entretanto, de acordo com o engenheiro, as modificações são justificadas pelo aumento da capacidade das vias, favorecendo, assim, o fluxo de veículos, especialmente no Pórtico Norte da UFJF, considerada por Moreira o “maior polo gerador de tráfego” da região. “Você tem, diariamente, uma retenção nos períodos de maior carregamento na Lourenço Kelmer e Costa e Silva. Essa retenção vai ser minimizada, ou até, torcemos, para que seja eliminada, mas isso requer, então, que você ande um pouco mais de carro para fazer os acessos.”
Já o semáforo que poderá ser implantado no acesso à Universidade, na opinião do especialista, pode auxiliar o trânsito, diferente da outra circunstância em que o ponto recebeu sinalização semafórica. “Nós temos uma rotatória operando no acesso norte da Universidade, e a rotatória significa que você pode fazer todos os movimentos que imaginar, porque as duas vias são de mão dupla. Agora que não serão mais, é uma operação semafórica mais simples, então eu acredito que o semáforo pode auxiliar bastante.”
Modificações
Além da transformação da Rua José Lourenço Kelmer e da Avenida Presidente Costa e Silva em vias de mão única, o projeto a ser implantado pela Settra após a finalização das obras na BR-440 prevê, ainda, que a rodovia terá mão dupla. O pórtico norte da UFJF e o entroncamento da BR-440 com a Rua José Lourenço Kelmer poderão contar com semaforização. Já a rua paralela à rodovia será utilizada como retorno para o condutor que deseja acessar a Rua José Lourenço Kelmer.