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Movimento pede inclusão de lactantes no grupo prioritário da vacinação

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O movimento nacional para incluir mulheres que amamentam no grupo prioritário de vacinação contra Covid-19 tem ganhado força.

Nas redes sociais, a campanha alcançou mais de 23 mil seguidores. Em Juiz de Fora, a Associação de Doulas, juntamente com profissionais da área e lactantes, pedem que a inclusão ocorra no município. Paralelo a este movimento, a Câmara Municipal aprovou o requerimento que solicita à Prefeitura a inserção das lactantes no grupo prioritário de vacinação contra a Covid-19 no município.

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De acordo com o levantamento realizado pela organização global de saúde pública Vital Strategies, cerca de 1,6 mil bebês de até 1 ano morreram por Covid-19 no Brasil desde o início da pandemia. Em Minas Gerais, o número de óbitos chegou a 84, conforme o mesmo estudo. A pesquisa foi feita com base nos dados disponibilizados pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsável por fazer a notificação de casos de internação por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Vale ressaltar que, no boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde, o Brasil registrou cerca de 550 mortes.

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A pedido da Tribuna, a pesquisadora Fátima Marinho, epidemiologista da Vital Strategies, disponibilizou os dados de mortes de bebês de até 1 ano, no período de 2020 a abril de 2021, no estado de Minas Gerais, que seria de 84. As mortes divulgadas pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES) correspondem apenas a 30,95% do total levantado em comparação com o estudo, totalizando 26 óbitos.

Conforme a pesquisadora, a falta de testagem ou a aplicação de testes muito tarde são os principais motivos que explicam a discrepância dos dados fornecidos pelo Ministério da Saúde e a SES em relação aos obtidos no levantamento da organização. “As crianças continuam sendo pouco testadas, dessa maneira, não ocorre o diagnóstico da Covid em crianças e seguem alimentando o mito de que a criança não tem Covid e, portanto, não tem risco”, explica a Dra. Fátima.

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Preocupação de mães

O fato de não existir previsão em relação a vacinação contra Covid-19 em bebês e crianças, intensifica a preocupação das mães, que enxergam na vacinação das lactantes um meio para proteger seus filhos. Carolina Silva, jornalista e mãe de um bebe de 8 meses, está trabalhando em home office e só sai de casa com seu bebê para compromissos de saúde dele. “É uma situação muito estressante e desgastante para nós que temos bebês, porque nossos meios de proteger nossos filhos da Covid são muito limitados. Fico sempre muito nervosa ao sair com ele porque ele está totalmente exposto ao coronavírus, já que ele, por ser um bebê, não pode usar máscara”, ela relata.

A mãe de primeira viagem de uma bebê de 1 ano e dois meses, Karina Frias, compartilha das mesmas ansiedades e inseguranças que Carolina. “Esperaria tranquilamente chegar a minha vez se eu não fosse lactante. Mas nesta situação, como fica minha filha? Ela continua vulnerável e não entende, por exemplo, que não pode tocar nas coisas no consultório médico e em seguida colocar nos olhos e boca. Quando saiu os estudos que o leite materno da mãe vacinada passa anticorpos da doença para os bebês, meu coração encheu de esperanças”.

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Por isso, Karina decidiu entrar para o movimento nacional, como uma das representantes da cidade de Juiz de Fora. “Eu posso proteger minha filha e muitas mães podem proteger seus filhos também”.

Segundo a epidemiologista Fátima Marinho, se a população de gestantes, puérperas e lactantes fossem vacinadas, a chance do bebê conseguir a imunização seria grande. “Vacina é sempre pensada em termo de imunidade coletiva. Se pensarmos em termos de população de lactentes, nós esperamos que a proteção seja estendida ao bebê através do leite materno. Não necessariamente vai ocorrer para todo mundo, mas vai ocorrer para a maioria”.

Karina Frias decidiu entrar para o movimento nacional que pede inclusão de lactantes nos grupos prioritários após ver resultados de estudos (Foto: Fernando Priamo)

Campanha ganha destaque nas redes sociais e incentiva mães a reivindicarem vacinação

Mesmo sem se conhecerem, mães de diversos municípios do país se viram unidas por uma causa em comum. A #umavacinaprotegedois, criada por Amanda Oliveira, odontopediatra e estudante de aleitamento materno, viralizou nas redes sociais. Com um alcance de mais de 38 mil em seu Instagram profissional, a publicação, que buscou dar voz a essa demanda, chegou a seis mil compartilhamentos. “A postagem foi minha, mas a campanha é de todas as lactantes que lutam pela causa. Nós não queremos passar na frente de outras prioridades, mas queremos ser prioridade, queremos entrar na fila, por motivos técnicos e sociais também”, afirma Amanda.

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A ideia do post promovendo uma campanha de vacinação das lactantes surgiu por meio de conversas com as suas seguidoras e discussões nos grupos de mães que ela participa.

“Quando eu soube que já havia cidades como Rio e Petrópolis aprovando a vacinação de lactantes, usei esses exemplos no meu post. Quero mostrar que é possível brigar por isso a nível local”.

Atualmente, o movimento nacional de maior repercussão se concentra no Instagram @lactantespelavacina, utilizando as #lactantespelavacina e #vacina1protege2 para que essa demanda seja atendida em diversos municípios.

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Representantes de JF

Em Juiz de Fora, o movimento segue representado por Karina Frias e a estudante de educação física Patrícia Alvim. Elas promovem debates sobre o tema e divulgam informações de âmbito nacional e municipal. A Associação de Doulas de Juiz de Fora (ADJF) também apoia a causa. “O trabalho das doulas é baseado em evidências científicas, na humanização do parto e nascimento e na busca da garantia de direitos das mulheres e crianças, então nosso apoio ao movimento, independente de regional ou nacional, foi consequência das bases do nosso trabalho”, explica a diretora de comunicação da ADJF, Thais Fernandes.

De acordo com a organização, a medida também seria um incentivo ao aleitamento materno, já que a média de tempo de amamentação integral no Brasil é de apenas 54 dias. “Conforme Estatuto da Criança e do adolescente (ECA) toda criança tem direito a saúde e entendemos que uma mãe que amamenta está oferecendo saúde em forma de nutrição através do leite materno. Sendo assim, lactantes vacinadas são mais uma forma de garantir saúde a esses bebês”, completa.

“Eu posso proteger minha filha, e muitas mães podem proteger seus filhos também”, avalia Karina, mãe de bebê de 1 ano e dois meses (Foto: Fernando Priamo)

Esforços do movimento geram discussões na Câmara Municipal de Juiz de Fora

O movimento lactantes pela vacina solicitou o apoio dos vereadores da cidade por meio da visibilidade atingida nas redes sociais. Dessa forma, o plenário da Câmara Municipal de Juiz de Fora aprovou e enviou o requerimento que solicita a inclusão das lactantes no grupo prioritário de vacinação contra a Covid-19 no município à Prefeitura. Há três mobilizações em andamento por parte dos vereadores, uma do vereador Bejani Jr (Podemos), outra do vereador Marlon Siqueira (PP) e outra da bancada feminina da Câmara – composta pelas vereadoras Tallia Sobral (PSOL), Laiz Perrut e Cida Oliveira (PT) e Kátia Franco Protetora (PSC) – , estão se movimentando para garantir que a demanda seja atendida.

Cuidados necessários para a proteção do bebê

Procurado pela reportagem para esclarecer algumas dúvidas sobre a possibilidade de imunização dos bebês através do leite materno, o pneumologista pediátrico e professor Henrique Binato explicou que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) não recomenda o uso de máscaras em crianças menores de 2 anos, devido ao risco aumentado de sufocação e incapacidade motora de retirarem com segurança a máscara em caso de desconforto respiratório. Dessa forma, as possibilidades dos bebês se protegerem do vírus são reduzidas. No entanto, segundo ele, a maneira mais eficaz de prevenir o contágio da doença é higienizando constantemente as mãos e realizando o isolamento social, se possível.

“A princípio, crianças filhas de mãe e pai que não estão infectados devem receber os cuidados habituais. Durante o parto, ou seja, o período dentro do hospital, todas as medidas de proteção para os pais e profissionais de saúde devem ser aquelas já preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). O menor número de pessoas dentro da sala de parto, não receber visitas e fazer a higiene das mãos são fundamentais”, acrescenta o Henrique Binato.

A transmissão ocorre da mesma forma que para os adultos, ou seja, contato pessoa-pessoa através de gotículas e micropartículas que contém o vírus por espirros e tosse, bem como levando à boca, olhos, nariz do bebê ou por meio de mãos que possuam partículas do SARS-CoV-2. O médico afirma que a transmissão vertical, ou seja, pela placenta através do cordão umbilical é pouco comum, assim como é bastante improvável que passe pelo leite. Os sintomas variam, sendo o predomínio de sintomas nasais, como espirros, nariz entupido e coriza. Há casos mais graves da doença, como pneumonia, entre outras, mas são exceções. Segundo Henrique Binato, a grande maioria dos bebês são assintomáticos.

Nas situações em que a mãe é contaminada pelo coronavírus, mas esteja clinicamente bem, a orientação é que o aleitamento prossiga. Caso a amamentação não seja possível a ordenha do leite da mãe e a oferta para o bebê na colher ou copo adequados, com a devida higiene em todo o processo é uma opção. “Se a mãe está clinicamente bem, apta a ficar em casa e não havendo necessidade de estar internada, ela deve usar máscara em todo o momento em que ficar próxima ao bebê (e sempre que estiver no mesmo cômodo que qualquer outra pessoa) e evitar ao máximo ficar a uma distância menor que 1,5 metro do bebê. Outra recomendação fundamental é lavar as mãos com água e sabão ou álcool gel antes de tocar nas crianças. As trocas de fraldas, banho, colo e outros cuidados devem ser feitos, preferencialmente, por outra pessoa que não esteja com COVID-19 ativa. Estas pessoas devem também fazer a higienização das mãos e usarem máscaras quando estiverem próximas ao bebê, já que podem ter sido também contaminadas.”

“Vivemos uma pandemia gravíssima, de impacto sanitário, social, psicológico e econômico incalculáveis. Qualquer pessoa que não possua contraindicação às vacinas deve recebê-la. Com as lactantes não é diferente, especialmente aquelas que estão no puerpério e/ou possuem alguma comorbidade. E, mães vacinadas se tornam uma barreira extra de proteção para os bebês”, finaliza.

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