Juiz de Fora está entre as dez cidades brasileiras, com mais de cem mil habitantes, com os menores percentuais de crianças em relação ao número de moradores, de acordo com levantamento realizado pelo jornal Valor Econômico. A cidade ocupa a sétima posição no ranking das que possuem população mais baixa, considerando a faixa de 0 a 14 anos. O levantamento do Valor Econômico se baseou nos dados do Censo 2022, divulgados nesta sexta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto a população de crianças demonstra redução em comparação com o Censo de 2010, a de idosos vem crescendo. Especialistas ouvidos pela Tribuna analisam os desafios para Juiz de Fora em relação ao envelhecimento da população.
Conforme o Censo de 2022, Juiz de Fora conta com 85.872 de habitantes de 0 a 14 anos. Esse número representa quase 16% da população total da cidade, de 540.756 pessoas, e coloca Juiz de Fora em sétimo lugar no ranking das cidades com menor percentual de crianças. Em 2010, o município tinha 98.777 crianças de 0 a 14 anos, o equivalente a 19% da população total na época, de 516.247 habitantes.
Enquanto o número de crianças cai, o de idosos aumenta na cidade, indicando uma mudança do perfil populacional. O Censo de 2022 mostra que Juiz de Fora tem 109.366 habitantes acima de 60 anos. O número significa 20% do total. Já o Censo de 2010 mostra que esse grupo era formado por 70.065 – 13% da população total da época.
93 habitantes com 100 anos ou mais
Dados do Censo 2022 ainda mostram que 93 habitantes de Juiz de Fora têm 100 anos ou mais. A maioria das pessoas nessa faixa etária é do sexo feminino, sendo 73 mulheres e 20 homens. O levantamento também aponta que as mulheres representam 53% da população do município, o que corresponde a 286.596 pessoas, enquanto o número total de homens é de 254.160.
A maior parte da população da cidade é composta por adultos. Segundo o Censo 2022, 313.120 pessoas com idade entre 20 e 59 anos vivem na cidade. Em sequência, vem a população idosa com 109.366 habitantes.
Queda de fecundidade e maior qualidade de vida levam a envelhecimento populacional
De acordo com o doutor em Demografia e professor do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Reinaldo dos Santos, como uma cidade de porte médio, Juiz de Fora possui uma dinâmica migratória que atrai pessoas em idade de trabalho. Além disso, o município tem apresentado uma queda de fecundidade, ou seja, o número médio de filhos que uma juiz-forana teria ao longo de seu período reprodutivo é cada vez menor. Isso leva, consequentemente, a uma queda no número de nascimentos que, conforme o especialista, já vem acontecendo há mais de dez anos. Esses fatores contribuem para que a população adulta, hoje, seja maior, mas levam também ao processo de envelhecimento da população.
“Um componente é a qualidade de vida que nós temos no Brasil e principalmente nas cidades médias. Vale lembrar que Juiz de Fora é uma cidade polo em saúde e temos várias facilidades no município. As pessoas vão para Juiz de Fora e permanecem em Juiz de Fora para aproveitar essas facilidades, então, nós temos uma qualidade de vida maior, o que faz com que se viva mais. Por outro lado, nós temos uma redução da proporção de jovens. Proporcionalmente, os idosos vão aumentar de tamanho. Então, esses dois efeitos, queda de fecundidade e envelhecimento populacional, é que são os motores dessa mudança.”
Desafios e oportunidades
O especialista, que também é vice-coordenador do Comitê Nacional de Projeções e Estimativas Demográficas (CPED), aponta que o cenário de envelhecimento traz oportunidades e desafios. Uma das oportunidades, por exemplo, está relacionada à elevação da qualidade do ensino. Isto porque, com o número de jovens diminuindo e o investimento em educação se mantendo, no futuro, pode haver adultos mais qualificados. “Existe um anseio: se eu tenho menos jovens, então eu posso economizar. Não, pelo contrário. Se eu tenho menos jovens, eu posso gastar a mesma quantidade de orçamento para um número menor de crianças, o que implica em uma melhor qualidade do ensino.”
Já o desafio está relacionado a atender as necessidades que a população idosa apresenta, seja em saúde, segurança e mobilidade urbana. “Nós temos que moldar os espaços públicos e os serviços públicos para atender essa população cada vez mais envelhecida, que busca qualidade de vida. Isso requer não somente saúde pública, mas também lazer, que é um ponto importante, bem como outras atividades.”
Para o pesquisador, é importante que as políticas públicas dêem uma atenção especial a população idosa de baixa renda. “Esse público é muito crítico e merece muita atenção do Poder Público, porque é uma população extremamente vulnerável e é vulnerável duas vezes, não só pela sua condição socioeconômica, mas por estar numa faixa de idade em que você tem várias demandas de saúde e dificuldades, muitas vezes, de locomoção.”
Adequação de espaços públicos
O envelhecimento populacional traz consigo reflexões sobre a relação da pessoa idosa com o espaço urbano. Coordenador do grupo de pesquisa “ID – Envelhecimento, acessibilidade e lugar” e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFJF, Emmanuel Pedroso, explica que o município, assim como grande parte do país, apresenta aspectos que necessitam melhorar para tornar a cidade “amigável” à pessoa idosa, seja no deslocamento pela cidade ou mesmo na oferta de serviços e adequação dos espaços públicos.
“Dentre elas, podemos destacar, por exemplo, a questão da mobilidade urbana pelo transporte público e também outras formas de deslocamento das pessoas no espaço urbano. Nós temos vários problemas referentes, por exemplo, às calçadas da cidade, no que diz respeito a construção, material inadequado e problemas de conservação. Tem também a questão das travessias, pois infelizmente verificamos vários episódios de atropelamentos de idosos no nosso município”, exemplifica.
Conforme Pedroso, para além das questões técnicas, há também a necessidade de ações de conscientização da população em relação aos direitos da pessoa idosa. “O contexto existente na cidade torna ainda mais urgente que essas ações sejam realizadas, tanto no que diz respeito a adequação dos espaços e demandas do idoso, quanto a criação de oportunidades e outros movimentos de conscientização, que incentivem a discussão e a reflexão sobre o envelhecimento da população”, diz. “O respeito, a difusão e o conhecimento acerca dos direitos da pessoa idosa são extremamente urgentes e precisam ser realizados para que a gente reverta esse quadro e tenha, como eu disse, essas barreiras superadas.”
Presidente do IBGE participa de evento da UFJF
O economista e presidente do IBGE, Marcio Pochmann, irá participar do 3º Seminário Nacional do Comitê de Projeções e Estimativas Demográficas (CPED), que será sediado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) a partir da próxima segunda-feira (30). O tema do evento, que acontece até quarta-feira (1°), é: “Censo 2022 e os desafios para a produção de estimativas e projeções demográficas”.
“Após um período de 12 anos sem os números censitários, o Censo 2022 representa um avanço extraordinário – e essencial, no contexto apresentado – para os estudos demográficos, para a ciência em geral e para os Governos, diante a oportunidade de se realizar estudos que analisem o impacto da pandemia na dinâmica populacional e nas características sociodemográficas da população”, afirma o vice-diretor do ICH e professor do Departamento de Geociências, Wagner Batella, por meio da UFJF.
A programação contará com palestras, mesas-redondas, apresentações em sessões temáticas, além de workshops para alunos de graduação e pós-graduação. O objetivo é promover a colaboração entre os participantes e aprimorar a pesquisa na área de estimativas e projeções. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas por meio de formulário on-line, até o domingo, 29 de outubro.
O presidente do IBGE participará da cerimônia de abertura na segunda-feira, a partir das 13h15, no Anfiteatro 1 do Instituto de Ciências Humanas (ICH). Na sequência, será realizada a palestra “Censo 2022 em perspectiva: avanços e desafios à luz dos primeiros resultados e análises, produzidos pelo IBGE” com o gerente técnico do Censo 2022, Luciano Tavares Duarte, e o vice-diretor do Instituto de Ciências Exatas (ICE) da UFJF, Marcel Vieira.