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Tráfico e consumo de drogas afastam população juiz-forana da Praça do Riachuelo

praca riachuelo
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Uma situação que perdura ao longo dos anos e é considerada, para quem mora em Juiz de Fora, um desafio a ser resolvido. A Praça do Riachuelo, uma das principais da região central, apesar de várias intervenções já realizadas no espaço, continua existindo como um ponto nevrálgico no coração da cidade. A ocorrência de conflitos afasta a população, fazendo do local apenas um lugar de passagem para a maioria. O que permanece são pessoas que se dividem em grupinhos para consumir bebida alcoólica ou drogas, como o crack. O Monumento das Armas, mesmo sendo cercado com grades, não escapa da invasão. Em plena tarde de qualquer dia da semana é possível observar pessoas fumando crack, como apontam pedestres e trabalhadores da região. E ainda que esse tipo de situação seja apontado por alguns, esse cenário é quase que invisível aos olhos de muitos. Essa invisibilidade só é quebrada quando acontece uma briga entre os membros dos grupos que permanecem na praça ou quando ocorre algum conflito da parte deles com alguém que entrou no local sem saber como funcionam as “regras” daquele ambiente.

(Foto: Redes Sociais)

No dia em que a reportagem esteve na praça, permanecendo lá por quase quatro horas, um dos homens, que fazia parte do grupo instalado no Monumento das Armas, fez ameaças porque não queria que fotos fossem feitas no local. Em pesquisa realizada pela Tribuna junto ao sistema de Registro de Eventos de Defesa Social, que permite o registro dos boletins de ocorrência de todos os órgãos de Defesa Social, entre maio e julho deste ano, pelo menos 30 registros foram encontrados envolvendo a Praça do Riachuelo. Eles referem-se a casos de tráfico de drogas, porte ilegal de arma branca, furto, receptação, roubo e lesão corporal.

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Nesta terça-feira (28), uma operação da Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada de Combate ao Narcotráfico, realizou a prisão de cinco pessoas por tráfico de drogas e associação para o tráfico no local. Um vídeo que circulou pelas redes sociais, nesta semana, mostra, pelo menos, dez pessoas no Monumentos das Armas, fazendo uso de crack. A fim de tentar resolver essas questões e mudar esse cenário que afugenta as pessoas, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) quer revitalizar o logradouro. Um projeto, que será executado com verbas de emendas parlamentares enviadas pelo deputado federal Charlles Evangelista (PSL), está em andamento e, segundo edital publicado no site da PJF, a abertura da licitação ocorrerá no próximo dia 6. Como justificativa para a reforma do local, o edital destaca a necessidade de proporcionar à comunidade um ambiente agradável e seguro, “uma vez que este espaço é de extrema importância para o Centro da cidade de Juiz de Fora”. O valor da contratação está estimado em R$ 1.432.578,42, e o prazo da execução dos serviços será de 12 meses.

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Monumento das armas, onde Polícia Civil agiu na tarde desta terça, é um dos pontos comumente utilizados por usuários de drogas, como o crack; sujeira chama atenção de quem passa pelo local (Foto: Redes Sociais)

Ameaças a pedestres

Moradora do Bairro Milho Branco, Cleyde das Neves utiliza o ponto de ônibus que fica em frente à praça, na Rua Jarbas de Lery Santos. “Diariamente, quando fico aqui esperando minha condução, vejo gente consumindo bebida ou fumando crack. E isso já dura muitos anos. Infelizmente, acho muito difícil de resolver”, afirmou. Outra usuária do transporte público coletivo, que também aguardava no ponto de ônibus, Jane de Freitas Aguiar, do Bairro Jardim Natal, apontou: “Essa é uma situação muito triste, porque essas pessoas ficam aqui se acabando na bebida ou nas drogas. Já vi mulheres com criança de colo no meio dos grupos. Sem falar que, quando estamos aqui no ponto, somos abordados por pessoas que pedem dinheiro e, se recusamos, somos até ameaçados.”

Um comerciante, que trabalha nas proximidades e preferiu não dizer o nome, afirmou que acabar com esse tipo de situação no local é um desafio para as administrações públicas. “Vi obras sendo realizadas, anúncios de projetos de revitalização e, apesar dessas intervenções, esse cenário não muda. É de longa data e muito triste também, porque sabemos que essas pessoas precisam de apoio, de programas assistenciais para deixarem essa vida. Só criminalizá-las não é a solução”, pontuou. Segundo ele, como a área tem a sua imagem repercutindo de forma negativa, os consumidores também se afastam dos estabelecimentos comerciais. “Isso é uma pena muito grande, porque estamos no Centro da cidade, onde passam milhares de pessoas. Isso era para ser um privilégio, não um transtorno”, desabafou.

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Os problemas apontados nos relatos não são diferentes de quando a Tribuna esteve na praça em 2018. Porém, naquela época, havia um clima de esperança, uma vez que se iniciava, a partir de ações públicas e privadas, uma série de melhorias no logradouro. Como foi publicado no jornal, o Condomínio do Edifício Santa Cruz Shopping fez a doação de quatro refletores de luz ao Poder Público para instalação no Monumento das Armas, além de providenciar a pintura e a melhora da grade que cerca a edificação. Já a Prefeitura, na época, realizou a revitalização da iluminação pública da Rua Jarbas de Lery Santos, com a instalação de lâmpadas a vapor metálico de 400 watts. O objetivo era integrar a via à Praça do Riachuelo e ao Shopping Santa Cruz, tornando o trecho mais seguro e iluminado, uma vez que tem grande circulação de pessoas e conta com pontos de ônibus.

Quem passa pela Praça do Riachuelo identifica pessoas, divididas em grupos, consumindo bebidas alcóolica e drogas, como crack. Mesmo cercado, Monumento das Armas não escapa da invasão (Foto: Redes Sociais)

Prejuízos para todos

O administrador do Condomínio do Santa Cruz Shopping, Luciano Rodrigues Sobrinho, afirmou à Tribuna que a situação mostrada pela reportagem representa prejuízos, não apenas para o shopping, uma vez que afasta consumidores, mas para toda a população que transita por aquela área. “Estamos fazendo reuniões com as polícias Militar e Civil, Guarda Municipal e outras secretarias da Prefeitura em busca de providências, no sentido de contribuir para minimizar essa situação”, ressaltou.

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Segundo ele, o condomínio possui uma câmera de vigilância que consegue dar um zoom de setecentas vezes até a parte de fora do empreendimento. “Então, vemos, nitidamente, que o problema é a venda de crack e de outras drogas. Essas pessoas que ficam ali fazem a monetização com os transeuntes e arrecadam o dinheiro, para depois comprar droga ou bebida alcoólica, e esses usuários permanecem dentro da praça. Eles já colocaram fogo lá, já queimaram o refletor que o shopping colocou e danificaram a estrutura elétrica. Assim, eu pergunto, onde vamos chegar”, desabafa.

Na visão de Rodrigues, é preciso que o Poder Público dê andamento ao projeto de revitalização da praça. “É preciso urgência, porque teve uma semana que houve um tiro lá e eles correram para dentro do shopping. Então, o que o Poder Público está esperando para começar. Se o shopping fechar, o Poder Público deixa de arrecadar impostos, principalmente, IPTU”, destaca.

O administrador pontua que as providências para a solução dessa situação se arrastam por diversas administrações. “Se essa reforma for adiante, a população volta para a praça, porque existe projeto que prevê adequação de piso, espaço para instalação de food truck e de um café, espaço para realização de eventos, como exposições. Será um grande ganho para a cidade com um todo”, avalia.

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PJF diz que acompanha a situação

De acordo com a Prefeitura, as questões apontadas na reportagem vêm sendo acompanhadas de perto pela Administração municipal. “Trata-se de um problema complexo de ordem social, que envolve a ocupação do espaço público e as pessoas em situação de rua. A abordagem social da Secretaria de Assistência Social está presente na Praça Riachuelo todos os dias fazendo identificações, orientações, ofertas e conduções para os serviços disponibilizados pelo Município, como o Centro Pop”, ressaltou em nota.

Conforme pontuou a PJF, na última quinta-feira (23), foi realizada, na praça, uma operação chamada Segurança Cidadã junto com a Polícia Militar, já como resultado da integração dos atores envolvidos: Secretaria de Assistência Social, Secretaria Especial de Direitos Humanos, Secretaria de Segurança Urbana e Cidadania, forças policiais, representantes do setor produtivo e empresários locais. “Essa operação disponibilizou, em um único espaço, acesso aos usuários da praça ao sistema de confecção de segunda via de documentos, sem a necessidade de peregrinação por diversos serviços. Foram feitos atendimentos simplificados, com entrega imediata de comprovantes de documentação. Foto e corte de cabelo gratuitos foram garantidos aos interessados”, afirmou.

Sobre a zeladoria, segundo a Prefeitura, foram realizados serviços de poda e troca de lâmpadas. “Além disso, a equipe de varrição atua no local de domingo a domingo. Já a equipe de lavação atua uma vez por semana”, informou. A respeito da revitalização da praça, a PJF destacou que o projeto está em processo de licitação.

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PM realizou 34 prisões entre agosto e setembro

A Polícia Militar, por meio da assessoria de comunicação do 2º Batalhão (2BPM), informou que vem desenvolvendo várias ações no local para prevenir as ocorrências de crimes. Ainda ressaltou que, nos meses de agosto e setembro, foram realizadas, ao todo, 34 prisões por diversos motivos, como tráfico de drogas, uso de drogas, prisão por porte de arma branca, lesão corporal e roubo, dentre outros. A PM também enfatizou que, na última semana, realizou uma ação social em parceria com a Polícia Civil, o Santa Cruz Shopping e a Prefeitura Municipal, oferecendo diversos serviços à comunidade. “Várias outras ações estão sendo programadas por parte do 2BPM”, reforçou a assessoria.

Operação da Polícia Civil prende cinco

Uma ação da Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada de Combate ao Narcotráfico, prendeu em flagrante cinco pessoas, na Praça do Riachuelo, pelos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico. A operação foi desencadeada, na tarde desta terça-feira, após 40 dias de investigação.

De acordo com o delegado Rafael Gomes, que comanda a equipe, esse trabalho teve o objetivo de identificar e qualificar as pessoas que estavam realizando o tráfico de drogas no local. “Após esses levantamentos, foi deflagrada uma operação com abordagem de todos os suspeitos, sendo realizadas oito conduções de pessoas para a delegacia, sendo cinco com flagrante ratificado pelo crime de tráfico de drogas e associação ao tráfico.”

Segundo ele, essas cinco pessoas se dividiam entre os que faziam a função de olheiro, de recolhimento de dinheiro e de ir buscar as drogas para fazer a revenda aos usuários que ficavam na praça. “Essa ação foi importante, uma vez que tivemos que diferenciar as pessoas que estavam em situação de rua e aquelas que estavam no local para traficar”, lembrou, acrescentando que o movimento de tráfico de drogas gerava outros crimes no logradouro, como furto e roubo. “Tanto que a maioria dos indivíduos que foram conduzidos já tinha passagens por crimes de roubo, furto e tráfico de drogas”, afirmou Rafael Gomes.

“Caso o tráfico de drogas permaneça na Praça do Riachuelo, as ações serão recorrentes e aqueles que forem identificados realizando o tráfico de drogas serão presos”, ressaltou, lembrando que as ações serão continuadas. Ele destacou a sujeira existente no local, gerando a existência de diversos animais, como ratos, pombos e baratas, bem como objetos usados pelos indivíduos para o cometimento de roubos. “Além de ser uma questão de saúde pública, com a presença de animais, tornando o ambiente insalubre. Também foi constatado o crime de dano ao patrimônio público com o incêndio da placa de identificação do local.”

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