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Passeando pela América, ciclistas argentinos visitam Juiz de Fora

ciclistas leo
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De dentro de uma lata, Natália Alvarez, 33 anos, retira fotografias impressas em postais com paisagens de tirar o fôlego. Cada uma das imagens contém uma memória e ajuda a contar a história da viagem que ela e Guillermo Romero, 29, fazem há um ano pela América do Sul.

Eles saíram em suas bicicletas da cidade de Mendoza, onde moram na Argentina, e, depois de passar pelo Uruguai e por boa parte do Sul e do Sudeste no Brasil, chegaram esta semana a Juiz de Fora e devem ficar por aqui até o dia 20 de outubro, quando continuam a viajar por Minas, com o objetivo de alcançar a Bahia. Essa é a segunda viagem longa feita por eles. A primeira foi feita em 30 dias, quando eles atravessaram toda a Argentina, pedalando cerca de 1.500 quilômetros.

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Foi um processo vagaroso. Fomos até o Norte da Argentina, entre rios, divisa com o Uruguai. Viajamos por todo o litoral e entramos no Brasil pelo Rio Grande do Sul. Subimos pelo litoral, até chegar em Angra dos Reis (RJ), pegamos a serra para chegar até aqui

Natália Alvarez

Eles contam que sempre buscam locais em que possam ficar com segurança, e a maneira como foram recebidos os surpreendeu. Embora muitas pessoas pensem que é maluquice viajar desta forma, acabam ajudando muito. “Quando você fala com as pessoas que vai ficar no local, vai montar a barraca para passar a noite, todo mundo acolhe você. Quando acordamos, tem sempre alguém que oferece um café da manhã, para pegarmos a estrada com força, e é muito bom. Tanto no Brasil, quanto no Uruguai e na Argentina, quando falamos em viajar em uma bicicleta, dá uma sensação de que a gente está morrendo na estrada. Mas é muito bom. Fomos muito acolhidos”, diz Guillermo.

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O casal acabou descobrindo um Brasil desligado de estereótipos. “O Brasil não é só litoral, não é só samba. O Rio Grande do Sul é muito parecido com a nossa região. Percebemos como muda o sotaque em cada região, e isso é muito legal”, reflete Guillermo. Natália completa, dizendo que é muito interessante ver como as tradições do país são diferentes em cada lugar.

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Mais que uma viagem, uma filosofia de vida


O veículo de duas rodas é a filosofia de vida da dupla. O casal explica que é uma forma mais amigável de lidar com o meio ambiente, além de ser algo natural, mesmo antes das viagens. As bikes nas quais eles viajam são as mesmas usadas no cotidiano. “A bicicleta é fiel. Não apresenta muitos problemas. O pneu apenas precisa de uma limpeza, mas não tem segredos. É só pedalar. Trocamos algumas peças, mas essas são as bicicletas da vida toda.”

Não foi preciso preparação física para enfrentar a estrada. A movimentação natural por Mendoza, que contém ambientes íngremes, com morros e serras, foi o suficiente. Também não há uma meta rígida a ser cumprida. Eles procuram respeitar o tempo de cada experiência. “Tínhamos muita vontade de conhecer a América do Sul e, dessa forma, conseguimos acessar o que há de mais profundo nas cidades, na gente, na sociedade, nos costumes. A bicicleta vai bem devagar, tudo acontece de forma mais lenta, dá mais tempo”, garante Natália.

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As paradas pelo caminho, para apreciação da natureza e do convívio com as pessoas, dão força para continuar. “Aprendemos muito. No Brasil, um novo idioma. Mas o mais importante é descobrir que não precisamos de muito para viver”, resume Natália. Guillermo acredita que a necessidade de consumo exacerbada ditada pela indústria é uma mentira. “Precisamos aprender a viver com o pouco que temos e aprender a desfrutar mesmo. Quando você está fora, acha muita gente boa. Não só morte, não só roubo, tem que procurar porque vai achar coisas boas. Tem que ter um coração disposto a conhecer mais.” Para quem quer sair em uma viagem semelhante, o conselho é deixar o conforto para trás.

Do Brasil, eles também ganharam um novo combustível, encontrado nos pratos de arroz com feijão. “É simples, básico, todo mundo consegue e é muito bom!” A variedade e o sabor das frutas brasileiras também foram elogiados pelos argentinos.

Para conseguir concluir a viagem, que além da Bahia, ainda inclui o Pará e o Amazonas, a dupla se vira com as oportunidades que aparecem. Eles já fritaram pastel, venderam brigadeiros, limparam repúblicas e fizeram malabarismos no sinal. Qualquer trabalho que os ajude a continuar viajando. A preocupação maior é a compra do acesso à balsa que sobe o Rio Amazonas e deve levar até a Colômbia, próximo destino depois do Brasil. Para isso, eles terão três meses para juntar R$ 3 mil. Outra fonte de renda são os cartões postais lá do início desta matéria. Eles fazem as imagens, imprimem e vendem por preços simbólicos. A viagem e as imagens podem ser acompanhadas pela página Postales a Pedal no Facebook.

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