Conforme o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), em 2018, foram registradas 32 infrações por alteração de escapamento em motocicletas em Juiz de Fora. Os dados se referem a motociclistas flagrados conduzindo veículos com descarga livre ou com silenciador defeituoso, deficiente ou inoperante. No entanto, o índice pode ser maior, já que as alterações no escapamento também podem se enquadrar nas categorias de infrações por condução do veículo sem equipamento obrigatório ou com aparato ineficiente, inoperante ou em desacordo com o estabelecido pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), ou, ainda, com acessório proibido. Considerando estes registros, 235 violações foram registradas só neste ano.
Em 2017, foram 98 infrações por descarga livre e silenciador inapto, além de 433 relacionadas a problemas com equipamentos obrigatórios em geral. De acordo com a Resolução nº 14/1998 do Contran, além de dispositivo destinado ao controle de ruído do motor, outros equipamentos exigidos para motocicletas são: espelhos retrovisores, de ambos os lados; farol dianteiro; lanterna na parte traseira; lanterna de freio; iluminação da placa traseira; indicadores luminosos de mudança de direção, dianteiro e traseiro; velocímetro; buzina; e pneus que ofereçam condições mínimas de segurança.
Apesar de serem consideradas infrações de natureza grave, segundo artigo 230 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), com multa no valor de R$ 195,25, além de retenção do veículo, as práticas ainda são comuns. Em Juiz de Fora, a perturbação sonora causada por motocicletas é motivo de reclamação por parte da população. A Polícia Militar, órgão responsável pela fiscalização, também pode punir os motociclistas com base na resolução nº 252/1999 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que prevê os limites de ruído nas proximidades do escapamento. No caso das motocicletas, o documento limita o nível de ruído a, no máximo, 99 decibéis.
Reclamações
Muitos motociclistas realizam alterações nos escapamentos de seus veículos, seja removendo o silenciador ou trocando por outro equipamento, resultando em aumento no nível de ruído provocado pelo dispositivo. Na região central de Juiz de Fora, pedestres relatam serem surpreendidos com frequência por sons intensos provocado pelas motos. “Já levei vários sustos com esses barulhos e acho que é muito desnecessário”, conta Felipe Junior da Silva. “Se o engenheiro tem todo um trabalho, se ele estuda para deixar a moto mais silenciosa, não entendo por que as pessoas querem fazer mais barulho. Acredito que seja para chamar mais atenção, só que chama atenção de um lado negativo.”
Moradores de bairros como São Mateus, na Zona Sul, onde há muitos estabelecimentos que realizam entregas em domicílio, notam a ausência de silenciador, inclusive, entre os entregadores, como relata Lucas Portilho. “Dependendo do horário que você circular na cidade, principalmente em áreas de maior concentração de entrega a domicílio, você nota um maior número de motos que emitem barulhos exagerados. Incomoda porque, às vezes, você está caminhando na rua com outra pessoa e quer conversar, mas é impossível de ouvir. Na minha interpretação, não é um problema grave na cidade, mas existe”, conta. “Não sei se a retirada é por medida de proteção, para sinalizar para outros veículos que a moto está passando, ou se é medida para chamar a atenção mesmo.”
Alterações podem causar problemas no veículo
Mudar o escapamento ou remover o silenciador pode trazer prejuízos. De acordo com Alexandre Aparecido de Paula, chefe de oficina da Independência Motos, as alterações reduzem o nível de óleo e ainda podem fazer com que o veículo consuma mais gasolina. Apesar da procura, a concessionária não costuma trocar o equipamento ou alterar suas características. “Muitos trocam o escapamento e colocam outro que não é original da motocicleta, que é onde ela faz mais barulho. Se chegar a dar problema no motor e levar na concessionária, caso seja constatado o escapamento paralelo, a fábrica não cobre a garantia referente. Não instalamos justamente por causa disso.”
Já a prática de deixar o escape “direto”, sem nenhum tipo de abafador ou silenciador, não traz nenhuma vantagem para os veículos, como muitos acreditam, segundo Paulo Henrique Silveira, customizador de motocicletas. “Alguns falam que ganha potência, pode até ser que sim, mas, para isso, é necessário uma série de fatores que devem estar em conjunto.” Isso porque, para melhorar a eficácia da moto, não basta trocar ou realizar alteração em apenas um equipamento.
Especialista alerta para riscos de saúde
De acordo com o médico especialista em medicina de tráfego, Aly Said Yassine, do Departamento de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), os veículos são produzidos pela indústria automobilística de acordo com normas e regras do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), obedecendo não só ao nível máximo de intensidade do ruído, como também à liberação de resíduos para a atmosfera e temperatura alcançada pela tubulação.
Quando características são alteradas, pode haver grande prejuízo para a sociedade. “Os riscos químicos são potencializados, porque temos inalação de monóxido de carbono muito maior do que em uma moto que é produzida seguindo as regras do Inmetro. Temos ainda os riscos físicos, já que produz-se muito mais ruído do que uma moto convencional, ou seja, é até insalubre, tanto para os usuários da via como para o próprio motociclista”, explica Yassine. A liberação de monóxido de carbono pelas motocicletas também se relaciona aos riscos orgânicos, já que o gás pode potencializar doenças respiratórias e oculares. “Doenças respiratórias podem aumentar o risco, por exemplo, de desenvolvimento de uma hipertensão arterial em pessoas que já tenham doenças cardíacas.”
Há ainda o risco biológico, no caso de uma possível colisão da motocicleta com outros veículos. Segundo o especialista, as queimaduras causadas pelo contato da pele com escapamento paralelo ou sem proteção podem ser muito mais graves do que se a pessoa entrar em contato com o dispositivo original. Também existe o risco ergonômico, que se relaciona com o esforço físico e a postura adotada ao dirigir, seja carro ou motocicleta. “Quando mudamos esse tipo de equipamento, muitas vezes, o que é colocado paralelo é um equipamento que muda a trajetória, por exemplo, da posição dos pés. A mudança, muitas vezes, muda também a posição do tronco, abdômen, bacia, ou seja, aquela pessoa que dirige por muitas horas por dia, pode lesionar a coluna, a bacia, a panturrilha, porque está desobedecendo um formato cujo o Inmetro aprovou para ela andar”, finaliza.