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Especialista alerta que barragens do município estão próximas a comunidades

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Com a tragédia ocorrida em Brumadinho, muitos juiz-foranos passaram a questionar as condições as barragens na cidade, número que chega a, pelo menos, oito, sendo três de usinas hidrelétricas, três de abastecimento e duas de resíduos industriais. O engenheiro e especialista em segurança de barragens, Marcos de Oliveira Guerra, afirma que os riscos de rompimento na cidade são medianos. “Há uma escala de avaliação que considera diferentes fatores, como prejuízos ambientais e sociais, por exemplo. Este índice pode chegar a 18 de pontuação. As barragens de Juiz de Fora, em 2016, atingiam em torno de 11.” Na prática, ele explica que isto significa que é preciso ficar em alerta e realizar as fiscalizações e as manutenções das estruturas com periodicidade. “Qualquer obra de engenharia é perecível. Tudo que é material tem seu ciclo de vida.” Um dos aspectos que exige atenção, segundo ele, é a localização destas barragens. “Estão todas na cabeceira do município, próximas às comunidades. É preciso planos de contingência, emergência e fiscalização.”

O especialista esteve presente na audiência pública convocada pelos vereadores em 2016 e sugeriu a criação de uma comissão específica com participação popular, do poder público e dos responsáveis pelas barragens para definir procedimentos de fiscalização. “Não sei se a ideia foi adiante, pois eu não fui convidado para integrar nenhum grupo. Infelizmente, ainda falta sensibilização para os riscos relativos a este tema.” De acordo com Marcos, as barragens de rejeito são as mais preocupantes. “A forma como são construídas no Brasil, com a técnica a montante, oferece muita insegurança. Na realidade, eles fazem um montinho para parar o rejeito e vão subindo esta estrutura conforme o armazenamento de resíduo aumenta. É um sistema barato, precário e muito instável.”

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Considerando as barragens de rejeitos “um desrespeito à população brasileira”, Marcos cobra a necessidade de maior empenho por parte do poder público. “O que aconteceu em Brumadinho é criminoso, é caso de polícia. Construíram um refeitório desconsiderando os riscos da barragem. Este tipo de estrutura é fácil de ser rompido. Com as privatizações, o monitoramento das condições das estruturas ficaram a cargo das próprias empresas. As nossas autoridades devem responsabilizar criminalmente os envolvidos. Já são três anos da tragédia de Mariana, e ninguém foi responsabilizado, isto é um absurdo. De um lado você tem mineradoras que objetivam lucro fácil e que agem com irresponsabilidade e desconhecimento. De outro, os nossos dirigentes e governantes que não identificam e punem os responsáveis por estes crimes hediondos.”

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Comissão da Câmara diz acompanhar condições

O presidente da Comissão de Urbanismo, Transporte, Trânsito, Meio Ambiente e Acessibilidade da Câmara de Juiz de Fora, José Márcio (Garotinho, PV), informou que, desde 2016, tem acompanhado de forma mais próxima as condições das barragens da cidade. “Após o desastre em Mariana, realizamos uma audiência pública, em fevereiro de 2016, sobre o assunto. Naquele ano, visitamos os locais para saber como é feito o monitoramento. Após as chuvas fortes do final de 2018, nos reunimos novamente com representantes da Cesama que garantiram que continuam com as manutenções.”

José Márcio relata as condições verificadas nas barragens administradas pela Cesama. “A de Chapéu D’Uvas tem um volume maior de água e foi construída em concreto armado, portanto, é mais resistente. Neste tipo de barragem é possível prever a possibilidade de rompimento, pois o próprio material mostra isso. Já a de São Pedro possui um volume bem menor de água e foi feita com uma mistura de concreto e terra”, diz. “Das três, a que precisa de maior atenção é a de João Penido, pois foi erguida apenas com terra.”

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Segundo ele, a barragem da Usina da Picada, também para a captação de água e de responsabilidade da Votorantim Energia, conta com alarme para casos de acidentes. “A empresa nos mostrou que possui um sistema de monitoramente aprimorado.” Com relação às barragens da Pedra e dos Peixes, administradas pela Nexa Resource e que são de rejeitos, José Márcio informou que a última visita foi realizada em 2016 junto com a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros, e que as condições apresentadas à época também eram satisfatórias. “Os riscos de rompimento de qualquer barragem existem, por isso, o mais importante é a fiscalização e a manutenção constantes.”

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“A forma como são construídas no Brasil, com a técnica à montante, oferece muita insegurança. Na realidade, eles fazem um montinho para parar o rejeito e vão subindo esta estrutura conforme o armazenamento de resíduo aumenta. É um sistema barato, precário e muito instável.”

Representantes da UFJF vão a Brumadinho

Representantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) seguiram para Brumadinho nesta segunda-feira (28), onde irão participar de uma reunião para discutir medidas de curto e longo prazo relativas ao rompimento da barragem de rejeitos de minério da Vale. O encontro contará com a participação das universidades Federal do Espírito Santo (Ufes) e de Ouro Preto (Ufop) e de pesquisadores do Programa Participa UFMG Mariana-Rio Doce, fundado após o crime ambiental em Mariana.

A Tribuna entrou em contato com o pesquisador da área Bruno Milanez, um dos representantes da UFJF no encontro. O especialista, que vem estudando a situação ocorrida em Mariana, informou que irá se dedicar a entender o que ocorreu em Brumadinho. “É uma iniciativa que já surgiu em 2015, a partir do rompimento de Fundão, quando UFMG, Ufes e Ufop se reuniram para estabelecer uma força-tarefa de ações imediatas. A universidade pública, no seu papel, tenta apoiar as pessoas atingidas. É mais uma linha de assessoria e extensão, atendimento médico, garantias de direito e, imagino, pensar uma agenda de médio a curto prazo de pesquisa e intervenção.”

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Em entrevista concedida à Folha de S.Paulo, divulgada nesta segunda (28), Bruno afirma que, dentre as mudanças necessárias para evitar tragédias como a de Mariana e a de Brumadinho, estão medidas como estabelecer distância mínima de dez quilômetros entre as barragens e as comunidades, e impor limite ou proibir estruturas construídas com a técnica à montante, considerada o tipo mais comum, mais barato e menos seguro.

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