A terceira edição da Festa de Debutantes da Casa de Cultura Evailton Vilela já nasceu com necessidade de se tornar ainda mais abrangente. Diferente das edições anteriores, era preciso encontrar uma forma de seleção das meninas que fosse ainda mais democrática do que a redação, que era pedida antes. O vídeo foi o suporte escolhido para selecionar as candidatas neste ano. Elas tiveram apenas 30 segundos para explicar por que elas merecem viver esse momento. Embora o tempo de resposta seja curto, o vídeo foi um instrumento que permitiu a elas a prática da fala sobre si, como ponto de partida. Um time de 25 jovens se prepara para viver ‘uma noite de sonho’ no domingo, dia 29 de novembro. Elas participam, junto de seus familiares e amigos, do baile, que, este ano, acontece na Estação São Pedro.
“Percebemos que a redação era um impedimento para que muitas meninas participassem. Muitas delas enfrentam situações sérias de vulnerabilidade social. Algumas estão fora da escola, seja para ajudar os pais ou por outro motivo. O vídeo foi a alternativa que escolhemos, porque, mesmo em situações difíceis, o celular é uma das principais formas de comunicação hoje. A nossa intenção é a de fazer com que essas meninas também tenham a oportunidade de sonhar”, destacou Negro Bússola, idealizador do baile coletivo. Outro objetivo cumprido com o novo método de seleção, segundo Bússola, é o de reforçar o protagonismo dessas jovens. “Trabalhamos com esse ponto de transformação, do resgate da identidade. Esperamos que, por meio desse contato, uma adolescente que está fora da escola consiga se enturmar, reacendendo o anseio de se matricular em uma escola mais próxima, dando sequência aos estudos. Se elas se distanciam dessa ideia, a chama apaga.”
De acordo com Negro Bússola, algo que chamou a atenção, durante a seleção, foi que 95% das meninas que vão participar do baile nesta edição são pretas. “Isso é muito interessante. Não era algo que estava em pauta. Contamos com jurados muito diferentes, que não fizeram a seleção juntos. Isso mostra o quanto é importante dar uma oportunidade a essas meninas. O quanto toca ter contato com a realidade delas”, reforça Bússola.
Ele ainda aponta para o desejo de independência que observa nos discursos das jovens. “Elas querem um lugar ao sol. É o que conseguimos apurar nos vídeos e nas redações dos anos anteriores. Elas querem autonomia, independência. Uma das situações mais frequentes que elas trazem é a preocupação com o primeiro emprego. Elas não querem depender dos pais para comprar absorvente, por exemplo. Por isso, sempre dizemos que é importante colocar os projetos na frente, como meta. Que precisamos nos dedicar para conseguir o que queremos.”
Brilho nos olhos
Garantir que meninas que vivem em situação de vulnerabilidade e nas periferias alcancem esse lugar de destaque é a missão do projeto. Para isso, avalia o idealizador, é preciso despertar um conjunto de subjetividades, para que o entendimento seja o de que elas podem. Para o futuro, a ideia é que as jovens que já participaram da festa coletiva possam fazer parte de uma rede, colaborando com as que participarão das próximas edições.
“Incentivamos a conquista, que as participantes contrariem as dificuldades e, pela própria iniciativa e disposição, consigam ter e oferecer às suas famílias uma festa com glamour. Criar essa rede de colaboração é muito importante, para que elas possam aprender também a partir das vitórias das meninas além do baile.” Outra ideia que se consolida é a de reunir os relatos que mostrem como esse acesso transformou a vida das debutantes, gerando um registro da fala delas sobre toda a experiência. Há também outro projeto: abrir espaço para que adolescentes não só de Juiz de Fora, mas também de outras cidades da região, possam se inscrever.