
Manter a cidade limpa demanda esforços do poder público e da população. Empenho que, no entanto, nem sempre estamos dispostos a fazer com que se torne um hábito. Pedestres que transitam pelas inúmeras ruas da cidade poderão encontrar obstáculos pelos passeios das vias. Além de mato alto e galhos de árvores, o que pode ser frequentemente observado é o acúmulo de sacos plásticos com lixo doméstico descartados de forma e em horários irregulares. Nas últimas semanas, a Tribuna flagrou e recebeu relatos de moradores a respeito da situação. O problema é observado, principalmente, por pessoas que residem em bairros onde a coleta do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb) é feita no período noturno. Moradores de diferentes regiões reclamam que sacos de lixos residenciais têm sido descartados e empilhados, em diversas ruas, horas antes de serem recolhidos pelo serviço de coleta.
Tal circunstância, segundo moradores, obstrui a passagem de pedestres nas calçadas e tem deixado as ruas sujas e com mau cheiro, já que a exposição do lixo, muitas vezes misturado com restos de comida, por longo período, atrai animais que rasgam os sacos e espalham os restos. Além disso, a situação é um dos fatores que contribui para a obstrução de bueiros, dificultando a drenagem urbana e causando alagamentos na cidade em períodos de chuvas, como o atual.
Moradora da Avenida Sete de Setembro, no Bairro Costa Carvalho, região Sudeste, a secretária Arlete Lippi conta que frequentemente observa o descarte horas antes do horário de recolhimento. No local, a coleta de lixo doméstico acontece à noite, mas, segundo ela, muitos acondicionam os resíduos mais cedo. A secretária conta que entrou em contato diversas vezes com o Demlurb relatando a situação e que um fiscal foi destinado para supervisionar o local. “Foi feita uma campanha, orientando para que o lixo fosse colocado somente após as 18h. O fiscal passava aqui e os moradores respeitavam, não colocavam o lixo antes do horário. Ele fiscalizou por mais ou menos um mês, mas agora deixou de passar e a rua está voltando a ficar suja e com os lixos acumulados bem antes de o gari passar para recolher”, conta.
Rinaldo Ferreira, morador da Rua Doutor Dias da Cruz, Bairro Nova Era, Zona Norte, também observa essa conduta na sua via. Ele afirma que o acúmulo de sacos de lixo acontece fora do horário adequado na sua e nas ruas adjacentes. “Parte dos moradores não respeita o horário e coloca o lixo logo de manhã para a coleta. O que acontece também é que muitos colocam o lixo para fora mesmo sabendo que é feriado. Isso acontece sempre, inclusive no último feriado, dia 2 de novembro”, contou. Na ocasião, o Demlurb avisou que não seria feita a coleta naquele dia.
500 toneladas/dia
De acordo com o Demlurb, cerca de 500 toneladas de lixo doméstico são recolhidas diariamente em Juiz de Fora. No entanto, não há como o departamento ter um levantamento da quantidade que é descartada de forma e em horários inadequados, já que a coleta passa em um único horário em cada ponto.
Supervisor do setor de Engenharia do Demlurb, Everton Marques de Souza afirma que o departamento está ciente da situação e que a repartição recebe reclamações de moradores. “Isso acontece em diferentes pontos da cidade. É um comportamento das pessoas, mas precisamos da colaboração da população. O Demlurb é um só e não consegue atender a especificidade de cada morador. Tem pessoas que trabalham de manhã e outras à noite, e cada uma delas terá uma preferência em relação ao horário da coleta.”
Ele avalia que as principais consequências da exposição prolongada dos sacos de lixo nas ruas é sujeira causada quando o saco se rasga ou é aberto por animais de rua, a poluição visual e obstrução de calçadas. Além disso, com o agravante das chuvas, o lixo se acumula em buracos e bocas de lobo, contribuindo para alagamentos.
Falta conscientização
Para a secretária Arlete Lippi, do Bairro Costa Carvalho, o descarte irregular acontece devido à ausência de conscientização da população, mas, também, porque muitas pessoas saem de manhã para o trabalho e não voltam a tempo de colocar o lixo antes da passagem de caminhão. “Isso não pode ser justificativa, mas acontece. É um impasse. Quando o caminhão de coleta passava de manhã, isso acontecia com menos frequência, mas ainda assim era um problema, pois a rua ficava suja”, diz. A moradora ainda reclama da sujeira que fica após a passagem do caminhão. “Os trabalhadores recolhem o lixo, mas muitas vezes o saco arrebenta e suja toda a rua.”
Sobre a situação, o supervisor do Demlurb Everton Marques de Souza explica que não há norma ou lei que exija a presença de vassoura no caminhão para que os profissionais limpem a rua após a coleta, mesmo assim, isso é feito. “Até por uma questão de boa prática, nós temos vassoura nos caminhões e, quando suja, os garis limpam, conforme orientação do próprio departamento.”
A troca do horário da coleta de lixo em seu bairro também foi um fator que fez com que os moradores colocassem o lixo para fora muito antes da passagem do caminhão, na avaliação de Rinaldo, do Nova Era. “Até o início desse ano o caminhão da coleta passava de manhã no bairro. Após a mudança para o período da noite, as pessoas têm colocado pela manhã, porque à noite, por volta das 18h, muitos ainda não chegaram em casa do trabalho e usam essa justificativa”, diz.
Serviço é otimizado
A necessidade de rotas diurnas e noturnas, justifica o supervisor, é devido à otimização do uso dos caminhões. “Nossos caminhões são alugados, por isso temos que fazer esses dois turnos para aproveitar o veículo. Outra saída seria aumentar o número de caminhões, mas isso geraria custo até para a população”, explica. Atualmente, o departamento conta com 30 caminhões, sendo três reservas. De acordo com Everton, o ideal é que o lixo seja colocado para ser recolhido com, no máximo, duas horas de antecedência, levando em consideração que a coleta inicia a rota noturna, às 18h ou 19h.
O ideal, segundo Everton, é que as pessoas coloquem o lixo domiciliar em contêineres ou sacos de amarre bem. O lixo deve ser colocado em frente à residência da pessoa. O supervisor alerta que os sacos não devem ser empilhados para que, em casos de chuvas, o entulho não seja arrastado pela água.
Fiscalização
Segundo o supervisor, o departamento realiza a fiscalização de ruas de acordo com as denúncias de moradores. “Temos uma política de fiscalização. Quando há problemas, mandamos uma equipe especificamente para o local e é feito uma mobilização, de acordo com as demandas. Por isso, orientamos as pessoas a ligarem para o Demlurb para denúncias e reclamações.” Conforme Everton, a fiscalização é feita de forma pontual devido ao baixo número de pessoal. Atualmente, o setor de fiscalização conta com 13 profissionais.
Após a fiscalização e notificação, caso haja reincidência, o supervisor cita que o morador pode até ser multado, a depender da gravidade da infração. As autuações variam de leve a gravíssima, com valores entre R$ 391,35 e R$ 4.695,62.
Problema fica mais grave em feriados
Também é frequente o acúmulo de lixo nas ruas em feriados ou dias em que a coleta não passa. De acordo com o Demlurb, parte dos moradores coloca seus resíduos para fora de casa, apesar da divulgação prévia do serviço interrompido. Este é um caso de desrespeito observado, por exemplo, na Rua Ministro Odilon Braga, no Bairro Linhares, Região Leste. Para tentar reverter o quadro, a professora Ludmila de Fátima Pereira, que reside no local, conta que elaborou um cartaz para colocar na esquina da sua rua nos feriados. O intuito é alertar outros moradores que não haverá coleta em determinado dia, evitando, desta forma, o acúmulo de lixo.
“No feriado do dia 12 de outubro eu coloquei o cartaz. Durante o dia, observei que acumulou lixo, mas não no volume habitual. Para o feriado do dia 2 de novembro, eu coloquei o cartaz no dia anterior e foi mais eficiente. Porém, algumas pessoas colocaram algumas sacolas. Fui lá e recolhi, deixei na minha casa, para depois colocar somente na terça-feira, que seria o próximo dia de coleta”, relata a professora que, para o próximo ano, planeja conversar com cada vizinho sobre a situação. “Quero fazer um levantamento de todos os feriados, elaborar um panfleto e ir de casa em casa, na minha ruas e nas adjacentes, conversando com cada morador.”
Na avaliação da professora, faltam campanhas educativas relacionadas ao lixo. Ela acredita que atitudes, como a que pretende tomar, poderiam ser feitas em toda a cidade.
Flagrantes
Durante as últimas semanas, a Tribuna percorreu algumas ruas em locais onde a coleta de lixo doméstico é feita no período noturno. Na maioria dos locais visitados, a reportagem flagrou, na parte da manhã e da tarde, o acúmulo de sacos de lixo em via pública.
Na Rua dos Artistas, Morro da Glória, a coleta acontece de segunda a sexta no período noturno e, no sábado, à tarde. No local, no entanto, foi possível encontrar sacos deixados em via pública muito antes da passagem do caminhão. A Tribuna esteve no local no dia 25 de outubro, por volta de 10h da manhã, e encontrou lixo, apesar de moradores da região colocarem recados orientando sobre o horário adequado para descarte. Nos dias 28 e 30 de outubro e, também, no dia 11 de novembro, a Tribuna flagrou, novamente, o descarte irregular na mesma rua.
Situação semelhante foi observada nas ruas Ministro Amarílio Lopes Salgado, no Bairro Cascatinha, e na Alameda Alexandre Leonel e Pássaros da Polônia, no Bairro Estrela Sul. Outros flagrantes foram feitos nos Bairros Bandeirantes, Bom Clima, Quinta das Avenidas, Nossa Senhora das Graças, Eldorado, Santa Terezinha e São Dimas.