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Medo de assaltos acompanha viajantes entre Rio de Janeiro e Juiz de Fora

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Foto: Ana Flávia Salzmann SAilveira

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Pedra quebra vidro lateral de ônibus que seguia do Rio para Juiz de Fora. Desta vez, ninguém se feriu. Foto da leitora Ana Flávia Salzmann Silveira
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Uma nova onda de assaltos e tentativas de roubos contra ônibus de viagens, que fazem a linha do Rio Janeiro a Juiz de Fora, tem trazido insegurança para usuários da BR-040. Viajantes de coletivos fretados ou mesmo das linhas interestaduais relatam situação de pânico em viagens que vêm sendo alvo de pedradas como forma de fazer o ônibus interromper seu percurso, para que seus ocupantes sejam assaltados. Essa situação já tinha sido retratada pela Tribuna em 2015, quando diversos assaltos aconteceram e, naquela época, os métodos empregados pelos bandidos eram semelhantes aos casos ocorridos agora. Um dos fatos mais recentes aconteceu no último dia 8 de novembro, contra um ônibus que deixou a Rodoviária Novo Rio, no Rio de Janeiro, às 17h, com destino a Juiz de Fora.

A passageira Ana Flávia Salzmann Silveira, de 36 anos, estava na viagem, quando o veículo foi alvo de uma pedrada, na Linha Vermelha, deixando os passageiros em pânico. Apesar de ninguém ficar ferido, dois vidros foram estilhaçados, e o ônibus precisou ser substituído para seguir o trajeto. Flávia trabalha como supervisora de uma rede de atacado e, mensalmente, precisa viajar para o Mato Grosso, utilizando os aeroportos do Rio. No dia do fato, estava feliz por ter conseguido ônibus para casa mais cedo. Ela tinha programado que sairia da Novo Rio às 19h, mas conseguiu fazê-lo com duas horas de antecedência. “Naquele dia, o trânsito estava ruim, e eu já tinha cochilado no banco. Acordei com um barulho alto e o pessoal gritando. Vi um homem ao lado passando a mão pelo corpo para ver se tinha sido atingido por estilhaços. As pessoas, primeiro, acharam que haviam atirado contra o ônibus, mas foi uma pedra arremessada. Os passageiros começaram a gritar, pedindo ao motorista que não parasse, porque podia ser assalto”, relembra Flávia. O condutor seguiu viagem com a intenção de parar em um local seguro, mas com a trepidação do veículo, dois vidros estouraram, espalhando cacos nas pessoas.

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“Precisamos parar por cerca de uma hora para vir outro ônibus. Era para chegar em Juiz de Fora às 20h, mas chegamos depois das 22h”, relatou Flávia, lembrando que o ônibus estava lotado. “Eu tomo tranquilizante, porque já fico com a tensão de estar na estrada e, agora, além do perigo no trânsito, há o medo de ser assaltado e de sofrer algum tipo de violência. Dá uma sensação de impotência. Na hora, você pensa primeiro em Deus e depois na sua família, pois há o medo de perder sua vida.”

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Pedrada fere olho de motorista na volta para JF

Ônibus que voltava do Rio para Juiz de Fora foi alvo de pedrada, em setembro. Neste caso, o motorista foi atingido por um estilhaço no olho e, mesmo machucado, seguiu a viagem. (Foto da leitora Laura de Sousa Queiroz)

A construtora naval Laura de Sousa Queiroz, 27 anos, também vivenciou momentos de tensão, quando voltava do Rio para Juiz de Fora, em setembro. O ônibus em que ela seguia também foi alvo de pedrada. Neste caso, o motorista foi atingido por um estilhaço no olho e, mesmo machucado, seguiu a viagem. “Saímos da Novo Rio às 20h e, depois que o ônibus deixou o trecho da Washington Luís e pegou a BR, foi apedrejado. Eu estava no fundo e meio dormindo, quando sentimos a pedrada na lateral direita. Eu estava no lado esquerdo. Deu um barulho muito forte. O motorista quis parar, mas os passageiros começaram a gritar, pedindo para não parar, porque era uma tentativa de assalto.

O motorista continuou o trajeto, mas teve outra pedrada, que foi na direção do visor do condutor e atingiu o olho dele. Mas ele seguiu até um posto da Polícia Rodoviária Federal, ainda dentro do estado do Rio. Lá, ele lavou o olho, para seguir. Um policial disse que estava comum o apedrejamento de ônibus e de carros para o cometimento de assaltos. Eles faziam isso para o motorista parar e desembarcar para verificar o que seria o barulho e assim assaltar o veículo”, relatou Laura. Segundo ela, havia cerca de 30 pessoas no ônibus. “Estudei no Rio durante quatro anos e sempre tive medo. Agora estou evitando ir para lá. As pessoas que vão de carona relatam a mesma situação”.

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Em agosto, criminosos atacaram passageiros da linha Caxias-Petrópolis. Três homens embarcaram no veículo e renderam todos os passageiros, roubando dinheiro, aparelhos de celular, joias e notebooks. O assalto foi anunciado ainda em Caxias. Os três criminosos estavam armados. Depois do roubo, o trio desembarcou logo depois da ação.

Reforço

Chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Petrópolis, Halley Fabiano de Resende Martins, afirma que casos de apedrejamentos e assaltos no trecho da rodovia sob sua responsabilidade não são comuns. Segundo ele, a única ocorrência que teve notícia aconteceu no início do mês, quando um ônibus, que fazia a linha Rio-Juiz de Fora, foi assaltado na Linha Vermelha. “O motorista foi obrigado a retornar na BR-040 e voltar à Avenida Brasil. No nosso trecho, que é desde o pedágio de Xerém até a divisa com Minas Gerais, não tivemos registro”, afirmou o policial. Conforme ele, com o aumenta da criminalidade na Região Metropolitana do Rio houve reforço de patrulhamento efetivo, com o funcionamento da operação Égide. “Reforçamos o efetivo na região da Baixada Fluminense e na região de responsabilidade da Delegacia de Petrópolis que vai até Três Rios. Estão sendo adotadas ações direcionadas de combate ao crime organizado, como roubo de carga, incluindo assalto a ônibus de passageiro e tráfico de drogas. Essa operação já está sendo realizada desde julho e não tem data para terminar”, ressalta Halley.

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Ele orienta que todas as ocorrências que acontecem nesse trecho devem ser comunicadas à Polícia Rodoviária Federal, para que tome conhecimento, a fim de que possa adotar estratégias de segurança e para que se evite a subnotificação. “Também é preciso fazer registro na Polícia Civil na localidade onde o fato ocorreu, para que seja aberta investigação”, pontua o policial. O chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da PRF, na região de Juiz de Fora, Leonardo Facio, também afirma que não há registros dessa natureza na região nos últimos tempos. “Já houve aleatoriamente alguns casos, mas nada recente. Quando um episódio desse acontecer, é preciso registrá-lo na Polícia Rodoviária Federal para que providências sejam tomadas.”

Orientação aos passageiros é informar a PRF

Caso o motorista perceba alguma situação que o leve a crer que possa ser uma tentativa de assalto, o ideal é ligar para PRF, por meio do 191 e tentar parar o veículo em local seguro ou em um posto da PRF mais próximo. “Temos o posto Quitandinha, no km 82, em Petrópolis; no km 22, em Três Rios; no km 104, em Duque de Caxias; e km 109, também perto de Caxias. Se algo suspeito for observado, se o motorista sentir que está sendo seguido, ele deve ligar para acionar a PRF”, orienta o chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da PRF de Petrópolis, Halley Fabiano de Resende Martins.

Em 2015, o trecho mais problemático se concentrava na região do Bairro Duarte da Silveira, em Petrópolis. Neste ponto, há um viaduto, onde ladrões ficavam à espreita, esperando a passagem de veículos. Eles jogavam pedras nos vidros, obrigando o motorista a parar e, posteriormente, cometiam o assalto. “Hoje o desvio em razão de um desabamento na BR-040 é em Duarte da Silveira, e estamos com uma viatura lá 24 horas”, ressalta o policial Halley.

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Investimento no patrulhamento e fiscalização

A Concer, concessionária da BR-040 no trecho Rio-Juiz de Fora, afirma que já investiu R$ 1,3 milhão, em valores parciais, no aparelhamento das três delegacias da Polícia Rodoviária Federal existentes na BR-040, desde 2015. Os investimentos são aplicados anualmente e estão previstos em um convênio firmado entre a Concer, a PRF e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em apoio ao patrulhamento e fiscalização do tráfego na rodovia. Conforme a Concer, oriundos de um percentual da tarifa de pedágio, os recursos são utilizados principalmente em reformas e modernização das delegacias e na aquisição de veículos e equipamentos à força policial.

Além do convênio, a Concer pontua que mantém estreito relacionamento institucional e operacional com os órgãos de segurança pública, sobretudo com a PRF, que detém a competência exclusiva de prevenir e reprimir a criminalidade e casos de violência no âmbito da rodovia. O Centro de Controle Operacional (CCO) da Concer, que monitora as condições de trânsito e clima da rodovia 24 horas por dia, comunica todo e qualquer tipo de acidente e ocorrência de natureza policial às delegacias do trecho.

A empresa também esclarece que há ainda três postos avançados subordinados a essas delegacias, que reforçam o patrulhamento.

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