
Maria Madalena passou a viajar mais após ter câncer de mama
Cleber Azeredo descobriu cedo o câncer de próstata e não precisará operar
Com medo, Maria Goreti raspou o cabelo antes de saber se faria quimioterapia
Cada pessoa reage de um jeito, diz Ana Karina Porto, psicóloga da Ascomcer
O número de mortes de mulheres vítimas do câncer de pulmão dobrou nos últimos quatro anos em Juiz de Fora. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2010, 28 mulheres morreram em Juiz de Fora vítimas do câncer de pulmão. Já no ano passado, 56 óbitos foram causados pela doença. No total, 134 pessoas, incluindo homens e mulheres, morreram vítimas do câncer de pulmão em 2013. Essa ainda é a neoplasia que mais mata na cidade (ver quadro). O alto índice chama a atenção para os maus hábitos adquiridos. “Esse é um indício de que as mulheres estão fumando mais”, alerta a coordenadora da Oncologia da Secretaria de Saúde, Tereza Cristina Esteves.
Em contrapartida, os óbitos por câncer de colo de útero reduziram quase que na metade, caindo de 16 em 2009 para nove casos no ano passado. “Isso reflete a atuação do sistema de saúde, que realiza diagnósticos precoces por meio do preventivo. Esse índice tende a reduzir ainda mais com a vacinação contra o HPV.”
Para o pneumologista Fernando Salles, o fato de o câncer de pulmão ser mais agressivo e silencioso colabora para esse alto índice de mortalidade. “Quando o paciente descobre, já está em estágio avançado, e há pouco recurso terapêutico. A melhor solução é parar com o cigarro. Cerca de 90% dos casos são em função do hábito de fumar.”
O Dia Nacional de Combate ao Câncer, celebrado ontem, foi estabelecido justamente com o objetivo de conscientizar sobre a importância do autocuidado e da aquisição de hábitos saudáveis. “Cerca de 40% da incidência de neoplasia podem ser reduzidas mudando os hábitos da população. Buscamos conscientizar por meio de campanhas contra o tabagismo, do incentivo à atividade física, ao uso do protetor solar e ao controle da obesidade”, explica Tereza. Segundo ela, os tumores de pulmão, boca e bexiga podem ser evitados com a eliminação do cigarro e das bebidas alcoólicas. O uso do filtro solar protege contra o câncer de pele. A incidência do câncer de intestino pode ser reduzida com o consumo maior de fibras. As neoplasias de pênis e de colo de útero podem ser combatidas com o uso do preservativo, que protege contra o HPV.
Vitoriosas
“Vovó, a senhora vai morrer?” Essa frase foi dita por uma criança de 4 anos ao notar a tristeza da avó Maria Goreti Esteves. “Eu tinha acabado de receber a notícia de que tinha um nódulo e não queria contar para os meus filhos. Acho que minha neta me ouviu conversando com minhas amigas. Eu respondi: ‘Vou, um dia todo mundo vai morrer’. Tudo parecia um pesadelo.”
Após a confirmação de que precisaria de cirurgia, Goreti, 55 anos, foi à sua cabeleireira e pediu para raspar os cabelos. “O que eu mais tinha medo era passar a mão no cabelo e vê-lo caindo. Então, resolvi ficar careca por decisão própria e não pelo tratamento.” Mas a atitude foi precipitada. Após a cirurgia, os médicos definiram que seu tratamento seria por meio da radioterapia. “A gente acha que todo tratamento de câncer é com quimioterapia e radioterapia, mas cada caso é um caso.”
Também vítima do câncer de mama, Maria Madalena da Mata, 50, enfatiza que o apoio da família foi fundamental para superar a doença. Além disso, o medo da morte a ensinou a aproveitar melhor a vida. “Eu não era de sair. Agora, sempre que posso, dou os meus passeios.”
Para a psicóloga da Ascomcer Ana Karina Porto, “o diagnóstico do câncer é difícil de ser recebido por estar diretamente ligado à questão da morte. Cada pessoa reage de um jeito. Algumas ficam emotivas, outras anestesiadas pelo impacto da notícia. Tem paciente que aceita melhor que seus familiares. Nós fazemos o acolhimento do paciente e temos um grupo de apoio familiar.”
Próstata
Vítima da quinta neoplasia que mais mata em Juiz de Fora (ver quadro), Cleber Azeredo, 74 anos, descobriu o tumor na próstata há um mês, mas está confiante de que irá vencer esta luta. Como descobriu o câncer cedo, ele não precisará operar. “Não descuido da minha saúde. Faço todos os exames. Eu nunca senti nada, descobri a doença por causa dos exames periódicos que faço.”
Para o urologista Carlos Alberto Gervason, o câncer está entre os que mais matam por falta de acesso e de conhecimento do usuário. Outro fator relevante seria a falta de autocuidado do homem. “Eles não estão acostumados a ir ao médico com frequência como a mulher. Se o homem não sentir nada, só precisará se consultar com regularidade após os 40 anos. Nessa idade, fica difícil colocar na cabeça e estabelecer essa rotina.”
Quanto ao preconceito em relação ao exame do toque retal, Carlos Alberto conta que os mais jovens aceitam melhor. “Todo mundo conhece alguém que teve câncer de próstata. Esses exemplos ajudam a conscientizar.”
Mutirão contra o câncer de pele
No Dia Nacional de Combate ao Câncer de Pele, celebrado amanhã, o Hospital Universitário (HU) da UFJF irá realizar um mutirão de combate à doença. A ação, aberta ao público, acontecerá das 9h às 15h, no ambulatório, localizado no primeiro andar da unidade do Dom Bosco. O evento será promovido pelo Serviço de Dermatologia da instituição em parceria com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
O objetivo desse mutirão é realizar exames completos da pele, além de orientar os pacientes sobre a prevenção e a detecção precoce desse tipo de neoplasia. O público-alvo são pessoas de pele, olhos e cabelos claros, que tomaram muito sol sem proteção ao longo da vida. Pessoas com histórico pessoal ou familiar de câncer de pele, com muitas pintas e sardas, também devem ficar atentas. A campanha também visa a chamar a atenção das pessoas idosas, devido ao acúmulo da radiação ultravioleta. Esses grupos são considerados os que possuem maior risco de desenvolver a doença.
Os pacientes que forem detectados com alguma lesão suspeita deixarão o HU já com agendamento para retornar ao Ambulatório de Dermatologia, nas semanas subsequentes à campanha.
Dados
No ano passado, o câncer de pele vitimou oito pessoas na cidade. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a previsão é que, neste ano, o Brasil tenha, aproximadamente, 577 mil novos casos de câncer. A maior incidência será o de pele, tanto em homens como em mulheres. Cerca de 182 mil pessoas apresentarão a doença em 2014.