Ícone do site Tribuna de Minas

Vinte veículos já foram furtados na rua do HU Santa Catarina

furtomarcelo
Os casos levam insegurança a funcionários e usuários do HU. (Foto: Marcelo Ribeiro)
PUBLICIDADE

“Meu carro foi furtado no dia 24 de janeiro e, desde então, é só transtorno”, desabafa a estudante do último período do curso de Medicina da UFJF, Caroline Elizabete, 25 anos. Depois dela, pelo menos mais três alunos da mesma turma tiveram seus veículos “puxados” nos últimos 30 dias nas imediações do Hospital Universitário do Bairro Santa Catarina, na região central de Juiz de Fora. Só na Rua Catulo Brevigliere, onde fica a unidade de saúde, a Polícia Militar já registrou 20 furtos de veículos desde o início do ano passado, e cinco deles aconteceram nos últimos dois meses (ver quadro). Os casos não se limitam à via e se multiplicam pelo entorno, levando insegurança a funcionários e usuários do HU.

No dia 21 deste mês, por exemplo, mais dois automóveis desapareceram naquela região. Um deles estava parado em pleno pátio da Igreja da Glória. Os alvos preferidos dos ladrões têm sido os modelos ditos populares, que seriam levados para desmanche, devido à boa saída das peças no mercado negro. Em toda a cidade, a PM já contabiliza este ano (até 22 de setembro), 321 furtos de veículos, o equivalente a mais de um crime por dia. Agosto foi um dos meses mais perigosos para os motoristas que estacionam em vias públicas, com 54 casos, ou quase dois diários. A polícia garante estar agindo e aponta queda da modalidade criminosa superior a 30% em relação a 2017, quando o ano fechou com 609 veículos “puxados”, 489 deles até o fim de setembro.

PUBLICIDADE

Caroline teve seu automóvel 2007 recuperado no dia seguinte ao delito próximo à cidade de Ressaquinha, a cerca de 110 quilômetros de Juiz de Fora, mas oito meses depois ainda não pôde voltar a usufruí-lo, em uma mistura de sorte e azar. “Sinceramente meu transtorno maior começou aí, quando encontraram. Tive que tomar as providências em Barbacena, município responsável. Além do desgaste de toda a situação, estou sem carro até hoje.” Após ter expectativas frustradas durante as viagens e informações desencontradas, a futura médica conseguiu reaver o veículo em março, cerca de dois meses depois.

PUBLICIDADE

No entanto, os reparos ainda não foram concluídos, já que algumas partes foram levadas pelo bandido, inclusive a central eletrônica. “Deixei na oficina, mas a peça que estava em falta só chegou este mês.” Segundo ela, o prejuízo final girou em torno de R$ 5 mil. “Depois de toda dor de cabeça ainda vou ter que pagar, porque, apesar de ter seguro, temos que arcar com a franquia. É tenso, porque é um gasto não esperado. Mas ainda tem os amigos que não conseguiram recuperar, e as pessoas que às vezes não tinham seguro.”

Mesmo sem violência direta, vítimas têm psicológico abalado

Embora o crime de furto seja considerado de menor potencial ofensivo, por não haver uso de violência ou grave ameaça, algumas vítimas ouvidas pela Tribuna relataram terem sofrido psicologicamente. “Quando vi que meu carro não estava mais onde parei, tomei um susto. O primeiro transtorno foi mesmo psicológico, fiquei achando que estava louca. Minha amiga até perguntou se eu tinha certeza de onde havia parado, mas eu tinha até referência do carro da frente”, conta Caroline Elizabete.

PUBLICIDADE

Sensação semelhante foi sentida pelo colega de classe Ranieri Cardoso, 25 anos. Ele teve seu automóvel 1.6 ano 2012 levado por bandidos na manhã do dia 11 deste mês, enquanto atendia pacientes. O amigo dele havia parado logo atrás, na Rua Catulo Brevigliere, mas mesmo assim sua cabeça ficou confusa. “Você acha até que nem foi de carro. Dei voltas na área de estacionamento, mas realmente tinha sido furtado. Muito me impressionou eu ter sido a terceira vítima da minha sala e, na sexta-feira passada (21), aconteceu com mais um.”

Diego Bastos, 29, teria sido o segundo da turma. Seu carro 1.6, fabricado em 2011, foi “puxado” no dia 31 de agosto na Rua Antônio Fellet, prolongamento da Catulo Brevigliere. “Era uma sexta-feira de manhã, parei meu carro por volta das 7h30 e fui para o hospital. Quando voltei por volta das 11h, não estava mais lá.” Ainda sem entender o que tinha acontecido, Diego perguntou ao motorista de um guincho que atuava na região. “Ele mesmo ligou para a Settra e verificou, mas não havia ocorrência com a minha placa. Fui no posto policial do São Mateus e também confirmaram que não haviam rebocado meu carro. Aí fiz a ocorrência de furto de veículo.”

PUBLICIDADE

Além de precisar rever os compromissos por não estar mais motorizada, Caroline afirma não se sentir mais segura. O crime aconteceu quando ela fazia estágio no setor de cirurgia do HU. “Cheguei às 7h e, por volta de 8h30, já tinha sido liberada, mas o carro não estava mais lá. Acredito que alguém deva ficar vigiando, planejando o furto com antecedência. Meu veículo estava com problema no alarme, e eu havia parado mais para o fim da rua, perto de uma esquina.” Segundo ela, o ladrão arrombou a porta e fez ligação direta. “A pessoa tinha experiência e sabia o que estava fazendo.”

A polícia afirma realizar ações e apresentou queda superior a 30% na modalidade criminosa (Foto: Marcelo Ribeiro)

Conforme Ranieri, investigadores apontam que esses automóveis são levados para desmanche e normalmente já são encomendados por quadrilhas especializadas. “Eles falam que ficam enxugando gelo.” Caroline também ouviu falar em organização criminosa. “Era esporádico, ficou mais frequente e, agora, está intenso. Só na minha sala foram mais três este mês, fora pessoas de outras turmas, residentes e médicos.”

Diego foi informado por seu agente de seguro sobre a preferência dos criminosos por modelos populares. “Ele me disse que as peças têm muita saída para venda sem nota fiscal. E que no mesmo dia, à tarde mesmo, meu carro já devia estar desmanchado.”

PUBLICIDADE

Aluno parou em pátio de igreja, mas não escapou do crime

Em busca de mais segurança depois de ver de perto seus colegas de sala de aula sofrerem com os furtos de seus veículos, um estudante do 12º período do curso de Medicina da UFJF passou a estacionar seu carro no pátio da Igreja da Glória, próximo à Avenida dos Andradas. Mesmo assim, o jovem de 23 anos, que preferiu não ter sua identidade divulgada, foi vítima no dia 21 deste mês. “Comecei a estacionar lá porque na rua do HU já tinham ocorrido muitos furtos. Na igreja achei que teria mais segurança”, relata o aluno.

Segundo ele, o ladrão agiu em um intervalo de duas horas, entre 7h30 e 9h30, período em que deixou seu carro modelo popular 2015 parado no local. Os trabalhos para recolocar a vida em ordem começaram no mesmo dia, com o registro do boletim de ocorrência e posterior acionamento da seguradora. “Como a UFJF possui dois HUs, as atividades são muito dispersas. Com o carro eu conseguia ter uma mobilidade maior dentro do curto horário de intervalo entre as atividades”, avalia o estudante.
Para ele, o contratempo também atingirá sua folga. “Minha família mora no interior do estado, e ir para casa será um transtorno, porque os horários diretos de ônibus são restritos, e a passagem é mais cara do que eu gastava com a gasolina. No entanto, o transtorno maior será no final do ano, pois farei provas para residência e estava planejando viajar de carro com meus amigos para os locais dos exames, até porque não somos liberados das atividades acadêmicas.”

Em nota, a assessoria da Igreja da Glória informou que o estacionamento fica aberto durante todo o dia e é disponibilizado para atendimento dos fiéis que frequentam a paróquia ou procuram a secretaria paroquial, não sendo um estacionamento comercial. “Portanto, a Igreja não tem condição de realizar o controle da entrada e saída de veículos.”

PUBLICIDADE
Sair da versão mobile