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Estudo inédito avalia poluição do ar em Juiz de Fora

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(Foto: Leonardo Costa)

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Professor Júlio César José da Silva, que orientou pesqusa, mostra como funciona equipamento alternativo que mede poluição, feito com galão de água, tubos de PVC e um filtro analítico (Foto: Leonardo Costa)
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O ar que os juiz-foranos respiram está longe de ser puro e limpo. Um estudo inédito, desenvolvido por uma doutoranda em Química da UFJF, identificou que a poluição da cidade está inteiramente relacionada às ações do meio urbano, como a frota de veículos e as atividades industriais. Em alguns casos, o levantamento da pesquisadora identificou partículas de metais que podem ser nocivas à saúde, como é o caso do arsênio, do cádmio e do chumbo. Mais que revelar um potencial problema, a tese de Aparecida Maria Simões despertou o interesse para outras pesquisas na universidade. O plano, agora, é desenvolver outros trabalhos sobre qualidade do ar, tema considerado praticamente desconhecido no município e que se torna importante especialmente em períodos de estiagem prolongada, como os juiz-foranos enfrentam há 37 dias. Para isso, a UFJF adquiriu equipamentos importados, chamados de coletores de material particulado, e está reformando um laboratório para poder analisar os elementos coletados. Além da Química, outros estudos, com estes aparelhos, interessam às faculdades de Geografia, Arquitetura e Urbanismo e Medicina.

O estudo de Aparecida, iniciado em 2014, foi desenvolvido mesmo sem o coletor de material particulado, que ainda não havia sido entregue pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Para não interromper as análises, a pesquisadora elaborou um equipamento considerado alternativo, usando materiais de baixo custo. São eles um galão de água, tubos de PVC e um filtro analítico. “Montamos e instalamos estes coletores em quatro pontos distintos da cidade. Um no alto da UFJF, considerado um ponto neutro e com menor interferência da poluição; outro da Avenida Itamar Franco, quase esquina com a Avenida Rio Branco, onde o fluxo de veículos pesados é grande; um na Avenida Brasil, altura do Manoel Honório; e mais um em Igrejinha, em uma área onde há ampla atividade industrial.”

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Todas as amostras foram sendo coletadas durante dois anos consecutivos, tempo em que a pesquisadora desenvolveu um método para análise rápida deste ar, reconhecido até por publicações internacionais. “Fato é que não havia nenhum trabalho deste porte na Zona da Mata. A partir destes dados, a UFJF vai poder desenvolver outros estudos, tendo esta referência inicial.”

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Tráfego de veículos

Entre as hipóteses levantadas, está o fato de a qualidade do ar na Avenida Brasil sofrer impactos pontuais da poluição gerada pelo tráfego urbano, mas que se dissipa com mais facilidade, em razão da corrente de ventos sobre o Rio Paraibuna. Por outro lado, na Avenida Presidente Itamar Franco, onde há muitos prédios altos e a corrente de ar é enfraquecida, os gases poluentes se mantêm no ambiente de forma contínua.

A pesquisadora ressalta que o levantamento feito, com o material alternativo, impede qualquer conclusão sobre a qualidade do ar em Juiz de Fora, pois o estudo é considerado inicial e exploratório. Mesmo assim, foi possível descobrir fatos relevantes, como a presença dos metais arsênio, cádmio e chumbo, considerados tóxicos e sem função biológica ao corpo. Entre outros elementos, a pesquisa identificou concentração maior de zinco na Zona Norte, o que pode estar ligado à atividade industrial. “É um nutriente importante para os seres vivos, mas em doses específicas. Em excesso, pode provocar doenças, como o câncer.”

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Novo estudo vai avaliar impactos no pulmão e corrente sanguínea

Pontualmente, a UFJF tem desenvolvido estudos sobre qualidade do ar. No entanto, a aquisição do coletor, também conhecido como amostrador de partículas inaláveis, cria outras possibilidades. O desenvolvimento desta área é considerado importante para saber, principalmente, como a ação humana pode interferir na sua própria saúde. Isso porque os elementos identificados na cidade não estão em concentrações alarmantes, mas também não há políticas públicas para manter a situação controlada. “Com os dados, e a participação das faculdades de Arquitetura, Medicina e Geografia, poderemos mapear as características da poluição em Juiz de Fora. Por exemplo, será possível mostrar o papel da circulação dos ventos mediante as construções e como o tráfego pode ser planejado para reduzir os efeitos da poluição. Posso dizer que temos, daqui em diante, trabalhos para muitos anos”, disse o professor doutor Júlio César José da Silva, do Departamento de Química da UFJF e orientador da acadêmica Aparecida Simões.

Ainda segundo ele, o estudo inicial do coletor de material particulado de baixo custo já é usado para o desenvolvimento de outra pesquisa, prestes a ser iniciada. Mas desta vez, o equipamento importado já poderá ser usado. A aquisição, aliás, só foi possível por se tratar de um projeto antigo, visto que as universidades públicas do país estão com dificuldades financeiras para adquirir linhas de crédito para equipar laboratórios e manter os estudos. Segundo o professor Júlio, este edital permite o uso contínuo dos equipamentos por anos, sem correr o risco de parar os estudos por falta de insumos. E, mesmo com a crise, o departamento conseguiu que a UFJF preparasse um laboratório para receber a balança de alta precisão e outros aparelhos complementares.

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Neste novo levantamento a ser iniciado, a doutoranda Ângela Lourdes pretende avaliar como estes elementos químicos podem interferir no corpo, mostrando os impactos destas concentrações no pulmão e na corrente sanguínea. “Ela vai usar o sistema da Aparecida, mas agora com o coletor propriamente dito. Não é o nosso papel, mas queremos fazer um mapeamento cada vez mais sistemático da poluição na cidade, até mesmo para entender a dinâmica”, explicou o professor.

Poluição x saúde

Parte de novo equipamento importado já chegou à UFJF para dar sequência a novas pesquisas sobre poluição do ar (Foto: Leonardo Costa)

A climatologista da UFJF, professora Cássia Ferreira, que atualmente está afastada do laboratório para fazer o pós-doutorado em Portugal, conversou com a Tribuna esta semana sobre as expectativas de estudos com o novo equipamento. Cássia, inclusive, já participou de análises importantes relacionadas ao ar de Juiz de Fora, como por exemplo a identificação do fenômeno conhecido como ilhas de calor. Neste estudo, descobriu-se que a temperatura na Avenida Getúlio Vargas pode ser até 7 graus superior à observada na Universidade, e uma das razões é a poluição gerada pelos carros e ônibus. “Estes equipamentos permitirão medir a qualidade do ar em vários pontos distintos e de forma simultânea. Então poderemos verificar áreas com maior ou menor qualidade do ar, além de descobrir o elemento responsável para este impacto”, comentou.

Outro estudo possível, e de interesse da UFJF, segundo Cássia, é a relação da poluição com a saúde da população, sobretudo os problemas respiratórios. “Este é um ponto muito importante a ser estudado, assim como a relação do ar seco do inverno com a menor capacidade de dispersão dos gases poluentes.”

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