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60 mortes este ano na BR-040

040 capa web
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Sessenta pessoas já morreram este ano na BR-040 entre Simão Pereira e Ouro Preto. Isso significa que, em média, a cada quatro dias, uma pessoa perde a vida neste trecho da estrada. Além dos óbitos, alguns acidentes envolvendo caminhões fecharam as pistas, causando engarrafamentos de quilômetros e prejuízos para milhares de pessoas. Estas ocorrências graves vêm se tornando cada vez mais frequentes na via, que acaba de ser entregue à concessão particular. Para verificar as condições da estrada, antes de ela ser assumida pela concessionária Via BR-040, a Tribuna esteve no segmento até Santos Dumont. O trecho, com traçado sinuoso, viadutos e muitas armadilhas para os usuários, foi percorrido pela reportagem acompanhada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Durante o trajeto, foram feitos flagrantes de abusos, que se tornam mais preocupantes quando envolvem veículos pesados. São cada vez mais comuns as ultrapassagens de caminhões, cujos condutores correm contra o tempo para fazer a entrega de mercadorias. O que se percebe é que o traçado tornou-se incompatível com o volume de carros de passeio e a velocidade praticada por muitos condutores.

Além dos óbitos, entre 1º de janeiro e 20 de setembro, 1.143 acidentes foram registrados no mesmo trecho, deixando 780 feridos, sendo 158 graves. Apenas no posto da PRF de Juiz de Fora, que atende até Ressaquinha, foram contabilizados 707 acidentes, com 33 óbitos, 417 feridos leves e outros 92 graves. O trecho coincide com o de competência da 5ª Delegacia de Polícia Rodoviária Federal (PRF) e corresponde a um traçado de quase 250 quilômetros.

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Do total das ocorrências, disponibilizadas pela PRF à Tribuna, destacam-se 456 pela falta de atenção do condutor e 290 pelo emprego de velocidade incompatível com a via (ver quadro). Mas outros números também surpreendem, como os acidentes causados pela associação de álcool e direção (28) e aqueles em consequência de o motorista ter dormido ao volante (49). Este último desperta o debate sobre a condição física dos condutores que trafegam pela região.

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Percurso problemático

A viagem da Tribuna à rodovia foi feita no último dia 17. A convite do jornal, o chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da 5ª Delegacia de PRF, inspetor Flávio Loures de Barros, acompanhou a reportagem por cerca de 50 quilômetros. Neste percurso, ele mostrou oito pontos considerados problemáticos, que resultaram este ano em 245 acidentes, com 143 feridos leves, 33 graves e 14 mortos. Durante a viagem, foi possível identificar e autuar quatro veículos por ultrapassagens em locais proibidos.

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Segmentos necessitam de melhorias

O primeiro trecho considerado perigoso pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) é o de responsabilidade da Concer, que coincide com os limites territoriais de Juiz de Fora. Apenas entre os km 780 e 790 foram 62 acidentes registrados. Conforme Loures, as áreas mais problemáticas estão nos acessos à rodovia BR-267, para o Sul de Minas e Bairro Santa Lúcia, e também próximo à Ceasa. Nos dois primeiros, as batidas ocorrem pelo curto espaço disponível para os automóveis acessarem a BR-040. “Inclusive já nos reunimos com a concessionária, solicitando soluções para o trecho, mas ainda não tivemos retorno. O ideal seria que os retornos não fossem tão próximos da saída”, disse. Já a outra área está no km 783, um declive existente antes da entrada do Bairro Santa Cruz. No local, os condutores tendem a desrespeitar a velocidade permitida, o que também favorece os acidentes. “A situação se agrava principalmente quando o movimento cresce por causa dos feriados prolongados. É pior quando isso ocorre durante o período chuvoso, porque a pista fica escorregadia. O condutor acaba querendo empregar a mesma velocidade utilizada em dias comuns.”

Mais à frente, após o acesso a Chapéu D’Uvas, dois estreitamentos de pista por causa de pontes pequenas também agravam as possibilidades de acidentes. Apesar da redução da extensão da pista, alguns caminhoneiros insistem em fazer ultrapassagens irregulares. Os empecilhos ficam entre o km 760 e km 770 e correspondem a 28 registros policiais. “É um trecho onde há também certa restrição com relação à visibilidade, porque ocorre neblina, e o condutor acaba sendo surpreendido pelo estreitamento”, disse Loures. Situação semelhante é observada no km 735, logo após o perímetro urbano de Santos Dumont, onde uma ponte em curva tem também apenas uma faixa de rolamento por sentido. “Muitas vezes, veículos acessam o local em alta velocidade, e os condutores querem fazer ultrapassagens em cima da ponte, o que é proibido. É um ponto que requer atenção enquanto melhorias não são apresentadas.”

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Radar de Ewbank

O inspetor também comentou a respeito dos radares de Ewbank da Câmara, que obrigam a redução dos veículos para somente 30 km/h na altura do perímetro urbano da cidade. “É o ideal para um trecho de importância como a BR-040? Não é, mas foi a medida necessária para que o número de acidentes e mortes reduzisse, e isso é motivo de orgulho.” Porém, ele ainda entende a medida como paliativa e espera que outras soluções sejam apontadas a partir das melhorias que poderão ser feitas pela concessionária Via BR-040.

O segmento visitado é quase todo de pista simples, com curvas sinuosas e limitadas áreas de acostamentos. Também coincide com perímetros urbanos dos municípios de Juiz de Fora, Ewbank da Câmara e Santos Dumont, o que é considerado um empecilho a mais. Isso porque, nestes locais, o intenso e pesado tráfego contrasta-se com pedestres, ciclistas e até carroças.

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‘Motorista vê a placa, lê, mas não respeita’

Embora a Polícia Rodoviária Federal (PRF) não tenha divulgado os tipos de veículos envolvidos nos acidentes, as constantes colisões frontais de caminhões e carretas têm impressionado. No último mês, por exemplo, uma batida desta natureza, sobre um viaduto, interditou a BR-040 por 18 horas no km 756 entre Ewbank da Câmara e Juiz de Fora. Segundo a polícia, um dos caminhoneiros, de Juiz de Fora, foi surpreendido por outro que trafegava na contramão. Como não havia como escapar, a batida foi inevitável, e ele morreu ainda no local.

Caminhoneiros se mostram preocupados com a situação. JC, como pediu para ser identificado, tem 54 anos e é caminhoneiro há 28. Segundo sua percepção, 90% dos acidentes nas estradas são causados por falha humana, e o restante dividido entre defeito mecânico e condições nas estradas. “É muito abuso do motorista. Ele vê a placa, lê, mas não respeita. Dirige além da velocidade permitida. E, nas estradas de Minas, como a BR-040, isso é ainda mais preocupante porque elas têm muitas curvas. Então, tombamentos e perdas de direção ocorrem sempre.” Para ele, muitos caminhoneiros dirigem com pressa, com o objetivo de conseguir mais fretes e aumentar os ganhos. “Eles confiam muito no equipamento. Eu não sou assim, tanto que estou ileso depois de todos estes anos. Se quero chegar cedo ao destino, vou sair cedo. Não vou fazer loucuras. Também há o fato de que as carretas estão cada vez mais potentes e alcançam velocidades que antes eram inimagináveis.”

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Marco Antônio Clemente tem 59 anos e há 36 sustenta a família com a profissão de motorista de carreta. Atualmente ele viaja a semana toda transportando cargas entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte e afirma que a maioria dos acidentes é provocada pela imprudência, tanto dos veículos pequenos como dos grandes. “Tem muito motorista inexperiente na estrada, principalmente dos carros de passeio. Eles querem nos ultrapassar em cima de curva, com a família toda dentro do veículo. Constantemente levo fechadas deste natureza, é muito perigoso”, diz, citando as regiões de Santos Dumont e Conselheiro Lafaiete como as mais problemáticas.

‘Remédio da coragem’

Ambos falaram do abuso dos motoristas profissionais e do uso de entorpecentes. JC diz que há inúmeros locais nas estradas que vendem os “rebites”, principalmente as anfetaminas. Estes medicamentos, usados como inibidores de apetite, têm como efeito colateral a perda do sono. “Justamente por isso não trabalho à noite, é uma maluquice só. Chamam de ‘remédio da coragem’, porque faz o motorista ficar mais seguro e correr mais. São dois tipos, que chamamos de palmirinha (por ser verde e branco) e capetinha (vermelho e branco). A cocaína também agita muito e faz o mesmo efeito. Este consumo virou epidemia, está fora de controle. Já ouvi falar de lugares que vendem as drogas até por cartão de crédito”, denunciou JC.

Marco Antônio afirma que o uso dos aditivos ocorre principalmente entre os condutores profissionais jovens e imprudentes, e a oferta na estrada é grande. “Entre Juiz de Fora e Belo Horizonte tem muito. Nunca usei este tipo de coisa, tanto que estou há 36 anos na profissão”, afirmou. Segundo o chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da 5ª Delegacia de PRF, inspetor Flávio Loures de Barros, a situação é difícil de ser identificada porque os medicamentos são escondidos nas boleias dos caminhões. “Mas fazemos abordagens constantes em locais onde suspeitamos que a venda seja feita. Também realizamos ações constantes, durante o dia e na madrugada, na busca de encontrar o ilícito e inibir esta prática.”

De acordo com Marco Antônio, a velocidade excessiva é outro perigo. Há caminhoneiros, como aqueles que transportam cargas leves, que correm mais do que os carros de passeio.

Estrada terá socorro médico e mecânico

A partir do próximo dia 22, os usuários da BR-040, no trecho em direção a Belo Horizonte, terão disponíveis serviços como socorro mecânico, atendimento médico de emergência e sistema de combate a incêndio e apreensão de animais soltos. A informação foi divulgada pela Via 040, concessionária vencedora de licitação pública, agora responsável pelos 936,8 quilômetros da estrada até Brasília (DF). Para a região, a empresa promete realizar a duplicação da rodovia até Barbacena e corrigir o traçado da pista, com a eliminação de curvas fechadas. Não foi informado quais os pontos específicos das intervenções, e nem quando ocorrerão. No entanto, a empresa também promete melhorar os acessos aos municípios e entroncamentos ao longo da BR-040. Também estão previstas adequações em pontes e viadutos e construções de passarelas. Conforme Loures, tais iniciativas deverão reduzir drasticamente os registros de acidentes e mortes.

A Via 040, da Invepar, atualmente trabalha entre Conselheiro Lafaiete e Itabirito, onde estão sendo removidas ondulações, degraus e outras imperfeições do asfalto. Conforme a assessoria de imprensa da concessionária, em seguida será providenciada a renovação de toda a sinalização no trecho, com substituição de placas danificadas e pintura de faixa de asfalto, assim como a colocação de tachas refletivas, conhecidas como “olhos de gato”.

Além disso, faz parte do contrato de concessão a instalação de postos de atendimento ao usuário. Entre Juiz de Fora e Brasília, serão 21. Nestas estruturas, haverá banheiros e fraldários para os usuários da via, além de equipes para esclarecimentos de dúvidas.

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