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HU-UFJF realiza primeira cirurgia de transgenitalização em JF

HU UFJF Felipe Couri
mirella paciente divulgacao
“Hoje essa sensação de poder colocar uma peça íntima ou até mesmo poder ir a um clube ou praia de uma forma leve me traz conforto e prazer, olho no espelho com muito mais sentido” (Foto: Divulgação)
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O Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF) realizou a primeira cirurgia de transgenitalização pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade de Juiz de Fora, sendo, atualmente, o único serviço oficialmente habilitado para a prática no estado de Minas Gerais. A paciente, Mirella da Silva Ferreira, uma mulher trans de 31 anos, já teve alta e segue vida normal, com acompanhamento da equipe médica, após o procedimento, feito em março.

Com êxito no tratamento da paciente, o superintendente Dimas Augusto Carvalho de Araújo afirma que o resultado se deve a um trabalho de qualidade da equipe multiprofissional que cuida da saúde da população trans no HU-UFJF. “Nosso hospital tem se dedicado a prestar uma assistência de qualidade associada a uma formação de excelência para nossos alunos e residentes”, completa.

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Os cirurgiões responsáveis são a ginecologista Carolaine Bitencourt e o urologista José Murillo Netto, que foram capacitados através de visitas a serviços com experiências na técnica no Brasil, com o intuito de complementar o conhecimento teórico que já tinham e, também, iniciar o trabalho com segurança. “É indescritível a emoção e a honra de ver a ciência mais uma vez ocupando seu lugar de mantenedora da vida e da dignidade humana em sua plenitude”, afirma Carolaine.

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A paciente teve acesso ao HU pelo SUS, dando início ao acompanhamento psicológico, médico, fisioterápico e social, contemplando todos os requisitos legais. Após a orientação quanto à cirurgia, o procedimento ocorreu de forma tranquila, com duração de quatro horas e pós-operatório imediato sem complicações.

“A pessoa que deseja realizar o procedimento precisa ter esse entendimento. É uma cirurgia de mudança de função urinária, evacuatória, sensitiva e motora, visto que todos os órgãos pélvicos externos e internos são reestruturados. Por isso, o trabalho da equipe multiprofissional é imprescindível para o sucesso global da cirurgia e satisfação da paciente”, ressalta Carolaine sobre o tempo de internação e os cuidados necessários após a cirurgia, que tem total recuperação somente após 180 dias.

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Urologista especializado em urologia pediátrica e reconstrutora, José Murillo Netto reflete que essa cirurgia, também chamada redesignação sexual, já é realizada em todo o mundo. “Poder realizar a cirurgia traz uma grande mudança em suas vidas. Participar desse marco histórico foi uma grande honra, tendo a possibilidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas e realizando seus sonhos”, comemora.

Ligado diretamente à reabilitação do assoalho pélvico e suas disfunções, o trabalho da fisioterapia pélvica foi, também, fundamental, oferecendo métodos terapêuticos e prevenindo possíveis complicações. “Me sinto honrada e muito grata por ter tido a oportunidade de vivenciar o que considero ser o maior desafio profissional da minha carreira, e por ter ciência de fazer parte de um serviço pioneiro na rede pública, que reconhece a importância da atuação positiva da fisioterapia pélvica no processo de transgenitalização”, saliente Priscila Almeida Barbosa, fisioterapeuta pélvica do HU-UFJF.

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‘Cada pessoa trans tem suas próprias demandas’

A paciente, Mirella Ferreira, iniciou sua transição de gênero aos 23 anos. Ela via a cirurgia de redesignação sexual como algo distante que demandava muito tempo para ser realizada via SUS. “No município, ainda não havia a institucionalização de políticas de saúde pública para a população trans e, financeiramente, não estava ao meu alcance realizá-la na rede privada.”

Quando o HU começou a atender no Ambulatório de Diversidade de Gênero, Mirella foi às consultas em busca de acompanhamento na terapia hormonal. Em um dos encontros, foi citada a possibilidade da realização da cirurgia. “Esse processo durou três anos até eu ser comunicada, em 2023, que seria uma das possíveis pessoas dentro dos critérios exigidos pelo Ministério da Saúde para a cirurgia. Com isso, comecei o acompanhamento pré-operatório”, conta.

Com sentimento de uma “liberdade inexplicável”, a paciente relata que não se sente mais com suas limitações, que iam desde usar um traje de banho até as mais completas como o bloqueio de se relacionar sexualmente. “Hoje essa sensação de poder colocar uma peça íntima ou até mesmo poder ir a um clube ou praia de uma forma leve me traz conforto e prazer, olho no espelho com muito mais sentido.”
Mirella Ferreira destaca que o principal ponto é ter autonomia para entender quais cirurgias fazem sentido ou não para se viver de uma forma plena, visto que “cada pessoa trans tem suas próprias demandas em relação ao corpo”.

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Impactos no ensino e na pesquisa

Segundo os profissionais participantes do processo, existe bastante literatura sendo produzida em todo mundo, com o intuito de formatar a atenção em saúde para a população trans, com política de redução de danos, avaliações prospectivas de resultados e melhoria de técnicas, e o HU-UFJF está participando do desenvolvimento de tudo isso.

Para eles, é esperado o desenvolvimento de práticas de cuidado baseadas em evidência científica, por meio do aprendizado e fomento à pesquisa acadêmica com relação a técnicas cirúrgicas envolvidas. “O início de um serviço, de forma estruturada e organizada, como o nosso, nos permite levantar dados e realizar pesquisas de forma sistemática. Além disso, um dos principais ganhos para o ensino na nossa instituição é permitir que todos possam conviver com as diferenças e combater a transfobia”, finaliza o médico José Murillo Netto.

Atendimento multiprofissional

O HU-UFJF foi habilitado pelo Ministério da Saúde como Serviço de Atenção Integral à Saúde da População em Diversidade de Gênero em 2023. A partir daí, foi estruturada uma equipe multiprofissional, que conta com profissionais e residentes do HU, nas áreas de psicologia, serviço social, fisioterapia, endocrinologia, cirurgia plástica, ginecologia e urologia. Também conta com apoio da enfermagem, das enfermarias cirúrgicas e do centro cirúrgico.

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Ao chegar no HU, há um primeiro acolhimento e posterior acompanhamento multiprofissional com idade e duração mínimas, entre outros critérios estabelecidos nas normativas vigentes do Ministério da Saúde. O Projeto Terapêutico Singular (PTS) de cada pessoa é construído em harmonia com o seu desejo, interesse, possibilidades e limitações.

Entre os procedimentos hospitalares/cirúrgicos oferecidos pelo Serviço de Atenção Integral à Saúde da População em Diversidade de Gênero estão: a mastectomia (retirada de seios), histerectomia (retirada de útero), cirurgia de transgenitalização (construção de neovagina).
Há, ainda, a expectativa de novos procedimentos, como mamoplastia de aumento (implante mamário), ooforectomia (retirada de ovários) e tireoplastia (remoção do chamado “pomo-de-adão”), dentre outros.

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