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JF Terra de empreendedores: Hugo Siqueira, proprietário do Mr. Tugas

Foto - Fernando Priamo
Foto – Fernando Priamo
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Quem vê o grande imóvel na Rua Otília de Souza Leal, com um amplo salão de vidro, o charmoso deque de madeira e os grandes tanques para fabricação de cerveja, jamais conseguiria imaginar o quanto o terreno guarda histórias vividas ao longo dos anos. O mesmo gramado onde se ergueu o Mr Tugas, muitas peladas de moleques foram disputadas, muita lenha já foi cortada, e muitas festas vararam a madrugada, bem antes de serem trilha para amantes de pizza e cerveja artesanal. “Fiz uma festa nos meus 20 anos que lotou, e um cara que fazia turismo me disse que dava pra ganhar dinheiro fazendo festa aqui. Como eu sempre gostei de correr atrás das coisas, realizar, embarquei. E de 2002 a 2005, aqui era o Chalé do Tugão, e teve muita festa aqui: de fundo de formatura, rave, festa com DJ famoso, com praça de alimentação, isso aqui ficava lotado. Você nunca veio em festa aqui não?”, vai dizendo Hugo Siqueira, o Tugão em pessoa, que de promoter virou empresário de uma das marcas mais relevantes da gastronomia local – não sem antes ser pizzaiolo. E sacoleiro. E ter tido uma loja de roupas, a Tuga-Tuga. “Isso veio de um amigo meu de adolescência, que não falava Hugo de jeito nenhum, falava Tugo, Tugão… e o apelido pegou.”

Mas a história do terreno é de muito antes disso tudo. Ainda criança, Hugo correu muito com o irmão Fábio pelas ruas, então de terra, de um Marilândia ainda a ser desbravado. “Eu sempre dizia pro meu irmão: ‘Fabinho, em uns 30 anos isso aqui vai estar cheio de prédio’. E ele me chamava de doido. Mas hoje está tudo aí, antes até do que eu previa”, diz Hugo, apontando para a vista panorâmica do bairro que se tem do deque do Mr. Tugas, onde conversamos. Dali, também é possível ver o cantinho exato onde a pizzaria começou, o chalé idealizado por Paulo, pai de Hugo, mais de 30 anos atrás, que acabou virando a logomarca da empresa. “Era um chalé de fim de semana mesmo, de lazer nosso, mas meu pai sempre quis fazer um bar aqui. Tinha até nome: “Chalica” , que vem do apelido dele, Polica! (risos). Bar não virou, mas cerveja, nós temos. E boa, hein?”, conta Hugo.

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Foi no chalezinho que as primeiras pizzas da empreitada que hoje tem fila na porta foram servidas, na época com capacidade para 35 pessoas. “Comecei a fazer pizza de bobeira, reunindo os amigos, igual se faz churrasco. Mas dava o maior trabalho porque amigo é assim, né? Nunca ajuda. (risos) Comprava os materiais, preparava as massas, calculava receita para dez e vinham 20, tinha que fazer mais massa na hora, e no final ninguém arrumava as coisas. Fiquei cansado de fazer pizza pros outros, mas como todo mundo gostava muito, vi que tinha uma oportunidade de negócio, que veio a calhar porque estava passando aperto”, relembra o empreendedor. Na época, Paulo, que era médico, tinha acabado de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) e estava impossibilitado de exercer a profissão. “Estávamos duros”, relembra Hugo.

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‘Quem precisa, não tem escolha. Fui na cara e na coragem’

Foto – Fernando Priamo

Formado em administração de empresas, Hugo, apesar de aventureiro, quando decidiu viver de pizza pesquisou os estabelecimentos da cidade. “De 133 pizzarias que havia na cidade, fomos em 45 para conhecer o serviço, o paladar, estudar o estabelecimento e o público. Quem precisa, não tem escolha. Fui na cara e na coragem, desbravando cada uma”, relembra ele, que sabe o montante exato do investimento inicial no Mr. Tugas: R$ 16 mil. “Foi o dinheiro de um carro ‘véio’ que meu pai vendeu. Usamos R$ 4 mil para pesquisa, e o resto foi tudo que tínhamos de capital inicial. Fizemos o melhor que dava com o que a gente tinha. Eu fazia pizza, minha mãe ficava no caixa e meu pai fazia as entregas. Minha esposa, Natália, também ajudava. Mal começamos a namorar e ela veio trabalhar com a gente, de garçonete”, relembra Hugo.

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Daqueles tempos de muito trabalho e pouca grana, ficam sim, boas lembranças. “Tinha época em que a gente só comia arroz com calabresa, arroz com calabresa. Quando a mãe da Natália mandava uns potinhos de feijão, a gente comemorava: ‘Nossa, feijão!’. Mas morava nesse chalé delicioso, com piscina, sauna… estava com a mulher que eu amo, perto da família, não podia reclamar”, diz Hugo. A mulher em questão, Natália, lembra-se inclusive com carinho desta época. “Tinha dia que a gente fazia uma sauna, e ia arrumando o salão depois de roupão, com calma…”, diz ela. “Aí não vinha ninguém! (risos)”, completa Hugo. “É! (risos) Mas era uma época boa, de recém-casados… Quer dizer, eu fui ficando né?”, brinca a Mrs. Tugas.

“Naquele tempo, a coisa era tão feia que faltava grana para eu ir vê-la em Grama, tinha que pegar dois ônibus! Aí era melhor ficar por aqui mesmo. E ela foi ficando, foi ficando bom, que deu em casamento mesmo!”, conta Hugo, lembrando que nem no dia em que comemoraram a união a pizzaria deixou de funcionar. “Não dava. Era sábado. Se não abrisse, não ganhava dinheiro, e não podia me dar a este luxo. Fizemos um almoço mineiro, cortei mandioca a noite anterior inteira. À noite, estávamos trabalhando. Mas foi a nossa cara”, recorda-se o empresário, e Natália, em concordância, acena com a cabeça, enquanto embala o carrinho do pequeno Conrado, caçula do casal, irmão de Luca e Heitor, que são habitués entre as mesas do salão durante o expediente, correndo para lá e para cá. “Mas ainda vamos ter duas meninas!”, planeja Hugo. E de planejamento o homem entende.

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‘A gente queria pagar as contas’

Quando as fornadas do chalezinho produziram as primeiras pizzas, Hugo, que já chegou a servir 500 delas em uma noite e hoje fabrica cerca de 35 mil litros de cerveja e chope, não imaginava que se tornaria uma referência gastronômica de Juiz de Fora e região. “A gente queria era pagar as contas. Nossa meta era chegar na primeira expansão, fazer esta área aqui do deque. Mas depois foi tudo dando certo, quanto mais crescia, mais dava fila e fui querendo mais. Sou assim, não paro”, admite o empresário. “De vez em quando tem até que dar uma freada”, revela Natália, que nem sempre tem sucesso. Hugo é 220 volts mesmo. Tanto que hoje produz pizza, cervejas, azeites e criou a lojinha do Mr. Tugas, com camisetas e acessórios variados.

Todos os dias pedala alguns quilômetros, “pela saúde e pelo desafio”, e também nos negócios, tem intenção de expandir ainda mais. “Quero ir além das pizzas, abrir também uma casa de carnes e uma cafeteria suíça. Eu gosto disso, de empreender, criar, estar em movimento. Acho que pelo menos até uns 70 anos vou neste ritmo”, diz Hugo. E dá para vê-lo aos 70, passeando pelo salão, falando com os clientes, oferecendo uma provinha do novo chope da casa, testando um novo cardápio… “Ainda não realizei nem 10% do que eu quero”, conta o empresário, com o brilho no olhar de quem extrapolará a porcentagem. Ninguém duvida.

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