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JF Terra de empreendedores: Bruno Imbrizi, sócio da Chico Rei

Foto: Fernando Priamo
Foto: Fernando Priamo
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Bruno só permite intercalar as camisas Chico Rei em seus cabides com algumas do Atlético Mineiro, fora as sociais que também lhe vestem bem. No geral, seu armário é uma enorme coleção de camisas coloridas com estampas assinadas pela própria marca.

Sua principal vontade sempre foi a de criar um empreendimento com linha de produção em larga escala, a escolha das camisas foi uma consequência. Criava as artes e pensou em usá-las como superfície para reproduzir em maior número sua técnica. Não tem uma família de artistas com influência em música, literatura ou cinema, no entanto, desde os nove anos pediu a sua mãe para começar um curso de artes. Foi quando aprendeu a desenhar e pintar.

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Quando veio para Juiz de Fora, depois de ter crescido em Além Paraíba e mais uma enumeração de cidades mineiras, foi por conta de ter passado no vestibular para Artes e Design, em 2005, curso que abandonou, e no qual é provável que esteja jubilado. A conversa começa nesse romantismo dos grandes caras que largaram a faculdade ou foram expulsos do colégio e caminha bem para se tornar uma boa história que merecerá ser contada. Aliás, esse é um dos objetivos de vida de Bruno, existir de forma relevante. Se somos apenas uma poeira estelar, pelo menos que seja uma partícula de estrela que brilhe um pouco diferente.

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Estádios e feiras

O que o instiga é a vontade de pensar sobre aquilo que ainda nem existe e pode ser que ache tediosa qualquer situação ou criação que não traga um frescor para além do que o mundo já acumula de ideias. A não ser que sejam elas transfiguradas, recortadas, recolocadas em outro cenário unindo conteúdos que não conversam. A primeira estampa da Chico Rei é isso, uma colagem de referências, aproximando Andy Warhol de uma tradição afro-brasileira, o Congado. São ali naquelas malhas que unicamente dois elementos que pertencem a mundos antagônicos estarão se completando de forma nonsense e coesa ao mesmo tempo, essa estranheza ou ironia é a preciosidade do que se cria.

‘Meu negócio não é camiseta, meu negócio é gente e empreendedorismo’

Estádios de futebol e feiras são ambientes onde Bruno busca inspiração, justamente devido as relações espontâneas entre as pessoas. Em meio à confusão desordenada da feira, gosta da mistura de gente vendendo um pouco de tudo. Já nas arquibancadas, senta ao lado do seu pai e observa o modo como as pessoas reagem intensamente e nervosamente torcendo juntas por um objetivo tão simples. É sobre essa energia pulsando vida que Bruno fala a todo momento, sabe? Sem medo de se adentrar, explorar tudo e sentir, sem se preocupar com o retorno. Coleciona vivências em lugares díspares e quando viaja, a única regra é visitar estes dois cenários preferidos. Não está preocupado em acumular riquezas, e sim experiências, mora em uma casa dentro de uma reserva florestal que fica há poucos minutos do trabalho e, por isso, desapegou até mesmo de seu carro.

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Coisas-que-pretende-fazer-um-dia

Foto: Fernando Priamo

As aventuras e os perigos em que se coloca é para brincar com o medo, a aflição daquele segundo antes de começar a dar uma palestra ou de pular de paraquedas, mesmo tendo medo de altura. Aqueles dez segundos antes de descobrir sobre alguém e ver algo pela primeira vez. Esse ínterim entre o que pensou e fez, entre o que se espera e o que acontece, é a autenticação de se sentir vivo. É audacioso e seduzido por se arriscar, mas claro que já sentiu medo: Bruno já foi preso na Venezuela. Não, ele não fez nada de errado e horas depois foi solto pela armadilha, mas nesse dia sentiu o maior dos seus medos, de morrer e deixar inacabadas tantas vontades.

Inclusive tem uma lista de coisas-que-pretende-fazer-um-dia, entre elas aprender a tocar um instrumento, nadar com tubarão, baleia e golfinho, fazer aula de surf, falar mais uma língua, conhecer a Itália de moto e o Brasil de carro, adotar uma ou duas crianças. “Eu vou viver até 108 anos, vou ter tempo para isso.” Vai mesmo, só tem 29 anos e já se deparou com o novo uma boa quantidade de vezes.

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Mas seu objetivo número um é viajar o mundo inteiro, até o momento já passou de vinte países. Em uma de suas últimas viagens esteve na África do Sul visitando o Kruger Park, alugou um carro – com mão invertida – fez safari e dormiu próximo aos animais, em bangalôs. Na América Latina, Bruno se encantou pela Bolívia, se interessa por conhecer lugares pouco divulgados e não costuma seguir rotas predefinidas. Compra passagem, reserva hospedagem, e vai embora sem roteiro.

Colheita compartilhada

Há três anos parece ter vivido um ponto de virada, foi quando se tornou mergulhador e entrou para a Umbanda. Fazendo um paradoxo, a sensação que ele tem ao mergulhar é a de voar. É como chegar em infinitos naturais e começar sozinho a tatear e enxergar um planeta novo, silencioso e extremamente calmo, e poder descobrir uma gama de tons não-terrestres. Bruno era ateu, não se configurava no tradicionalismo católico e não tinha uma referência de religião até visitar a umbanda, por necessidade interna e também por seu olhar curioso. Acredita em fé, espiritualidade e proteção, e o que o fascina é a viagem, o mundo que desbrava a cada ida ao terreiro em que trabalha. Está marcada no corpo sua relação com a umbanda, tem o braço direito fechado com uma tatuagem que ainda carrega simbolismos indígenas e de contemplação de elementos da natureza.

É apaixonado por Juiz de Fora, e tem a visão de impactar socialmente a comunidade onde a Chico Rei está instalada. Quer um dia que a empresa seja reconhecida como um negócio social e já busca parcerias e alternativas para transformar o Bairro Santos Dummont. Uma forma simples que ajuda a se conectar com a vizinhança é a horta de colheita compartilhada. Deseja também mudar a paisagem do entorno fazendo parcerias para pintar casas e também colaborar diretamente com o funcionamento e manutenção de uma escola, mas isso são planos futuros. “Juiz de Fora é assim, quem não conhece venha ver, a cada dia, um lugar melhor de se viver”, Bruno cantarola um samba do Mamão e acredita que aqui é terreno fértil para o novo.

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