Diante do ataque realizado por um adolescente de 13 anos em uma escola estadual da cidade de São Paulo, na manhã de segunda-feira (27), o jornalista especializado em Segurança Pública Ricardo Bedendo ressaltou, em entrevista à Rádio Transamérica nesta terça-feira (28), que o trágico acontecimento pode ser explicado por uma “crise de afetos” que a atual sociedade contemporânea está vivenciando. A declaração do pesquisador e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) aconteceu durante o programa Tribuna Transamérica, ancorado pelo radialista Marcelo Juliani. Além de vitimar a professora aposentada Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, que sofreu uma parada cardiorrespiratória após receber dez facadas do jovem, outras quatro pessoas foram feridas pelo estudante.
Na visão de Bedendo, a recente valorização dos discursos de ódio é diretamente responsável por criar um terreno propício para que ataques do tipo aconteçam. “É primordial ressaltar que estamos vivendo uma crise de afeto em nossa sociedade, com um aumento da intolerância e de políticas que defendem o armamentismo, além das próprias fake-news que servem como um combustível nesse ambiente todo. Essas coisas criam um reflexo na vida da gente. O que aconteceu ontem (segunda-feira) em São Paulo é emblemático, por que esse menino já vinha compartilhando discursos racistas e de violência em suas redes sociais há muito tempo”, avalia. De acordo com o portal Metrópoles, após ser indagado pela polícia, o adolescente afirmou que sofria “bullying” e sentia tristeza “há muitos anos”, e que planejava o ataque há aproximadamente dois anos, inspirando-se principalmente no “Massacre de Suzano”, ocorrido em março de 2019, no qual dois estudantes mataram sete pessoas e depois se suicidaram.
Questionado sobre a importância do ambiente familiar na prevenção dessa cultura de violência, o especialista argumentou que é necessário remontar principalmente às condições sociais e da própria convivência dos jovens nas escolas. “Por muitas vezes, a situação de vulnerabilidade não dá escolhas àqueles que vivem naquele contexto. Em minha tese de doutorado, tive a oportunidade de acompanhar aulas do Proerd, que é um programa realizado pela Polícia Militar dentro das escolas com o intuito de criar resistência às drogas e à violência, de uma maneira geral. Quando um policial perguntou aos adolescentes qual era o maior sonho da vida deles, eu vi um menino responder no chat que não possuía nenhum. Existe hoje uma expressão dentro dessa questão da violência escolar, que é chamada de clima escolar. Nós precisamos de novas políticas públicas que tornem essas crianças e adolescentes protagonistas de suas próprias histórias e das escolas, de maneira que as famílias também participem desse processo. Isso também envolve a própria estrutura física das instituições. Ou seja, essas mesmas políticas precisam ser criadas por pessoas que conheçam verdadeiramente a realidade das escolas públicas”, indicou.