Há pouco mais de 10 anos, os juiz-foranos voltaram a vislumbrar que o Rio Paraibuna, quem sabe um dia, poderia correr novamente limpo pelos mais de 30 quilômetros que cortam Juiz de Fora, da Zona Norte à Sudeste. No entanto, as obras de despoluição do Paraibuna, iniciadas em agosto de 2013, caminham a passos lentos, apesar da aceleração nos últimos anos, quando o tema passou a ser apontado como uma das prioridades da gestão municipal. O tratamento do esgoto gerado saltou de 7,4%, em 2021, para atuais 37%, segundo a Cesama. Mas para que todos os efluentes não sejam lançados diretamente nos córregos interligados ao rio ou nas águas do Paraibuna ainda é preciso muito empenho do poder público, que conta com investimento de R$ 130 milhões, sendo R$ 60 milhões de repasse e R$ 70 milhões de financiamento.
“Os trabalhos de despoluição do Rio Paraibuna continuam em andamento. A atual administração da Prefeitura mais do que quintuplicou o percentual de tratamento de esgoto em Juiz de Fora”, assegura o Executivo municipal, por meio de nota, acrescentando que o potencial de tratar os resíduos chega a 41%. “Porém, a Cesama tem optado por aumentar gradualmente o volume encaminhado para as Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), a fim de reduzir o impacto de um eventual mau cheiro.”
Ainda conforme a Prefeitura, a companhia segue investindo na implementação das redes coletoras tronco de esgoto nos córregos Tapera, São Pedro e Santa Luzia. Essas tubulações devem recolher o esgoto das redes das ruas e encaminhá-lo aos chamados interceptores, que completam o caminho até as ETEs, onde os resíduos são removidos. “Os próximos coletores a serem instalados serão nos córregos do Matirumbide e Yung”, resume a Administração pública, sem detalhar prazos.
ETE Santa Luzia não saiu do papel
O projeto de despoluição do Rio Paraibuna prevê a instalação de cerca de 40 quilômetros de extensão de redes de esgoto às margens do curso d’água e dos principais córregos: Tapera, Matirumbide, Yung, Santa Luzia e São Pedro. Em abril de 2021, as obras foram retomadas, e a Cesama ficou responsável por operar a ETE União-Indústria, situada no Bairro Granjas Bethel, região Sudeste, e em operação desde junho de 2020. A estrutura, orçada em R$ 25 milhões, permite vazão de até 860 litros por segundo, podendo tratar cerca de 65% do esgoto lançado na cidade.
Projeto para a ETE Santa Luzia, na Zona Sul, foi para análise ainda em 2021, mas não saiu do papel. A Prefeitura foi questionada pela reportagem sobre a atual situação do plano, mas não se manifestou a respeito. Também são previstas ampliações das ETEs Barbosa Lage e Barreira do Triunfo, na região Norte. O plano de limpeza do principal rio de Juiz de Fora ainda conta com cinco estações elevatórias de esgoto, das quais duas já estão concluídas, no Centro e na Vila Ideal, Zona Sudeste, com o objetivo de bombear os efluentes coletados pelos terrenos mais íngremes.
“Um dos grandes desafios das obras de despoluição é trabalhar com tubulações de grande porte. Em virtude disso, recortar o asfalto para a implantação das redes se mostrou inviável, uma vez que seria necessário interditar totalmente alguns trechos com grande fluxo de veículos, como a Avenida Brasil, o que geraria muitos transtornos no trânsito local. Para solucionar este desafio, a Cesama optou por utilizar uma tecnologia inovadora: a escavação de túneis subterrâneos que, além de garantirem a profundidade necessária à rede, reduzem os impactos ambientais de uma escavação a céu aberto em grande profundidade, bem como os transtornos no trânsito da Avenida Brasil”, explica a Cesama em sua página na internet.
Só no trecho entre a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e o Sport Club foram instalados cerca de 1.400 metros de tubulações, a fim de impedir que o esgoto caia diretamente no Paraibuna.
Coletores nos córregos
Segundo informações disponibilizadas pela Cesama em seu site, foram implantados 1,7 quilômetros dos quase quatro quilômetros previstos de redes coletoras nas margens do córrego Tapera. O curso d’água é considerado um dos maiores da cidade e passa pelos bairros Bom Clima, Bandeirantes, Eldorado e Santa Terezinha, na Zona Nordeste. A nova rede leva os efluentes domésticos, antes lançados diretamente no córrego, para a ETE União-Indústria.
Também um dos mais extensos da cidade, o Córrego São Pedro receberá, ao todo, 12 quilômetros de redes coletoras na Cidade Alta e no Vale do Ipê, em direção ao tratamento no Granjas Bethel. “Desse total, 5,2 quilômetros de tubulações já foram alocadas”, garante a Cesama, acrescentando que o Córrego Marilândia, um dos afluentes do São Pedro, tem 800 metros de redes coletoras nas suas margens e outros 500 nas vias próximas.
Já no Santa Luzia, foi prevista a instalação de 7,8 quilômetros de tubulações às margens esquerda e direita do córrego que corta o bairro, permitindo ampliar em mais 12% o volume de esgoto tratado na cidade, quando for instalada a ETE. O investimento do coletor tronco, anunciado em agosto de 2022, foi de R$ 12,2 milhões.