A sinalização de vias íngremes de Juiz de Fora, principalmente nas entradas e saídas da cidade, não tem sido suficiente para evitar os abusos de caminhoneiros, e o resultado, muitas vezes, é o transtorno no trânsito. A Tribuna acompanhou a situação na Garganta do Dilermando e na Alameda llva Mello Reis, no Bairro Santo Antônio, onde flagrou o desrespeito. O trânsito de veículos acima do limite permitido é considerado infração grave pelo Código de Trânsito Brasileiro(CTB), no artigo 231, e o infrator está sujeito a multa de R$ 127,69, perda de cinco pontos na carteira, além de ter o veículo retido. Já o artigo 187 proíbe o condutor de transitar em locais e horários não permitidos pela regulamentação estabelecida pela autoridade competente. A infração é considerada média, com multa de R$ 85,13.
Na Ilva Mello Reis, entre os bairros Jardim Esperança e Santo Antônio, na Zona Sudeste, a proibição abrange caminhões com capacidade acima de 3,5 toneladas. Uma placa instalada no trevo do Jardim Esperança sinaliza para que os condutores de veículos acima deste peso sigam pela União e Indústria até o Bairro Retiro. Apesar da placa, alguns motoristas optam por subir a alameda sob o risco de o veículo não suportar a via íngreme, tendo que voltar de ré. Na tarde de 18 de janeiro, dois veículos de grande porte desrespeitaram a restrição ao tentar subir a alameda, e um deles não conseguiu concluir o trecho. O motorista do caminhão bitrem, que estava carregado com sacos de carvão, foi obrigado a parar na lateral da pista, provocando congestionamento. A subida íngreme possui ainda curvas fechadas que dificultam o tráfego deste tipo de veículos até o Santo Antônio, em alguns casos provocando ultrapassagens perigosas de automóveis de menor porte, mesmo com a faixa contínua.
Do lado oposto da alameda, a proibição também existe, no trecho de descida. De acordo com a Settra, o caminhão que tiver capacidade acima da permitida não é autorizado a transitar nem mesmo se estiver sem carga.
“Trabalho em um condomínio no Jardim Esperança. De vez em quando, vou embora de carro com os meus patrões e sempre vejo um desses caminhoneiros parados na subida. Eles desrespeitam a placa e acabam atrapalhando os outros motoristas”, relata a doméstica Francelina Souza, 49 anos. Um dos moradores do local, que não quis ser identificado, defende os motoristas. “O problema é que muitos caminhoneiros não conhecem e não percebem a placa, que está colocada quase em cima do lugar onde eles têm que virar.”
Segundo o subsecretário operacional de Transporte e Trânsito, Eduardo Facio, a Settra irá avaliar a implantação de placas que indiquem com maior antecedência as proibições.
Rio Branco
Outro ponto de grande incidência de caminhoneiros que ignoram a sinalização é a Garganta do Dilermando. Uma placa instalada próximo ao número 227 da Avenida Rio Branco determina a proibição para caminhões com capacidade acima de seis toneladas. Antes desta indicação, o motorista que trafega pela via é orientado a seguir pela Rua Américo Lobo até o Bairro Santa Terezinha, evitando o trecho íngreme. Morador do local há 45 anos, o funcionário público Wilimar Andrade Silveira, 60, critica o local da placa que indica a proibição para veículos pesados. “Há anos solicito à Settra a colocação de uma placa de proibição no cruzamento da Avenida Rio Branco com a Américo Lobo. Antes da reformulação da avenida, havia uma placa que proibia e funcionava muito bem. Se o problema é não ter a placa para colocar no local, que transfiram a que está em frente à minha casa”, sugere. A Settra, porém, diz que a sinalização atual é suficiente: “Além da placa de proibição, existe outra, na altura da Avenida Governador Valadares, que orienta os condutores dos veículos pesados para que entrem na Américo Lobo. O motorista que for para a região do Grama, Bairu ou mesmo cidades como Ubá tem que dar a volta por Santa Terezinha. Ali não pode haver proibição porque eu não posso restringir o acesso às ruas Sergipe e Alves Júnior”, explica.
Wilimar diz já ter presenciado várias situações em que motoristas tiveram que descer de ré a avenida, já que o veículo não suportou chegar ao topo.
Condutores sugerem reforço na sinalização
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Juiz de Fora e Região, Paulo Tadeu Azevedo, reprova a ação dos caminhoneiros e diz que, na maioria dos casos, as infrações são cometidas por condutores inexperientes. “Alguns acham que vão conseguir subir e forçam o veículo. Outros com pouco tempo de rodagem abusam. Eles têm que ver que é muito mais perigoso voltar de ré, do que descendo o morro de frente. Quem é motorista de longa data acaba se resguardando e seguindo pelo trecho correto”, afirma.
O sindicalista reforça os problemas da sinalização nos locais. “É necessário colocar mais placas de orientação, de preferência de tamanho maior. Quanto mais sinalização, melhor”. Além disso, Azevedo critica a subida de coletivos urbanos pela Garganta, alertando para os riscos aos passageiros. “É um perigo. Além do tráfego de carga, deveria ser proibido para o transporte de passageiros. O motorista que desce com 20 ou 30 passageiros, pode ter alguma complicação.”
O subsecretário da Settra informa que as linhas que trafegam pelo trecho são de capacidade adequada. “São poucas linhas de ônibus, implantadas após um estudo”, explica.