Os ferros-velhos de Juiz de Fora seguem na mira da Polícia Civil, que busca minimizar os prejuízos causados aos cofres públicos e à população em geral pelos recorrentes furtos de cabos elétricos, tampos metálicos e demais materiais do tipo, sobretudo de cobre, normalmente comercializados nesses estabelecimentos. Só neste ano, a Cesama registrou 18 furtos em suas unidades espalhadas pela cidade, entre elevatórias de água, de esgoto e reservatórios. Para reparação dos danos e reposição de equipamentos, a companhia teve que investir R$ 68.315. De olho nesses crimes, que impactam serviços essenciais, como fornecimento de água, luz e internet, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e diversos órgãos de segurança pública deflagraram a “Operação Hefesto IV” no último dia 15.
Na área de responsabilidade da Cemig em Minas Gerais, esse tipo de delito está concentrado no hipercentro de Belo Horizonte, onde há a maior extensão da rede subterrânea da companhia, com fiação de cobre em sua composição. O prejuízo anual gira em torno de R$ 1 milhão. De janeiro até 28 de novembro foram furtados 8,17 quilômetros de fios, totalizando R$ 919 mil. O saldo do dano desde 2019 é de 28 quilômetros, causando rombo de R$ 4,2 milhões. “Já em relação aos clientes residenciais e comerciais, a maior parte das ocorrências de falta de energia, em razão de furto de cabos de cobre, acontece nas redes internas das instalações, que são de responsabilidade do cliente, como padrões de entrada ou cabos dos circuitos internos das instalações”, destacou a companhia.
Entre os alvos recentes dessa modalidade delituosa está a sede da Rede Tribuna de Comunicação, situada no Bairro Estrela Sul. Ladrões voltaram a agir pela terceira vez no último fim de semana, levando cabos de áudio e de antena parabólica. Os furtos foram constatados na segunda-feira (26), e nem a cerca instalada após a última investida criminosa inibiu os bandidos. Outra ação, em 9 de outubro, causou a interrupção das rádios Mix e Transamérica, devido ao corte de fios.
Para alertar a população e orientar nos procedimentos, a Cemig preparou uma série de informações sobre o assunto. “É um crime que está aumentando muito na área de concessão, principalmente nos grandes centros urbanos. Essa ação criminosa interrompe de forma inesperada o fornecimento de energia no imóvel do cliente, causando prejuízo e outros transtornos.”
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Delegado não acredita em ação de quadrilhas
Com base na última operação conjunta realizada na cidade para combater a receptação ligada a essa modalidade criminosa – a Hefesto IV -, a Tribuna conversou com o titular da 6ª Delegacia de Polícia Civil, delegado Hamilton Joaquim da Silva. Ele considera que a maioria das vendas de materiais metálicos furtados é feita diretamente a ferros-velhos. Além de fiações de cobre, que têm alto valor de negociação, ele pontua que costumam ser levadas até esquadrias de janelas.
Apesar da incidência desse tipo de crime, o policial não acredita em ação de quadrilhas. “Até agora, levantamos que são casos isolados, muitos deles praticados por moradores em situação de rua e usuários de drogas. Eles vendem próximo aos lugares onde furtam ou onde vivem, porque não têm condições de se deslocar.”
Diante da dificuldade de combater tantos furtos pulverizados pela cidade, o delegado enfatiza que as ações são voltadas para coibir a receptação dos produtos, principalmente nos ferros-velhos. “Estamos investigando se estão vendendo para um receptador específico, passando de uma vez no atacado. Acreditamos que tem pessoa adquirindo esse material mais nobre. Estariam se arriscando porque têm comprador certo”, revela Hamilton.
Segundo ele, a Hefesto IV foi focada na Zona Sudeste por ser uma área com grande concentração de ferros-velhos. “Fizemos vistorias nesses estabelecimentos da região, onde também há muitos moradores em situação de rua.
” Como a maior parte dos furtos ocorre nas madrugadas, dificultando prisões em flagrante, o delegado avalia que nem costumam caber prisões preventivas, já que a pena para furto simples é de um a quatro anos de detenção, sendo considerado crime de menor potencial ofensivo. Por isso, é necessário o combate na outra vertente, a da receptação, já que, sem comprador, o furto desses materiais deixaria de ser atrativo. “Estamos atuando nas duas pontas: identificando e prendendo quem está furtando e fiscalizando os estabelecimentos, buscando elementos para indiciar os receptadores.”
Ladrões fazem ‘limpa’ no Hospital Regional e no antigo prédio da Settra
Neste ano, pelo menos dois prédios foram “limpados” por bandidos na cidade. Em 11 de agosto, a Tribuna publicou matéria mostrando que uma série de furtos no prédio historicamente ocupado por secretarias municipais de trânsito, como a Settra e a Gettran, mobilizaram a Polícia Militar. O edifício situado no número 72 da Rua Maria Perpétua, no Bairro Ladeira, Zona Leste, foi “desmontado” por invasores, que entravam no local em busca de objetos de valor, sobretudo fiações e peças metálicas. Um vídeo divulgado nas redes sociais mostrou suspeitos carregando até janelas. Alguns chegaram a ser presos em flagrante.
Outro alvo constante de criminosos é o prédio em obras do futuro Hospital Regional. Em 14 de julho, a Polícia Civil prendeu dois homens, de 30 e 47 anos. Após investigações, foi possível monitorar a prática criminosa e flagrar o momento em que a dupla estaria procurando um ferro-velho para vender os produtos furtados. O responsável pelo estabelecimento, 30, que teria comprado os materiais, também foi detido por receptação qualificada. “Quando eu trabalhava no plantão, recebia muita ocorrência. Acabaram com o hospital, só ficou a parte de alvenaria”, dispara o delegado Hamilton.
O titular da 6ª Delegacia lembra ter sido feito um grande levantamento de ferros-velhos para a Hefesto IV. “Essa foi a primeira fase. Não teve prisão, porque não achamos materiais de origem ilícita, mas houve muitas autuações por parte da PJF e dos bombeiros. Continuamos a investigar essas pessoas”, garante. No total, 13 documentos de autuação foram emitidos a proprietários de ferros-velhos e depósitos de sucatas por irregularidades diversas. Outras três operações semelhantes já foram realizadas, duas em 2021 e outra em abril de 2022.
A PJF enfatiza que medidas administrativas também foram adotadas para regularizar a comercialização de materiais metálicos. “A publicação da Lei 14.391, em 12 de abril, minimizou a ocorrência de furtos de materiais em cobre na cidade. A norma é um importante instrumento para reprimir os crimes de furto e receptação. A partir dela, as empresas estão obrigadas a manter cadastro atualizado dos fornecedores dos itens adquiridos, origem, quantidade e data de compra para apresentação aos órgãos fiscalizadores.” Já o preenchimento de formulário digital para cadastro de materiais em cobre adquiridos por ferros-velhos da cidade passou a ser feito em agosto, “favorecendo o registro de proprietários, a fiscalização e a redução de furtos”.