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Trabalho multiprofissional como arma para o combate à depressão infantojuvenil

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O ponto em comum entre todos os especialistas e participantes da “Mesa-Redonda Depressão na Infância e na Adolescência”, realizada na noite de terça-feira (26), é a necessidade de ouvir as crianças, estar atento ao comportamento delas e, ao identificar a presença de sintomas que podem estar ligados à depressão, buscar o tratamento. Além disso, esteve em pauta a contribuição que cada especialidade pode dar e como todas elas devem estar integradas e centralizadas nas necessidades dos pacientes. Há uma necessidade declarada de acolhimento das famílias e da continuidade das ações em saúde. A intervenção forte nesse momento pode evitar a projeção comentada pelo pediatra Antônio Aguiar, que aponta que 50% da população em 2040 apresentará algum problema mental. Nesse cenário, não haveria número de profissionais suficiente para atender à demanda.

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A psiquiatra Márcia Helena Fávero de Souza ressaltou a importância de interpretar todos os sinais e todas as falas dos pequenos pacientes. Além disso, ouvir e entender os pais e a escola. O diagnóstico, reforça ela, é fundamental, não se deve negligenciar as situações. Só a partir dele será traçado um caminho terapêutico único, individualizado para a necessidade daquela criança. Com o percurso de cuidado definido, é possível evitar o impacto negativo sobre o desenvolvimento. “No episódio depressivo em que a criança e o adolescente são diagnosticados e tratados, a melhora clínica é de 90%. Ou seja, a boa notícia é que a maior parte se recupera.” O paciente, conforme a psiquiatra, deve entender o que está acontecendo com ela e também frisou que o tratamento farmacológico exige critérios racionais e deve ser muito bem justificado, com administração responsável e gradual.

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Para a psicanalista e psicóloga Lucia Britto, as crianças respondem a uma mudança nos signos e cargas simbólicas ensejadas pela presença constante da tecnologia. Para ela, aprender com a falta e com a perda é primordial. Por isso, os pais têm um papel cada vez mais forte em estabelecer limites e inibir os excessos. Doses de investimento afetivo, de amor e tolerância também entram nessa conta, porque elas se sentem sozinhas, desamparadas e vazias, enquanto criam mecanismos para lidar com a dor. As crianças, segundo ela, precisam voltar a brincar.

O papel da educação

Em um cenário em que existe uma expectativa muito alta sobre atuação da escola, mas, ao mesmo tempo, há uma desvalorização dos profissionais, especialmente de escolas públicas, em um contexto de violência que atinge a toda a sociedade, o papel das instituições de ensino se torna ainda mais complexo. Há, segundo a doutora em educação Dea Pernambuco, forças antagônicas, e as escolas ficam no meio. “A palavra final é: socorro!” disse ela. Também a escola deve se fortalecer. Porque além da observação dos sintomas em casa, na escola há muitos olhos voltados para a criança, e muitas fontes de informação. O professor pode falar sobre uma mudança no rendimento ou na participação dos alunos, também pode notar a sonolência e mudanças de humor. Os demais profissionais, como porteiros, secretários e merendeiras, também podem notar alguma situação de bullying, a ocorrência de perda ou ganho de apetite, a presença do choro ou do isolamento, entre outras situações.

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“Os profissionais da educação precisam de orientações dos terapeutas para somarem no trabalho. Além de identificar os sintomas, eles precisam ter informações sobre como encaminhar as famílias para o tratamento. Eles também devem ter uma postura ativa quando o aluno precisar de um reforço por apresentar lentidão ou dificuldade em acompanhar os conteúdos”, afirmou Dea Pernambuco. As estratégias preventivas também devem envolver a toda comunidade escolar, não sendo atribuídas somente aos diretores ou professores. “Se melhorarmos as condições para aqueles que sofrem, todos os outros se beneficiam. Dá trabalho, mas é possível fazer e fazer bem feito.”

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