Juiz de Fora é a cidade mineira com mais casos confirmados de febre amarela, segundo boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) divulgado nesta terça-feira (27). O município já tem 36 registros da doença, sendo nove óbitos e 27 internações. Contabilizando os municípios que compõem a gerência regional de Saúde de Juiz de Fora, são 71 casos na região, com 32 mortes e 39 internações. A regional é a segunda no ranking da febre amarela, perdendo apenas para a região de Belo Horizonte. Em todo o estado, 413 casos foram confirmados, com 145 óbitos.
Com a atualização, Juiz de Fora tem mais duas mortes e uma hospitalização por febre amarela desde a semana passada. A cidade ultrapassou Mariana, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, que tem 34 casos. Em terceiro lugar no ranking está Nova Lima, também próxima à capital, com 31 confirmações. Os três municípios são aqueles com mais casos da doença desde que o Estado decretou situação de surto de febre amarela, no fim de janeiro deste ano.
Proporcionalmente, Juiz de Fora tem quase dez vezes mais habitantes em comparação com Mariana e cerca de 470 mil habitantes a mais que Nova Lima, o que demonstra que a situação naquela região é mais grave. Porém, fazendo a comparação inversa, com cidades cuja população é pouco maior que Juiz de Fora, o número de casos é bem menor. Em Contagem, cidade com cerca de 670 mil habitantes, foram confirmados seis casos da doença, sendo dois óbitos. Em Belo Horizonte, onde há 2,5 milhões de habitantes, oito casos foram confirmados até agora, com três mortes.
Análise
Para o infectologista e chefe do setor de Vigilância em Saúde do Hospital Universitário da UFJF, Rodrigo Daniel de Souza, vários fatores podem contribuir para que Juiz de Fora tenha incidência tão alta da doença. “Não existe uma hipótese única, é multifatorial. Temos uma cobertura vacinal cujos dados não são pessoais. Não temos como saber quantas pessoas foram vacinadas, e sim quantas doses foram distribuídas. Como as unidades de saúde não têm espelho dos cartões de vacinação, pode ser que pessoas que já eram vacinadas tenham buscado a imunização novamente”, explica.
Segundo o especialista, outro fator seria a grande presença de mata na cidade. Considerando que os mosquitos Haemogogus e Sabethes preferem essas regiões, é possível inferir que há alta circulação do vírus e de vetores em Juiz de Fora. “Temos alta circulação do vírus, comprovada pelo alto número de mortes de macacos por febre amarela na cidade. Além disso, temos matas para todos os lados. A cidade cresceu, mas preservando tentáculos de mata, que são regiões de entrada para os vetores da doença.”
O rápido aumento da sensibilidade para notificação da doença, ou seja, quando os profissionais de saúde registram e tratam um paciente que apresenta qualquer sintoma, também pode ter contribuído para que a cidade tenha muitas confirmações. Segundo o especialista, a Secretaria de Saúde orientou os profissionais de saúde logo no início do surto, o que pode não ter ocorrido em outras cidades do estado, ocasionando uma situação em que mortes por febre amarela eram registradas com outras causas.
Mais de 400 casos no Estado
Conforme o boletim epidemiológico da SES, já foram confirmados 413 casos de febre amarela em todo o estado somente neste ano. Destes, 258 foram internações e 145 evoluíram para óbito. Outras 580 suspeitas em pacientes vivos continuam em investigação, assim como 27 mortes. Os dados são referentes ao período que compreende o mês de julho de 2017 até esta terça. Este período de monitoramento vai até junho deste ano. Em comparação com o período 2016/2017, a situação é mais preocupante, já que as confirmações quase ultrapassam os 475 casos confirmados naquele período.
Outro agravante é a taxa de letalidade da febre amarela. Até esta terça, o índice de mortalidade era de 35,1%. Do total de pacientes infectados, 359 eram homens e 54 eram mulheres. Do número de mortes, oito vítimas eram do sexo feminino. A média de idade dos casos confirmados é de 48 anos, sendo que a maioria dos casos foi registrada em pessoas com idade entre 40 e 49 anos.
A SES também atualizou os dados de cobertura vacinal no estado, que é de 91,53% da população. A estimativa é que 1,6 milhão de mineiros ainda não tenham se imunizado. Onze é o total de pessoas vacinadas previamente com confirmação da doença.
No total, 17 municípios pertencentes à regional de Saúde de Juiz de Fora tiveram casos. Na região de Barbacena, 25 pacientes foram internados com a doença e 21 evoluíram para óbito. Eles são oriundos de 16 cidades. Na região de Ubá, sete casos e três mortes foram contabilizados em quatro municípios. Na região de Leopoldina, apenas Santo Antônio do Aventureiro tem confirmação da doença, com um óbito.