Entre as 198 cidades da Zona da Mata e Vertentes, 93 estão em surto, o que representa 47% do total. Em todo o estado, são 373 municípios em situação alarmante, um percentual de 43,7%. Contabilizando as regionais mais próximas a Juiz de Fora, pelo menos 65 cidades estão em epidemia de dengue. No início do mês, eram 51 municípios. Apenas em 2016, Minas registrou 217.110 casos prováveis de dengue, ultrapassando todo o ano passado, quando foram 196.555 pessoas infectadas com a doença. Vinte e nove óbitos foram confirmados e outros 109 estão em investigação. Juiz de Fora é a cidade com maior registro de mortes, contabilizando oito casos. Em seguida está Belo Horizonte, onde seis pessoas faleceram por dengue. Divinópolis e Monte Carmelo registraram dois óbitos cada. Os restantes ocorreram em Abaeté, Além Paraíba, Araxá, Bicas, Espera Feliz, Ibirité, Mutum, Patrocínio, Pompéu, Raposos e Recreio, com um registro cada. Dessas, cinco cidades pertencem à Zona da Mata, a região com maior índice de epidemia juntamente com a região Centro, que engloba a Grande Belo Horizonte (ver mapa).
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Divinésia é a cidade com maior coeficiente de infestação da região e o segundo maior do estado. O coeficiente leva em consideração o número de casos pelo número de habitantes. Um índice acima de 300 casos por cem mil habitantes é considerado como epidemia. Em Divinésia foram notificados 244 casos prováveis de dengue, conforme o último Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES), que é defasado já que há um lapso temporal até as notificações chegarem para a secretaria. A população da cidade é de 3.427, o que gera um número de 7.120 casos/cem mil habitantes. Descoberto é a segunda cidade mais infestada da região e a quinta do estado, com 317 notificações para 4.989 habitantes (ver quadro). A Tribuna entrou em contato com a Prefeitura de Divinésia e de Descoberto, mas não obteve retorno.
Regionais
Vinte e três municípios pertencentes à Superintendência Regional de Saúde de Ubá estão em epidemia. É a regional com maior número de cidades em situação alarmante. A Tribuna entrou em contato com a regional que informou que apenas a SES estaria autorizada a falar sobre o assunto. A SES, por sua vez, relatou, na última quarta-feira, que, devido ao feriado, não havia nenhum especialista da área para explicar a situação.
Na regional de Juiz de Fora, 16 cidades estão com surto da doença. Conforme o superintendente Regional de Saúde, Oleg Abramov, um recurso de R$ 729 mil já foi repassado para a superintendência. “É um recurso extra e flexível que irá ajudar no combate à dengue.” O superintendente conta que, na região, está sendo empenhado o UBV pesado, que são os carros de fumacê. “Tivemos uma dificuldade de aquisição de inseticida porque só pode ser comprado pelo Ministério da Saúde, e a demanda aumentou muito. Mas já estamos normalizando. Também estamos fazendo o acompanhamento da rede assistencial para ver como os pacientes estão sendo remanejados.” Oleg enfatiza que o país está vivendo uma situação atípica. “Não temos como avaliar se estamos perto do pico ou se irá se estender, mas temos a certeza de que terá que haver atuação o ano inteiro e não mais apenas no pico da epidemia.”
Juiz de Fora
Em Juiz de Fora, o número de pessoas infectadas pela dengue subiu de 5.935 para 6.716 na última semana. Foram 781 novos casos, já ultrapassando os 4.518 registrados em todo o ano passado. Além das oito mortes confirmadas, outras nove estão sendo investigadas.
Moradores estão alarmados em várias cidades
Alarmados, moradores das cidades vizinhas têm registrado flagrantes de situações que propiciam a proliferação do Aedes aegypti, vetor da dengue, da chikungunya e do zika vírus, e divulgado os descasos nas redes sociais, principalmente no Facebook. Em Bicas, muitas foram as denúncias, que vão desde sujeira e lixo espalhados, como garrafas, pneus, madeiras e baldes, até sofás, móveis, peças e carcaças de carros abandonados e bota-foras irregulares em vários pontos da cidade. Uma escola particular e o almoxarifado da Prefeitura estão na lista dos locais dos flagrantes. Conforme o prefeito de Bicas, Geraldo Magela (PTB), a Administração conseguiu junto ao Estado recurso para a locação de um caminhão que irá realizar a coleta de entulhos pela cidade. “O caminhão começou a atuar na última terça-feira, e estamos fazendo anúncio nos bairros conclamando a população para que coloque na coleta objetos que possam servir para proliferação da dengue.” O chefe do Executivo ainda anunciou que, nesta semana, os carros de fumacê irão começar a circular pela cidade. “Nossos agentes já fizeram um curso em Juiz de Fora e, até terça-feira, devem começar o serviço.”
Já na parte assistencial, a Prefeitura irá liberar um recurso extra para ampliação dos atendimentos dos casos no Hospital São José de Bicas, que é filantrópico. “Também estamos ampliando os atendimentos na policlínica. Já pedimos aos médicos que realizavam um número limitado de atendimentos para que ampliem esse número de consultas.” O município, que possui 14.342 habitantes, já registrou 275 casos prováveis de dengue, conforme o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES). Além da morte de uma idosa de 90 anos que foi confirmada, outro óbito de uma mulher está em investigação.
Em Além Paraíba, a dengue vitimou um idoso de 84 anos. A cidade também confirmou um caso de chikungunya e possui uma criança de 11 anos internada com suspeita de Síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune rara que tem sido associada ao zika vírus. A secretária de Saúde do município, Júlia Knop, acredita que está faltando conscientização da população. “Os agentes de campo têm sido incansáveis, mas estão enxugando gelo. Trabalham, trabalham, trabalham e, no outro dia, está tudo do mesmo jeito. Falta conscientização, embora estejamos batendo sempre nessa mesma tecla.” Ela conta que o pico da dengue ocorreu na segunda semana de janeiro, quando houve 190 casos. Já na semana epidemiológica sete, em fevereiro, os números começaram a cair, com registro de 107 pessoas com suspeita de dengue. Na semana passada, houve 16 notificações. “Não temos boas expectativas. Essa queda não quer dizer que os índices baixos irão se manter. Em abril, deve voltar a ter pico. Temos casos vindos de fora, mas isso não livra o município de uma epidemia. Não estamos acomodados. Estamos trabalhando como se tivéssemos 200 mil casos”, enfatiza a secretária, que também é infectologista.
Santana do Deserto quase decretou estado de emergência para a dengue. No entanto, o decreto não foi preciso, conforme o prefeito do município, Valdesir Botelho (PSD). “Em meados de fevereiro, após o carnaval, apareceu a maioria dos casos. Foram duas semanas turbulentas. Estávamos com 59 casos confirmados e começamos a fazer o trabalho de combate (com o UBV costal). Tivemos uma resposta rápida. Hoje está estabilizado.” O prefeito conta que foi a primeira vez que Santana do Deserto passou por um surto da doença. “Tivemos quase 30 pessoas tomando soro no posto. Para uma cidade de quatro mil habitantes, é assustador.” Até o momento, 86 casos foram notificados no município acarretando um índice de 2.147 casos/cem mil habitantes (ver quadro).
Ações criativas
Com o registro da morte de um idoso de 97 anos por dengue, o município de Recreio está buscando ações criativas para tentar conscientizar as pessoas do combate ao Aedes aegypti. Conforme o coordenador de epidemiologia, Malcon Peres, além das campanhas de conscientização realizadas com palestras nas escolas, por meio da rádio e pela distribuição de panfletos nos bairros, no final de semana passado, um conjunto de ações chamou a atenção dos moradores. No dia 18, houve uma passeata pelas ruas da cidade envolvendo todas as escolas. Já no dia 19, foi realizado o Dia D de Combate à Dengue, onde as pessoas levaram recipientes que poderiam servir para reprodução do mosquito e trocaram por cupons para concorrer a prêmios, como tablets e bicicletas. “Nessa ação, retiramos mais de um caminhão de lixo.”
O coordenador conta que, até o dia 19 de março, houve 252 notificações. “Tivemos um pico na semana sete (meados de fevereiro), com 37 notificações. Depois, os números foram caindo. As ações estão tendo resultados, mas ainda estamos com alto índice de infestação.”