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Zona Leste tem 74 chamados dos 100 registrados pela Defesa Civil

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Bombeiros ainda buscam mulher desaparecida após tempestade (Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros)
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As fortes chuvas que castigam Juiz de Fora estão deixando um rastro de destruição. Além de uma pessoa desaparecida, a cidade contabilizou 100 ocorrências do dia 24 até a tarde desta quarta-feira (26), sendo 74 só na Zona Leste, a mais afetada. Na região, o Demlurb realizou a retirada de 110 caminhões de lama e entulho. O trabalho começou às 7h desta terça (25) e prossegue nesta quinta (27).

Só nesta quarta-feira (26), a Defesa Civil de Juiz de Fora recebeu 41 chamados, mobilizando quase 300 servidores da Prefeitura. Graminha registrou o maior índice pluviométrico: 27,34 mm em seis horas, seguido de Monte Castelo, 23,25 mm e Passos Del Rei, 23,01 mm. O Rio Paraibuna voltou a subir, atingindo 2,10 metros. Sete famílias estão desalojadas.

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A região Leste de Juiz de Fora é a que mais sofreu com os impactos da forte chuva ocorrida na última segunda-feira (24). Em pouco mais de uma hora, a tempestade contabilizou o acumulado de 72,6 milímetros, o correspondente a 23% de toda a precipitação esperada em dezembro, o segundo mês mais chuvoso do ano. As rajadas de vento chegaram a 59 quilômetros por hora, conforme informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O nível do Paraibuna chegou a subir mais de 1,2 metro, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos. Ao mesmo tempo, córregos transbordaram e intensificaram as inundações. Ainda assustados com a situação calamitosa, moradores e comerciantes dos bairros Vitorino Braga, Três Moinhos e Linhares iniciaram esta quarta-feira (26) realizando a limpeza de casas e lojas enquanto ainda contabilizavam os prejuízos. Há famílias que, além de perderam todos os móveis e eletrodomésticos, ainda tiveram a estrutura da casa danificada e, por isso, temem novas chuvas. Contando com a solidariedade de parentes e amigos, as vítimas cobram maior assistência e apoio do Poder Público.

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No Bairro Vitorino Braga, os moradores afirmaram que nunca presenciaram uma chuva com proporções tão drásticas. “Em 2008, aconteceu uma enchente, mas nada comparado com o que ocorreu agora. Perdi tudo: móveis, geladeira, fogão, microondas”, contou ainda abalada a dona de casa Silvana Pacheco dos Santos, 44 anos, que mora com dois filhos e dois cachorrinhos. “Agradecemos que estamos todos bem, mas foi de uma hora para outra que a água começou a invadir a casa e o barro tomou conta de tudo.”

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Dentre as ruas mais afetadas estão Vitorino Braga, Heitor Guimarães, Jesus de Oliveira, Rua do Monte, Garibaldi Campinhos e o Beco Garibaldi. Neste último, cerca de dez famílias perderam praticamente tudo. A situação mais difícil é de Renata da Silva, que está desempregada e é mãe de gêmeos com 1 ano e 11 meses. “A nossa sorte foi que tínhamos ido celebrar o Natal, pois a água atingiu uma altura maior do que a minha. Se estivéssemos aqui, não sei se estaríamos vivos”, disse emocionada. Na casa, um colchão na sala acolhe as crianças e uma mesa na cozinha guarda os alimentos recebidos. “Os próprios vizinhos que sabem do que estou passando, desde que o pai das crianças nos abandonou, já direcionam as doações para nós.” Além de alimentos, a família necessita de roupas, fraldas, leite, móveis, eletrodomésticos e artigos infantis. “Perdi o carrinho dos gêmeos e os brinquedos.”

Comércio

O comércio do bairro também foi fortemente atingido. Muitos estabelecimentos alagaram e estão sem condições de funcionamento. “Nós fechamos mais cedo na segunda, não tinha ninguém na loja. Soubemos dos estragos quando uma vizinha postou foto nas redes sociais”, disse o proprietário da distribuidora de água Disk Água, Jorge Reis. Segundo ele, fora a perda de galões e descartáveis, há o prejuízo do período sem trabalhar. “No calor, vendemos, em média, 200 galões por dia.” No Bazar da Márcia, muitas peças de roupa e sapatos foram perdidos. “Infelizmente, não temos o que fazer. A água subiu demais, mesmo a loja estando acima do nível da rua”, lamentou a proprietária Márcia Gomes da Silva. “Estamos aqui há 23 anos, e é a primeira vez que vejo uma coisa dessas.”

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Pânico no Bairro Três Moinhos

Restos de móveis e eletrodomésticos ocupam ainda as calçadas da Rua Diva Garcia, no trecho do Bairro Três Moinhos. No local, além das perdas materiais, há relatos de momentos de pânico durante a chuva. A moradora Judith Reis, 77 anos, e a filha Mara, de 43, ficaram presas na sala enquanto a água invadia a residência. “Minha mãe perdeu tudo, mas o pior foi o abalo psicológico. A força da água impediu que abrissem a porta. Elas acionaram os bombeiros pela chamada de emergência. A equipe conseguiu chegar 50 minutos depois”, conta o filho de Judith, Júlio Augusto de Mattos, que esteve no local para ajudar na limpeza. “Estamos contando com amigos e parentes, pois as autoridades não estiveram aqui para oferecer apoio”, afirma Júlio.

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Moradores da Rua Professor Lander, no Vitorino Braga, ainda enfrentam consequências da tempestade (Foto: Fernando Priamo)

Na mesma rua, a moradora Iara Glória de Sá, 61, teve que sair de casa após as paredes do imóvel serem derrubadas pela inundação. “Ela mora aqui há mais de 30 anos e nunca tinha passado por algo assim, nestas proporções. Ela perdeu tudo. A parede do quarto caiu, e o banheiro está completamente destruído. Eu vim ajudar a limpar junto com outros familiares, pois ela ainda está bastante assustada”, disse o irmão Osvaldo Tadeu de Sá.

Na casa ao lado, o vizinho Leonardo da Silva, 25, se desfazia do microondas e da TV, que foram estragados pela chuva, enquanto contava o momento de desespero vivido pelo irmão Cláudio, de 36. “Ele estava em casa na hora que começou a alagar. Em pouco tempo, a água chegou até a altura do pescoço e, por isso, ele teve dificuldades para sair.” Os três irmãos que vivem na casa estão abrigados em casa de parentes. “A Defesa Civil não veio aqui, e estamos com medo de um desmoronamento. Vimos duas funcionárias passando pelo bairro, mas elas disseram que nós temos que acionar por telefone. Só que não temos como ligar, perdemos tudo”, relata. “A gente luta para comprar, e perde assim, de uma hora para outra. Uma situação tão difícil.”

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Ruas estão intransitáveis no Linhares

No Bairro Linhares, há vias que estão intransitáveis por conta da concentração de lama e entulho. Dentre os endereços mais atingidos estão as ruas Itália, Cezarino Gomes de Oliveira e Diva Garcia. A água invadiu residências e estabelecimentos comerciais, que ainda não têm previsão para reabrirem as portas. Também por conta da chuva, a UBS do bairro ficou fechada nesta quarta. De acordo com a Prefeitura, a recepção e o vestiário ficaram cobertos pela lama. Nenhum equipamento foi danificado, mas, por causa da falta de energia elétrica, 500 doses de vacinas foram perdidas.

O eletricista Marco Antônio de Souza, 51, se dividiu entre a limpeza da loja, onde funciona um escritório, e a residência da irmã Elizeth. “Na casa dela não teve jeito, a perda foi total. A água era tanta que os vizinhos precisaram arrombar a porta para tirá-la de lá. Aqui na loja está mais tranquilo, só mesmo fazendo a limpeza porque a lama tomou conta.” A aposentada Gilda Francisco de Menezes, 70, diz que também passou a noite de Natal limpando os estragos da chuva. “Perdemos sofá, estante, guarda roupa”, enumera. “Minha filha é dona da Frangolândia, e, por pouco, não perdeu equipamentos. Precisamos amarrar com corda, pois a pressão da água era muito forte. Já os alimentos, nós não tivemos como salvar.”

Duas assistentes sociais da Defesa Civil e profissionais do Centro de Referência em Direitos Humanos, ligado ao Governo de Estado, estão no local para prestar auxílio às vítimas. Na avaliação da equipe do centro, o ideal seria que o Município organizasse uma força tarefa para mapear as demandas dos moradores atingidos. Segundo a Prefeitura, toda equipe da Defesa Civil está na rua fazendo o atendimento e prestando a assistência necessária. Até a manhã desta quarta-feira, foram registradas 59 ocorrências, a maioria na Região Leste. A ação conta com o apoio da Secretaria de Obras, com prioridade aos trabalhos de rescaldos nos pontos mais atingidos. Equipes do Demlurb também trabalham na limpeza das ruas.

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Osvaldo Tadeu de Sá mostra a altura que a água atingiu na casa da sua irmã, Iara, no Bairro Três Moinhos (Foto: Fernando Priamo)

23% das chuvas do mês em uma hora

Os números da forte tempestade impressionam. Para se ter ideia, a estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), instalada no campus da UFJF, contabilizou acumulado de 72,6 milímetros em pouco mais de uma hora. O valor representa 23% de toda a precipitação esperada em dezembro, o segundo mês mais chuvoso do ano. As rajadas de ventos, conforme a mesma estação, chegaram a 59 quilômetros por hora.

Em alguns pontos da cidade, o acumulado de chuvas foi ainda mais representativo. Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que mantém pluviômetros espalhados por todo o município, mostram que em Igrejinha, na Zona Norte, choveu 78 milímetros, enquanto que no Bairro de Lourdes, 71 milímetros.

Já o nível do Paraibuna chegou a subir mais de 1,2 metro durante a tempestade, conforme o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos. Ao mesmo tempo, córregos transbordaram e causaram transtornos. Esse foi o caso, por exemplo, dos bairros Democrata, onde mais da metade de uma ambulância ficou sob a água, e o Santa Luzia.

No Centro, na Zona Norte e em parte das regiões Sul e Leste os moradores tiveram que enfrentar pontos de alagamentos. A Avenida dos Andradas foi uma que chegou a ficar tomada pelas águas na altura do Largo do Riachuelo. Além disso, bairros ficaram sem luz por causa da queda de árvores e postes.

Previsão meteorológica

A semana ainda deve ser de tempo instável em Juiz de Fora e toda a Zona da Mata, por causa da atuação de uma frente fria de origem oceânica. Este sistema meteorológico está associado a outro, conhecido como Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que cria um canal de umidade entre o Norte e o Sudeste brasileiro. Típica do verão, a ZCAS é caracterizada por grandes volumes de precipitações que podem durar até mais de um dia.

Alerta divulgado pelo Inmet aponta que a quarta-feira ainda será de acumulado significativo de chuvas na Zona da Mata, Rio Doce, região Metropolitana, Campo das Vertentes e Triângulo Mineiro. Em Juiz de Fora, os termômetros tendem a registrar  entre 16 e 25 graus.

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