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Mitos sobre o Aedes aegypti dificultam prevenção de doenças

aedes Foto PAHO WHO
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O Aedes aegypti é um mosquito da família Flaviridae, conhecido popularmente como “mosquito da dengue”. Desde 2015, porém, o Aedes tem transmitido também a zika e a chikungunya, fato que tem gerado especulações e controvérsias sobre possíveis mutações sofridas pelo inseto. A disseminação de notícias e informações falsas sobre o mosquito tem preocupado especialistas e o Poder Público, que lançou mão de campanhas para informar a população como meio de evitar novas epidemias e agravos na saúde pública. Na terceira reportagem da série Fim da Picada, biólogos desmistificam informações falsas e explicam o real comportamento do inseto.

Entre os principais mitos disseminados sobre o Aedes está a ideia de que ele vem sofrendo mutações ao longo dos anos, motivo pelo qual teria começado a transmitir outras doenças além da dengue. Essa questão também envolveria a maior facilidade que o mosquito desenvolveu de se procriar, com uma menor quantidade de água, por exemplo. A afirmação sobre a suposta evolução do mosquito não está totalmente errada, conforme José Bento Pereira Lima, pesquisador do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

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No entanto, o fato de o Aedes ter se adaptado não quer dizer que ele tenha tido mutações especificamente para se tornar mais forte e prejudicar o ser humano.  “A diversidade genética existe e é uma forma de evoluir. Se não tem água totalmente limpa e o inseto só sobrevive em água limpa, ele vai morrer; já aquele que gosta de uma água mais suja acaba sobrevivendo. É uma solução natural, pois ele vai se adaptando ao ambiente oferecido”, explica o especialista. Apesar disso, culpar o mosquito por transmitir as doenças é errôneo, porque ele só transmite, pois a própria população está infectada.

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Outro mito é relacionado a um suposto ciclo de epidemias das doenças transmitidas pelo mosquito. Muitas pessoas acreditam que a prevenção não é eficaz, já que, independentemente do vetor, as epidemias continuarão acontecendo de tempos em tempos. Segundo o pesquisador, a epidemia pode, sim, ter um ciclo, já que, a partir do momento em que uma geração inteira da população teve dengue, por exemplo, ela estará imune. No entanto, se os mosquitos continuarem a transmissão, a próxima geração terá a doença.  “Em uma população de cem pessoas, por exemplo, se todos tiveram o mesmo tipo de dengue, essa população ficará imune. Mas a doença pode voltar, porque essas pessoas vão ter filhos, e eles não são imunes. Assim, outro ciclo de epidemia surge, não por causa do mosquito, mas da infecção na população”, explica. Um questionamento é, justamente, acerca dos tipos de dengue existentes. Assim como dizem muitas informações compartilhadas na internet, existem tipos diferentes da doença. “Existem quatro sorotipos de dengue. Se a pessoa teve um deles, está imune a este sorotipo, mas pode ter outros.” As diferenças entre eles são pequenas e não mudam os sintomas, sendo detectáveis somente por meio de exames moleculares, de acordo com José Bento.

Dúvidas

O biólogo especialista em comportamento animal e professor da UFJF Fábio Prezoto explica que uma dúvida comum é com relação ao número de doenças transmitidas pelo Aedes. De acordo com ele, ainda não é possível saber exatamente, mas a população pode estar certa em acreditar que o Aedes seja vetor de outras patologias. “Não é possível precisar quantas doenças ele pode transmitir, pois pode se contaminar com outro micro-organismo se entrar em contato com ele. No passado, o grande problema que o Aedes trazia para a população urbana era a febre amarela. Isso foi controlado, mas tivemos um novo surto dessa virose, pois o vírus voltou a circular. Sendo assim, ele pode ser um vetor potencial de grande quantidade de doenças.”

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Ainda segundo o biólogo, é comum as pessoas questionarem se, por ter hábitos diurnos, quer dizer que o mosquito não pica durante a noite. Ele explica que, de fato, não é comum que se alimente durante a noite, mas pode acontecer. “O Aedes é um mosquito diurno, cujos hábitos são mais comuns logo no começo da manhã e no fim da tarde. Nas horas mais quentes, ele tende a se proteger e ficar escondido. Esse comportamento preserva o mosquito, mas não quer dizer que, em casa, com um ambiente mais fresco, ele não possa aproveitar outros horários do dia, como no meio do dia ou durante a noite.”

No caso de dúvidas sobre o mosquito ou sobre as doenças transmitidas por ele, a Secretaria de Estado de Saúde e o Ministério da Saúde disponibilizam informações oficiais nos sites www.saude.mg.gov.br/aedes e combateaedes.saude.gov.br/pt. Outros sites oficiais são da Fiocruz, no endereço www.ioc.fiocruz.br/dengue, e da Fundação Ezequiel Dias, no link www.funed.mg.gov.br

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