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Após agressão de médica, UBS suspende atendimentos até a próxima segunda-feira

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Médica é agredida com pedrada no rosto em UBS, e classe protesta na Prefeitura

Após uma médica de 55 anos ter sido agredida por uma paciente dentro da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bairro Furtado de Menezes, na região Sudeste de Juiz de Fora, na tarde da última quarta-feira (25), a UBS suspendeu o funcionamento até a próxima segunda-feira (30). Na manhã desta quinta-feira, diversas UBS também paralisaram seus atendimentos, e um grupo de médicos se reuniu em frente ao prédio da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), na Avenida Brasil. Em protesto, a categoria reivindicou por mais segurança nos estabelecimento de saúde.

A médica agredida foi socorrida pelo Samu-Cisdeste e levada ao Hospital da Unimed, na Zona Sul da cidade, onde permanecia internada até o final desta quinta. A médica sofreu traumatismo cranioencefálico, fratura de nariz, uma fratura no braço e apresentava sangramento e hematoma no rosto, além de dor abdominal. Ela também foi sido agredida com uma pedrada na cabeça, de acordo com o Sindicato dos Médicos e com a Secretaria de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).

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À Tribuna, o presidente do Sindicato dos Médicos de Juiz de Fora e Zona da Mata, Gilson Salomão, afirmou que, diante do acontecimento, “a indignação da classe é muito grande” e que a entidade acompanha a evolução do caso.

Manifestação de profissionais da saúde é realizada nesta manhã, em frente ao prédio da PJF (Foto: Leonardo Costa)

Em nota, o Samu também se posicionou sobre o ato de violência ocorrido na UBS e se solidarizou com a vítima. “O Samu 192 – Cisdeste lamenta o ato de violência ocorrido na UBS do Bairro Furtado de Menezes e se solidariza com a médica, desejando que ela tenha uma rápida recuperação.”

De acordo com relatos de moradores do bairro, a profissional de saúde era recém-chegada, tendo iniciado os atendimentos no estabelecimento na semana passada.

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(Foto: Leonardo Costa)

PJF discute situação com a categoria

Durante a manifestação da categoria, diversos médicos e profissionais de saúde protestaram por melhores condições de trabalho nas Unidades Básicas de Saúde. Na ocasião, a PJF também recebeu representantes da categoria para uma reunião.

O grupo se reuniu com membros da Secretaria de Saúde por cerca de duas horas. De acordo com os representantes, o ponto dos servidores que realizaram a paralisação foi abonado, e o funcionamento da UBS do Bairro Furtado de Menezes só retorna na segunda-feira (30).

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Segundo a PJF, a medida é necessária para viabilizar o acolhimento da equipe profissional, que passa por acompanhamento após a agressão sofrida por uma servidora, e para a realização de reparos no ambiente interno da unidade. 

Além disso, também foi informado à categoria um novo protocolo em casos de violência, seja ela física ou verbal. Agora, os profissionais vítimas de ataque devem se reportar à chefia imediata, que denunciará ao supervisor da unidade. A depender da gravidade da agressão, o atendimento poderá ser suspenso e a unidade fechada de um a dois dias. A agressão também deve ser formalizada à ouvidoria, que dará continuidade ao processo, e o agressor pode sofrer quebra de vínculo, sendo proibido o seu atendimento na mesma unidade.

Entre as outras medidas discutidas também está a criação, por parte da Secretaria de Comunicação da PJF, de uma campanha de conscientização contra as práticas violentas aos profissionais de saúde. 

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Nova discussão

Uma nova reunião, entre a categoria e a Secretaria de Segurança. foi agendada para a próxima quinta-feira (3). No encontro, deverão ser discutidas ações que levem maior proteção às Unidades Básicas de Saúde, como a presença de seguranças nas unidades.

Em nota, a Secretaria de Saúde repudiou o ato criminoso e afirmou que a médica foi agredida com golpes com uma pedra, que a atingiu no braço e na cabeça. Além da agressão, a paciente também depredou a UBS ao quebrar um vidro da recepção. A nota também afirma que a Polícia Militar foi acionada e conduz a investigação dos crimes.

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Caso não é isolado

Esse não foi um caso isolado de violência em unidades de saúde da cidade. Há menos de um mês, na noite do dia 17 de junho deste ano, outra agressão foi noticiada pela Tribuna. Na época dos fatos, um homem, de 21 anos, lançou uma pedra contra a vidraça da recepção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte, no Bairro Nova Era.

De acordo com a PM, o jovem teria tentado se passar por outra pessoa durante a triagem médica e, ao ser confrontado, deixou o local. Em seguida, o homem teria ido até a rua, pegado um pedaço de pedra e arremessado contra o vidro da recepção. Um computador que estava no local foi danificado. O autor dos atos de violência fugiu e não foi identificado.

A médica Milane Souza de Oliveira, que também esteve presente no protesto realizado nesta quarta-feira (26), relatou à Tribuna as dificuldades enfrentadas diariamente pelos profissionais que atuam na saúde pública em Juiz de Fora, especialmente nas unidades básicas de saúde (UBSs).

“A saúde pública aqui em JF está cada vez pior, principalmente na questão da segurança dos profissionais de saúde”, afirmou. Segundo ela, a ampliação do horário de atendimento nas UBSs, que agora se estende até às 19h, intensificou a sensação de vulnerabilidade. “A gente não tem segurança para trabalhar, e com esse horário estendido, a gente se sente mais inseguro ainda para exercer a nossa profissão.”

Milane relatou que os profissionais da linha de frente têm sofrido pressão da população diante das falhas do sistema. “Não sei se é uma insatisfação geral da população com a saúde pública na cidade, mas acaba que nós, que estamos na linha de frente, sofremos a pressão dessa insatisfação – sobre a falta de acesso às especialidades, a falta de medicamentos, de profissionais e equipes incompletas.”

Apesar de reconhecer a necessidade de cuidado e atenção aos usuários, ela defende que os trabalhadores também precisam de amparo. “O profissional também precisa de suporte, de ter segurança para fazer o seu trabalho no dia a dia.”

A médica contou que, na UBS em que atua, situações de ameaça e violência são recorrentes. “Já fomos ameaçados por usuários, já vandalizaram nossos carros. Teve uma usuária que voltou na UBS armada com uma faca e ficou sentada em frente à unidade em um tom de ameaça aos profissionais que estavam trabalhando.” Segundo ela, mesmo acionando a polícia e registrando boletins de ocorrência, a sensação de desamparo persiste. “Trabalhamos acuados e com medo.”

A profissional de saúde explicou que a paralisação desta quinta teve como principal motivação mostrar solidariedade frente à agressão sofrida pela colega, que está internada. “Não seria justo nós, médicos, irmos trabalhar normalmente depois de uma colega sofrer uma agressão tão brutal. Nada justifica uma agressão física a um profissional que está exercendo sua profissão.”

Milane reforçou que a mobilização busca garantir segurança a todos os trabalhadores da saúde. “Nós estamos aqui para exigir mais segurança para todos os profissionais, não apenas para os médicos. Todos estamos sofrendo com essa violência.”

Violência em serviços de saúde em JF é crescente

Dados do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais, publicados em 2024, mostraram que a violência nos serviços de saúde cresceu quase 28% em Juiz de Fora. No período, foram 359 ocorrências registradas entre janeiro e setembro, contra 281 no mesmo período de 2023.

No topo da lista de 2024 estão os furtos, com 76 casos, seguidos por “outras infrações contra a pessoa”, com 57 registros, e por ameaças, com 52. Vias de fato/agressão, danos e lesões corporais também aparecem entre os crimes mais comuns, com 18, 20 e 11 anotações, respectivamente.

Também em 2024, a 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), que engloba outros 86 municípios do entorno de Juiz de Fora, registrou aumento de violência nos serviços de saúde quando comparados com o ano anterior. Em 2024, foram 627 ocorrências de janeiro a setembro, contra 510 nos mesmos meses de 2023, o que representa um acréscimo de 22,94% nesses casos. Os furtos nesses meses de 2024 somaram 145 casos, enquanto ameaças, 111. “Outras infrações contra a pessoa” está em terceiro lugar com 67 registros, vias de fato/agressão 37, danos 31 e lesões corporais 18.

Naquele ano, o crescimento da violência nos serviços de saúde em Juiz de Fora e na 4ª Risp foram superiores ao de Minas Gerais, que passou de 8.453 ocorrências, entre janeiro e setembro de 2023, para 8.620 em 2024, um crescimento de 1,98%.

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