Ícone do site Tribuna de Minas

Especialistas defendem estratégias de acolhimento às crianças

depressao1
PUBLICIDADE

Se falar sobre suicídio entre adolescentes e adultos é uma tarefa difícil, por conta do temor e do estigma envolvendo episódios tão brutais, imagine reconhecer a ocorrência de casos entre crianças? A reação natural diante dessa possibilidade é de aversão. No entanto, a realidade mostra que a infância vem sendo negligenciada na contemporaneidade, e isso tem se refletido em adoecimento. Só este ano, em Juiz de Fora, pelo menos três meninos e meninas entre 8 e 12 anos tentaram se matar dentro de casa e nenhum desses eventos entrou na estatística da Polícia Militar divulgada pela Tribuna no último domingo, quando o jornal apontou que, de janeiro para cá, houve 40 tentativas e 18 episódios de autoextermínio na cidade. No ano passado, os dados apontam para 31 óbitos e 97 tentativas. A cada cem mil habitantes brasileiros, 1,7 entre 5 e 19 anos morrem por suicídio.

LEIA MAIS: 

PUBLICIDADE

A urgência de se buscar estratégias de acolhimento e apoio junto à população infantojuvenil é confirmada por dados internacionais. Relatório apresentado, ano passado, no Encontro Anual de Sociedades Pediátricas dos Estados Unidos apontou que as internações de menores de idade por tentativas de suicídio dobraram entre 2008 e 2015. O estudo mostrou o aumento de internações principalmente entre as meninas a partir de 5 anos. Também revelou que o suicídio é hoje a segunda causa de mortes de crianças e jovens em idade escolar nos EUA, ficando atrás apenas de acidentes. No Brasil, é a segunda causa de mortes entre adolescentes, perdendo apenas para causas externas.

PUBLICIDADE

Para a psicóloga do desenvolvimento infantil Martha Loures Choucair de Oliveira, nenhuma discussão em torno do tema pode estar descontextualizada do viés psicobiossocial. “O contexto contemporâneo é marcado por um conjunto de variáveis que incidem no comportamento humano, entre eles, consumismo, competitividade, individualismo, novas tecnologias. Parece que essas variáveis têm interferido na dinâmica familiar, gerando consequências para a criança que está em processo de construção da sua identidade”, analisa.

Segundo Martha, é necessária a construção de uma rede dialógica entre família, serviço de psicologia, equipe médica, escola e os demais contextos nos quais a criança está inserida, vislumbrando a criação de estratégias para a garantia de sua saúde integral. “O suicídio e o seu crescimento entre crianças e jovens precisa ser repensado por cada um de nós, cidadãos, a partir de uma visão crítica e reflexão do conjunto de valores que a gente vem disseminando, a partir da nossa própria conduta.”

PUBLICIDADE

Ministério da Saúde quer reduzir casos

Com a meta de reduzir em 10% a mortalidade por suicídio, até 2020, o Ministério da Saúde lançou uma agenda estratégica de prevenção do suicídio para acompanhar o número anual de mortes e desenvolver programas que atuem preventivamente junto à população. O Brasil é signatário do Plano de Ação em Saúde Mental, lançado em 2013 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e a redução da taxa de mortalidade faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

De 2011 até 2015, o Brasil registrou aumento da taxa de mortalidade por suicídio, saltando de 10.490 casos para 11.736. Se em 2011 eram 5,3 casos por cem mil, em 2015, a média foi de 5,7 casos. O aumento de lesões autoprovocadas voluntariamente, um termo técnico, levou o país a tornar a notificação obrigatória a partir de 2011, embora a subnotificação de eventos ainda seja uma realidade.

PUBLICIDADE

Com a Agenda Estratégica de Prevenção, o Ministério da Saúde quer promover ações para a vigilância e prevenção do suicídio e promoção da saúde no Brasil. Também pretende ampliar o Acordo de Cooperação Técnica com o Centro de Valorização da Vida (CVV) e criar discussões permanentes de grupo de trabalho envolvendo as secretarias de Vigilância e de Atenção à Saúde. A ideia é construir um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio através de vários eixos relacionados à informação, ao fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial e ainda à capacitação dos profissionais de saúde. “Uma das coisas que mais ajudam em termos de prevenção são os exemplos de pessoas que passaram pelo problema e conseguiram enxergar outras alternativas, resolvendo a situação de uma forma mais saudável”, explica o professor de psiquiatria da UFJF, Alexander Moreira. Ele lembra ainda que é importante a busca de atendimento, o apoio da família e o apoio religioso.

Em Juiz de Fora, existem vários serviços tanto na área de saúde quanto religiosa que prestam assistência às pessoas em sofrimento (ver quadro).

Sair da versão mobile