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Professor congolês da UFJF andou um dia e uma noite a pé, fugindo do país natal

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Justin Amuri Mweze nasceu na província do Quivu, no leste da República Democrática do Congo (RDC). Após duas guerras, iniciadas em 1996 e 1998, fugiu do país natal em 2002, “pela grande violação de direitos humanos”.

Chegou em Moçambique, onde encontrou um grande desafio linguístico – já que a língua oficial do país é o português, e a língua materna dele é o francês -, começando a se expressar por meio de mímicas. Pouco a pouco, foi se integrando na comunidade, até aprender o idioma com que, agora, também trabalha na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

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Justin Amuri Mweze escreveu um livro sobre o conflito; atualmente, ele mora em Juiz de Fora (Foto: Felipe Couri)

‘Parece história’

“Quando alguém está fugindo da guerra, não olha para o meio de transporte. Todo meio é importante, desde que você atinja o seu fim, que é chegar onde a vida será segura”. Por isso, o professor saiu, com um grupo, andando alguns quilômetros, até chegar onde encontrou um pequeno barco. Como a Tanzânia é vizinha da RDC, e a província do Quivu é bem próxima, atravessou o Lago Tanganica, que separa os dois países.

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Da Tanzânia, o grupo avançou a pé, sem saber para onde ia, até chegar em Moçambique. “Não ficamos na Tanzânia por ser muito perto da RDC, não nos sentíamos seguros. Andamos a pé um dia e uma noite. Parece história, mas é isso que nós vivemos. Aquilo deixou uma marca indelével na minha mente, é inesquecível na minha vida aquela trajetória”, relata.

A maior dificuldade foi o cansaço e, em algum momento, a fome, pois não levaram nada. Além disso, deixar o lugar onde cresceu, as próprias culturas e passar por toda aquela marcha sem saber qual seria o destino final também foi algo que o afetou, “muito difícil e pesado”.

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O motivo não passa por uma crise também democrática. Como acadêmico e analista, Amuri é taxativo ao dizer que a guerra que perdura até hoje não é civil, “como muitos podem pensar”, mas sim “de agressão por vários países estrangeiros”. Por isso, afirma que o próprio país é incapaz de exterminar o conflito.

A situação o levou a escrever um livro, porque compreendeu uma conspiração geopolítica: “Não tem armas para combater aquela guerra. Então, para acabar com aquela guerra, tinha que haver uma educação patriótica. Eu fiz um chamamento aos congoleses, que aprendam a amar seu país, para não conspirarem com os inimigos”.

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Fuga do país, mas não da realidade

O mais velho não revê os irmãos e irmãs há muito tempo, pois ficaram na RDC. Já a esposa e três filhos, deixou em Moçambique, e só quando chegarem aqui, a alegria de Amuri será “efetiva”.

Com uma longa experiência na vida do refúgio, reconhece que alguns refugiados não gostam de ser chamados assim, por causa dos estereótipos que são atrelados, a imagem de “vítima que nada pôde fazer na vida”. Para suavizar a imagem, chamam de migrantes, “mas eu não posso fugir da minha realidade”, afirma. “Nem todo migrante é refugiado, mas todo refugiado é migrante. Para ser refugiado, precisar requerer e ser atribuído o estatuto jurídico de refugiado. Precisa esperar, estudar os documentos, depois tem a entrevista, questionam o que levou a sair do país, e depois se espera a resposta”.

Licenciado em História Política e Gestão Pública, com mestrado em Comunicação e Doutorado em Ciência da Computação, está alocado na Faculdade de Educação da UFJF, nesta primeira fase. A primeira aula teve o tema “Narrativas, migração e refúgio”, sublinhando que os trabalhos desenvolvidos serão com esta temática.

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Em termos de ciência, não percebe diferença entre as universidades congolesas, moçambicanas e a brasileira, mas em comportamento, sim: “Eu gostei muito da atitude dos estudantes. Ficaram muito interessados, muito pacientes em querer ouvir, e a aula foi muito avivada, com muitas contribuições, então fiquei muito feliz com isso. Eu pensava que ia encontrar estudantes passivos, mas eles ficaram, mesmo, muito interessados”.

Ele reforça que em Moçambique também existem boas e grandes universidades, mas também se admirou com o campus juiz-forano, levando semanas para conhecer toda a universidade. “É um campus espetacular que atinou muito a minha atenção! Gostei muito da estrutura universitária, o campus é muito vasto mesmo e, para além disso, o corpo docente, quando fui apresentado, me acolheu muito bem”.

Cidade de portas abertas, casa de janelas fechadas

Após tanto tempo em Moçambique, decidiu se mudar para o Brasil para a realização de um sonho: “Dentro dos países da América Latina, o país mais conhecido na África é o Brasil, o mais falado é o Brasil, o mais reconhecido pela sua diversidade cultural é o Brasil. Então, o Brasil sempre me atraiu por esses aspectos”. Desde o dia 3 de março, afirma estar vivendo exatamente aquilo que ouvia nas narrativas.

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Cresceu quase no mesmo tipo de clima, com a diferença de que, aqui, as temperaturas mudam sem avisar. “Agora, quando eu quero sair aqui, não deixo as janelas abertas. Um dia, deixei, porque acordei com sol. Quando voltei, encontrei água, eu não esperava chuva”, se diverte.

Também se admirou – positivamente – pela hospitalidade do povo brasileiro, mesmo com a experiência de alguns países. “Em termos de atendimento público, quando vou nas lojas, nos mercados, sinceramente… Espetacular! Não conheço outras cidades do Brasil, mas em Juiz de Fora, não sei que educação civil tiveram, em termos de relacionamento humano. Eu pensava que iam me olhar como um alheio, mas em qualquer lugar que eu entro, não é isso que acontece”.

Na cidade, também chamam a atenção as paisagens, por serem montanhosas. As próprias subidas e descidas na área urbana despertam a curiosidade do novo morador, que diz gostar muito do local, por ser calmo e tranquilo.

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