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Diagnóstico aponta aumento de 110% da população de rua de JF em 5 anos

população em situação de rua
População em situação de rua aumentou durante a pandemia (Foto: Fernando Priamo/Arquivo TM)
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Foi divulgado nesta sexta-feira o resultado do Censo e diagnóstico da população adulta em situação de rua de Juiz de Fora, feito através de uma parceria entre Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e Universidade de Juiz de Fora (UFJF). No documento, foi mostrado que o número de pessoas em situação de rua aumentou 110% entre 2016 e 2022, passando de 384 pessoas para 805, sendo a maioria do sexo masculino, com homens cisgêneros, heterossexuais, pretos e pardos entre 30 e 50 anos. O objetivo do trabalho é quantificar e investigar as características socioeconômicas e demográficas das pessoas em situação de rua em Juiz de Fora, para que sejam desenvolvidas políticas públicas atualizadas, que se direcionem especificamente para as necessidades dessa parcela da população.

A pesquisa para a elaboração do diagnóstico foi realizada na última semana de outubro de 2022 com aplicação de questionários por mais de 50 estudantes dos diversos cursos da UFJF. Conforme a metodologia e amostragem, responderam a pesquisa 190 pessoas em situação de rua, 23,6% da população contabilizada. A Secretária de Assistência Social da PJF, Malu Salim, explica que o processo se deu em função de o último censo ter sido feito em 2016, e os órgãos públicos terem percebido a necessidade de atualizar os dados para entender melhor as carências dessa população, levando em conta, por exemplo, a pandemia de Covid-19, que alterou muitas estruturas familiares. “Pelo nosso dia a dia enquanto gestores, percebemos que havia ocorrido um aumento considerável de pessoas em situação de rua devido à pandemia, então tínhamos que trabalhar com novos dados para aperfeiçoar os atendimentos”, explica. A professora da faculdade de serviço social da UFJF Viviane Pereira, que acompanhou todo o projeto, ressalta, ainda, que os estudantes que participaram passaram por várias capacitações e reuniões ao longo do projeto, buscando reforçar “a função social da universidade”.

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Seguindo uma tendência nacional de aumento da população de rua durante a pandemia, 35,3% das pessoas foram para as ruas durante esse período. Como também explica Malu Salim, são vários fatores que devem ser analisados sobre esse dado, como “o processo acelerado de entrada na condição de pobreza em função de uma grande crise econômica, do empobrecimento da população trabalhadora e da precarização do trabalho”. Ainda assim, a maioria das pessoas em condição de rua está há mais de cinco anos nessa condição, e isso Viviane Pereira atribui ao processo de empobrecimento devido à crise econômica, à ruptura de vínculos familiares e sociais e, em menores casos, ao abuso de drogas e problemas de saúde mental. No diagnóstico, motivos familiares foram apontados em 36,3% dos entrevistados, seguidos do abuso de álcool ou outras drogas, atingindo 18,9% das pessoas. “Falar desse fenômeno é falar de diversidade, são motivos variados”, ressalta a pesquisadora.

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De acordo com as especialistas, o censo foi construído de forma coletiva para dar conta dos problemas envolvendo vários setores da sociedade. Ainda de acordo com Malu Salim, o objetivo atual da assistência social é trazer “proteção social”, criando iniciativas e desenvolvendo novas medidas para que essa população tenha condições de sair da rua. “Entendemos que pessoas em situação de rua não são só um problema da assistência, são cidadãos de direitos que exigem política de moradia, alimentação, emprego e renda. Estamos buscando possibilidades para atender à diversidade da população em situação de rua, como as casas de passagem, casas 24 horas, hotel, Núcleos de populações em situações de vulnerabilidade e saúde mental na atenção básica (Nupops) e o auxílio moradia”, afirma.

Perfil da população em situação de rua é diverso

O diagnóstico apontou que a média de idade encontrada na população de rua é de 43,2 anos, na faixa entre 40 a 49 anos. Essa população é majoritariamente do sexo masculino, representando um percentual de 84,7%, sendo 75% pretos e pardos. Sobre a trajetória dos indivíduos, também foi concluído que 71% possuíam domicílio antes de dormir nas ruas, duas a cada três pessoas (66,3%) estão há mais de um ano dormindo nas ruas, sendo 39,5% há mais de 5 anos. Mais da metade, 54,2%, trabalhavam de carteira assinada antes de ir para as ruas, e 70% possuem certidão de nascimento, 67,45% CPF, e 61,15 % carteira de identidade.
Sobre os problemas de saúde dessa população, o maior deles foi referente à dependência de álcool e outras drogas, com 59,5%. Em seguida, foram expressados ferimentos/fraturas, em 39,5%, e problemas de saúde bucal (como cárie e dor de dente) em 33,2%. Outro destaque são os dados referentes a deficiências, como cegueira, apontada em 10%, deficiência física, 8,4%, e surdez 7,9%.
Quando questionados sobre o uso de acolhimentos, 46,3% afirmaram que dormem sempre nos acolhimentos, enquanto 18,4% afirmaram que dormem de vez em quando. Do total, 71,1% das pessoas afirmaram que os acolhimentos apresentam problemas, como ocorrências de roubos e furtos de seus pertences (66,6%); dificuldade de relacionamento, ameaça ou violência por parte dos demais abrigados, assim como a falta de atividades (49,6%); e o uso de álcool e outras drogas no local (44,5%).

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Elaboração de políticas públicas

A partir do diagnóstico, Malu explica que estão sendo elaboradas novas políticas, que também devem ser pensadas “a nível governamental e nacional”. Entre as medidas, ela cita justamente a adequação dos abrigos e a diversificação das opções oferecidas, fazendo com que os estudos sirvam também para criar uma base de dados para entender os padrões de comportamento. Entre os entrevistados, a oportunidade de emprego, a qualificação, a alimentação e a moradia aparecem como principais itens apontados como necessidades em termos de serviços. Malu sinaliza que, tendo em vista esse cenário, a Prefeitura também vai se mobilizar para divulgar as informações e “combater o preconceito contra a população em situação de rua, que sofre com diversos males”.

Do ponto de vista da assistência social, chama a atenção a quantidade de pessoas que estão em situação de rua há mais de cinco anos. “Quanto mais tempo nas ruas, mais difícil se torna encontrar um trabalho. É preciso haver políticas públicas específicas para o resgate dessas pessoas, que costuma ser mais complexo”, explica Viviane. Ela também afirma que a equipe do Censo deixou uma série de sugestões e propostas para o órgão municipal, que busca esse atendimento integral a essa população. Como resultado disso, explica que um livro está em fase de construção e será impresso pela editora da UFJF, com publicação prevista para o segundo semestre, trazendo uma análise aprofundada dos dados obtidos no diagnóstico.

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População de rua de JF em números

43,2 anos é a média de idade encontrada (40 a 49)
84,7% são do sexo masculino
75% são pretos e pardos
71% possuíam domicílio antes de dormir nas ruas
39,5% estão nas ruas há mais de cinco anos
35,3% foram para as rua na pandemia de Covid-19
46,3% dormem sempre nos acolhimentos
54,2% trabalhavam de carteira assinada antes de irem para as ruas
59,5% têm dependência de álcool e outras drogas
48,2% alegam que precisam de emprego para sair das ruas
44,6% alegam que precisam de moradia para sair das ruas

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