A situação de isolamento social é um grande desafio à saúde mental, especialmente durante uma pandemia, como é a situação atual de muitos brasileiros por causa do novo coronavírus. Esse confinamento pode deixar a população muito vulnerável a ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, independentemente se a pessoa já sofre de algum transtorno mental ou não. Por outro lado, muitas pessoas, inclusive em Juiz de Fora, precisam encarar a situação oposta. Esse é o caso tanto de profissionais da saúde, além de funcionários de supermercados, farmácias, porteiros, motoristas e até jornalistas, por exemplo. Desta forma, como as pessoas podem cuidar da saúde de suas mentes? Psicólogos e psiquiatras estão preparados para atender às possíveis demandas?
Por conta da pandemia, em 19 de março, o Conselho Federal de Medicina já havia reconhecido a possibilidade e a ética do atendimento médico à distância no Brasil, através da telemedicina. A medida foi regulamentada pelo Ministério da Saúde logo no dia seguinte e terá validade em caráter excepcional, enquanto durar o combate à pandemia. Assim, médicos, inclusive psiquiatras, podem orientar, monitorar e consultar pacientes sem que precisem sair de suas casas. Para isso, prescrições médicas e atestados devem ser enviados por meio virtual com assinatura certificada digitalmente. Já o Conselho Federal de Psicologia comunicou aos profissionais que quiserem optar pelo atendimento on-line que sejam cadastrados. Por outro lado, os profissionais que forem continuar com os atendimentos presenciais, devem respeitar as orientações de segurança.
A psicóloga Gilsa Arantes aderiu recentemente à alternativa virtual e afirma que a mudança não interfere na qualidade e que o método já se mostrou eficaz, segundo artigos publicados. “Alguns pacientes têm dificuldade em aderir, outros fizeram e não notaram nenhum prejuízo. Existe algo novo acontecendo, a gente precisa se proteger, e o profissional da saúde mental é importante nesse momento, porque além do impacto econômico, terá impacto mental. Temo pelo aumento de transtornos ansiosos, depressão, estresse pós-traumático, TOC e outros casos, além do risco de suicídio”, afirma a profissional que alerta para a necessidade de todos se cuidarem.
Com esse novo desafio, até mesmo os profissionais da mente precisam se preparar para lidar com as necessidades dos pacientes. “Além daquelas que estão em isolamento, penso nas pessoas que não podem parar de trabalhar, funcionários de supermercados, farmácias, transporte e limpeza, por exemplo. Aqueles que não podem ficar em confinamento, temem a aglomeração e a exposição ao vírus. Tem também aqueles que pararam de trabalhar e se preocupam com as finanças ou estão endividados. E o impacto emocional dos profissionais de saúde que estão atuando na linha de frente, com trabalho excessivo, medo da contaminação, de levar o vírus para casa, o pânico de ver o índice aumentando e as notícias que chegam, e de lidar diretamente com as pessoas infectadas. Precisamos, em conjunto, pensar em alguma coisa que possa ajudar essas pessoas”, destaca a psicóloga.
Nesses casos, ela recomenda manter uma rotina mais saudável dentro do que for possível, evitando o excesso de informações, tendo cuidado com descanso e alimentação, realizando atividades físicas e de lazer, e ter convívio social, sobretudo familiar. Em casos de necessidade, o ideal é procurar acompanhamento profissional. O Centro de Valorização da Vida (Disque-188) está disponível com psicólogos voluntários que fazem atendimento por telefone.
Profissionais voluntários criam rede de apoio
Preocupados com a saúde mental da população, um grupo voluntário de psiquiatras e psicólogas criou a campanha “Fique em casa! Estamos com você!”. O objetivo é oferecer orientações gerais à população de como lidar com os sentimentos gerados ou intensificados pela Covid-19. O projeto é coordenado por Alexandre de Rezende Pinto, médico psiquiatra do Hospital Universitário e professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFJF.
“A partir da observação das pessoas, estávamos percebendo o quanto a população estava fragilizada do ponto de vista emocional, passamos a identificar como estavam ansiosas e preocupadas, angustiadas e amedrontadas com toda essa situação. Queremos que as pessoas possam se proteger do contágio, mas que também tenham com quem contar nesse momento. Cuidar da nossa saúde mental cada vez mais será algo imprescindível, para que possamos transpor esse período de maneira menos dolorosa”, explica o psiquiatra. O grupo atua desde o mês passado, já contando com cerca de 50 profissionais e quase 150 pessoas acolhidas em Juiz de Fora e outras cidades.
Para ser atendido pela campanha, basta que as pessoas preencham um formulário a partir de um link, com informações básicas, tais como nome, telefone e e-mail. Assim, algum profissional da área de psicologia ou psiquiatria entrará em contato telefônico para oferecer esse acolhimento, através de orientações. Caso seja necessário, será sugerido um encaminhamento para tratamento.
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Outras alternativas
Também na intenção de contribuir com o momento, o hipnoterapeuta Leonardo Cintra, criou o projeto “Consultório de Portas Abertas”, que pode atender gratuitamente e de forma on-line a até 30 pacientes que não tenham condições de custear o tratamento terapêutico. A intenção é tratar danos provenientes da pandemia da Covid-19. O projeto é, então, custeado através de financiamento coletivo, com o objetivo de arrecadar R$ 25 mil, correspondente a 50% do valor original do conjunto de consultas. Caso o projeto tenha muita demanda, a intenção é que outros profissionais sejam convidados a colaborar. Conheça o projeto através do link.