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Casos suspeitos de Covid-19 disparam, e possível subnotificação preocupa em JF

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Ao longo das últimas semanas, os números de casos suspeitos de coronavírus dispararam em Juiz de Fora, fator preocupante pela incapacidade do município em testar os pacientes na mesma velocidade em que o vírus se espalha pela cidade. Levantamento feita pela Tribuna, considerando dados divulgados por boletins epidemiológicos da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), apenas em 24 dias de março, 6.954 suspeitas foram adicionadas às estatísticas municipais, superando todo o mês de fevereiro, quando 5.890 casos suspeitos foram notificados, ou seja, mais de mil registros a mais.

O próprio ritmo de crescimento na notificação de casos suspeitos aumenta gradualmente quando o recorte passa a ser a evolução semanal.

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Entre os dias 17 e 24 de fevereiro, foram 1.132 casos. Na semana seguinte, entre 24 de fevereiro e 3 de março, 1.294. Após esse período, entre dias 3 e 10 de março, os registros saltaram para 1.605 e, por fim, entre 10 e 17 de março, para 2.315 – um aumento de 44% apenas nesta última semana.

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O volume de notificações é superior à capacidade de processamento de testes pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Se, entre os dias 13 de fevereiro e 19 de março, a PJF contabiliza 8.187 novas suspeições na cidade; o laboratório da UFJF processou 2.452 testes de diagnóstico de Covid-19 entre os dias 12 de fevereiro e 19 de março, última data em que a instituição publicou os dados referentes à testagem. Os números incluem, ainda, testes referentes a municípios vizinhos, que também dependem da UFJF para o processamento.

Além do laboratório da UFJF, o processamento de testes do município também ocorre via Fundação Ezequiel Dias (Funed) e também pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), após parceria firmada entre o Governo de Minas e a instituição em fevereiro de 2021. Na ocasião, o então secretário de Estado de Saúde (SES), Carlos Eduardo Amaral, admitiu a dificuldade em atender a toda a demanda, e anunciou o acordo como forma de desafogar a Funed e a UFJF, agilizando a liberação dos resultados.

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Pela Fiocruz, foram 2.790 testes RT-PCR enviados à Fundação desde o dia 19 de fevereiro deste ano, de acordo com dados encaminhados pela SES à reportagem. No entanto, o número corresponde a testes de todos os municípios da Superintendência Regional de Juiz de Fora (SRS-JF) e das Gerências Regionais de Saúde de Leopoldina e Ubá, o que totaliza 69 municípios. O tempo médio de processamento dos resultados é de 48 horas, conforme a SES. Na visão da pasta estadual, “com o apoio desses três laboratórios na Rede de Diagnóstico de Covid-19, hoje as regionais citadas conseguem realizar a testagem dentro dos critérios de coleta estabelecidos pelo Estado de Minas Gerais e em prazo oportuno”.

Por dois dias, a reportagem questionou a Prefeitura de Juiz de Fora sobre se ela considera dentro da normalidade a taxa de crescimento de casos suspeitos no município, bem como se a capacidade de realização de testes Covid atende à toda a demanda do município e se a possível subnotificação preocupa o Executivo municipal. No entanto, até o fechamento da reportagem, a Administração Municipal não respondeu aos questionamentos.

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Sem diagnóstico, infectologista afirma que risco de transmissão aumenta, pois mais pessoas contaminadas estarão circulando nos ambientes (Foto: Fernando Priamo)

Pesquisadores já levantaram preocupação

Nota técnica de pesquisadores da UFJF, publicada no último dia 11, já havia apontado uma possível subnotificação de casos no município. A análise do Grupo de Modelagem Epidemiológica para a Covid-19 notou aumento de óbitos por conta da doença e também de ocupação dos leitos de UTI em Juiz de Fora enquanto, no mesmo período, ocorria a diminuição proporcional no número de casos confirmados e suspeitos.

De acordo com o grupo, os serviços de saúde poderiam ter problemas no fluxo de informação, resultando na subnotificação. Os pesquisadores também destacaram a possibilidade de sobrecarga dos profissionais, devido aos esforços para acelerar a vacinação no município, de modo que o monitoramento da doença deixaria de ser priorizado. “Nós temos que ter em mente que a vacinação é importantíssima, mas não pode estar dissociada do processo de vigilância e monitoramento de casos”, alertou, na ocasião, Isabel Leite, uma das autoras da nota técnica.

Desde então, os números cresceram: o total de casos suspeitos saiu de 63.897, no dia 11, para 68.186 no boletim de quarta-feira (24), aumento de 2.357 pessoas em observação; enquanto o número de diagnósticos confirmados passou de 21.653 para 23.467 no mesmo período, aumento de 1.814 registros.

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Investimento é insuficiente, afirma especialista

Durante o pior momento da pandemia em Juiz de Fora, a testagem ganha ainda mais importância, de acordo com o infectologista Guilherme Côrtes. “(Sem o diagnóstico) a gente permite que pessoas que estejam transmitindo o vírus estejam circulando. O risco é de aumento da transmissão do vírus pelas comunidades”, explica o especialista, que ainda aponta falta de investimento e falha na utilização dos testes a nível nacional. “Não houve investimento em ampliação de testagem, como se deveria. Não somente em comprar os testes, como também no que fazer com esses testes. O investimento foi em aumento de leitos, que foi benéfico e muito bem feito, mas deixou-se de investir em ações de vigilância epidemiológica”, lamenta.

Para exemplificar a importância da testagem, o infectologista lembrou o combate à pandemia realizado na Coreia do Sul. No país asiático, houve grande investimento nos exames, identificando os casos e isolando as pessoas contaminadas. De acordo com Côrtes, a vigilância epidemiológica é a única maneira segura de flexibilizar as medidas restritivas.

“Se a gente não tem testagem de casos, temos que colocar restrições e diminuir a transmissão viral. Para retomar, a gente precisa ter a vigilância epidemiológica para localizar os surtos. Sem essa capacidade, não tem flexibilização segura”.

Segundo o infectologista, a dificuldade em executar a vigilância epidemiológica de modo efetivo, com a triagem e testagem de casos, pode ser mais um reflexo da pressão na rede de saúde de Juiz de Fora. “É mais uma variável do colapso do sistema de saúde, que é a incapacidade do profissional de saúde, por demanda aumentada, de continuar notificando. Essa é uma possível variável que pode contribuir para uma subnotificação”, afirma.

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