Acompanhar o desenrolar de um crime de repercussão desde a ocorrência até o julgamento, como repórter, não é tão comum no jornalismo diário, já que o trabalho é feito por várias mãos. Mas em 2024 pude ver de perto na Justiça o desdobramento de um caso que havia me marcado muito há cinco anos: A morte da professora Fabiana Filipino Coelho, 44, baleada na região lombar esquerda, na manhã do dia 20 de novembro de 2019, quando fazia compras na Rua Marechal Deodoro, no Centro de Juiz de Fora. O primeiro contato com o marido da vítima, o advogado Daniel Marchi, havia sido no velório dela. A triste coincidência de o enterro acontecer no mesmo dia em que o filho do casal completava 5 anos foi estarrecedora. Naquele dia, não chegamos a trocar muitas palavras, devido ao momento de luto.
Mas com o passar do tempo, o luto foi transformado em luta: por justiça. E a voz de Daniel ecoou nas páginas da Tribuna de Minas cerca de um mês e meio depois, em uma entrevista feita à distância e com muito cuidado. “A gente era simples. Só queríamos cumprir os combinados: criarmos nosso guri, sermos felizes e envelhecermos juntos, leves. Seria assim tão complicado?”, questionou o viúvo, naquela reportagem, diante da trágica e brusca perda da esposa.
O tiro que atingiu a professora de matemática partiu da arma do sargento reformado da Polícia Militar Vanderson da Silva Chaves, que tinha 44 anos na época. Ele disparou em meio à movimentada parte baixa da Rua Marechal para tentar impedir a fuga de um adolescente, 16, que havia acabado de assaltar uma pedestre. Antes de atirar, o militar foi esfaqueado no braço pelo infrator. A docente, que lecionava no Instituto Estadual de Educação (Escola Normal), no Centro, e na Escola Municipal Clotilde Peixoto Hargreaves, no Linhares, chegou a ser socorrida, mas não resistiu e morreu na noite do mesmo dia.
O julgamento
Quase cinco anos depois, no dia 20 de junho, eu e Daniel nos encontramos no Tribunal do Júri do Fórum Benjamin Colucci. O contato via WhatsApp havia sido retomado alguns dias antes, quando ele falou novamente à Tribuna em uma matéria que anunciava o julgamento. Acompanhei atentamente todos os depoimentos, fazendo anotações, já que não era permitido o uso de celular. No intervalo da sessão, o viúvo me concedeu uma entrevista sobre as primeiras impressões e as expectativas. A falta de Fabiana, com quem ele partilhou “14 anos intensos de vida”, estava estampada em seus olhos. Senti um aperto no peito ao reviver junto aquela história tão impactante. Também conversei com um professor, que havia trabalhado junto com Fabiana e alertou sobre os perigos do uso de armas de fogo em locais públicos; com alunos dela, que lotaram o plenário; e com parantes e amigos, que compareceram ao Fórum usando camisas com a foto da professora estampada e o pedido de justiça.
Não fiquei até o resultado final, acompanhado pela colega Mariana Floriano, com quem dividi a pauta naquele dia. Por quatro votos a três, o acusado pela morte de Fabiana foi condenado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A pena para o crime varia de um a três anos de detenção. O réu segue respondendo em liberdade, enquanto o caso seguiu para recurso junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). O Ministério Público recorreu da decisão do júri, pedindo a condenação por homicídio por dolo eventual – quando o agente não tem a intenção direta de causar a morte, mas assume o risco de produzir esse resultado ao realizar uma conduta perigosa. Neste caso, a pena pode chegar a até 20 anos de prisão.