Cerca de 80 estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) ocuparam a reitoria da instituição nesta terça-feira (25) para realizar um ato de protesto e solicitar intérpretes de libras para alunos com deficiência auditiva. Os discentes foram acompanhados por componentes de movimentos sociais e professores do curso. Antes de chegar ao prédio da reitoria, os estudantes chegaram a fechar parcialmente o acesso do pórtico norte, retendo o trânsito local por cerca de 30 minutos.
Três alunos, que cursam arquitetura e urbanismo, educação física e artes e design, dividem dois intérpretes de libras, contratados temporariamente após o protesto organizado por alunos do curso de Educação Física, desde o início do período, em agosto.
Os estudantes reivindicam a contratação de mais profissionais. “Eles não estão conseguindo assistir todas as aulas, e até então, a postura da universidade tem sido de aconselhar, sutilmente, que eles tranquem algumas disciplinas. A gente entende que a UFJF pediu 33 intérpretes e só foram liberados dois, mas alguma coisa tem que ser feita”, disse a integrante do Centro Acadêmico (CA) do curso de Arquitetura e Urbanismo Laura Engenheiro. Ela ainda enfatizou que o movimento não é para reivindicar intérprete apenas para a aluna deficiente auditiva da Arquitetura e Urbanismo, e sim, em prol de todos os alunos que estão prejudicados pela falta de assistência.
“Não é uma questão só de acessibilidade, mas também de permanência estudantil, lembrando que a ausência desse serviço de intérprete coloca em xeque a permanência destes estudantes na universidade, já que não tendo o intérprete, eles não podem frequentar as aulas e podem até trancar a matrícula por falta de condições de continuar o curso”, disse o membro do CA da Arquitetura e Urbanismo e do movimento Levante Popular da Juventude Filipe Paiva.
O pró-reitor da UFJF Marcos Freitas recebeu os alunos para uma conversa e disse que eles seriam recebidos pelo reitor Marcus David. A conversa com o reitor acontece durante esta tarde, no anfiteatro da reitoria. A Tribuna procurou a UFJF para se posicionar com relação às demandas dos alunos e aguarda resposta da instituição.
Comprometimento do desempenho acadêmico
Estudantes alegam que a UFJF teve tempo de se preparar para a chegada dos alunos com deficiência, já que a Lei 13409, de 2016, foi implementada em 2018 e prevê a reserva de vagas nas universidades para pessoas com deficiência nos cursos técnicos de nível médio e superior das instituições federais de ensino.
Os alunos lembraram que até para ler textos acadêmicos os colegas com deficiência auditiva necessitam de intérpretes, já que a sua primeira língua é a libras, e o reconhecimento do português é distinto. Eles também necessitariam dos intérpretes para participar de monitorias, palestras, grupos de pesquisas e outras atividades acadêmicas extracurriculares.
A professora do curso de Arquitetura e Urbanismo Raquel Portes avalia que a desassistência pode causar comprometimento do desempenho acadêmico dos alunos. “É uma carga horária grande sem o intérprete, o que dificulta o acompanhamento pleno no curso e nas disciplinas. Os primeiros períodos são os mais puxados, há sim a possibilidade de haver uma defasagem, justamente por conta de não ter esta demanda atendida imediatamente. Mas creio que esse prejuízo possa ser sanado posteriormente.” A professora ressalta que a falta de assistência não é exclusividade da UFJF. “A gente vive um momento de precarização das universidades públicas, o que a nossa está passando não é caso único.”
Sem intérprete
A reportagem da Tribuna solicitou à UFJF um intérprete de libras para conversar com a aluna Ana Lua, que é deficiente auditiva, mas a instituição não autorizou o profissional a mediar a conversa, embora ele estivesse no local.