Esquecido no frio por se mover menos e quase não incomodar, o Aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre chikungunya, do zika vírus e da febre amarela, ainda é uma ameaça, já que seus ovos, espalhados pelo ambiente, conseguem sobreviver por mais de um ano. Com a entrada da primavera e o retorno das chuvas, os ovos que não foram removidos de reservatórios poderão eclodir assim que tiver contato com a água. Conforme o coordenador de campo da Secretaria de Saúde do município, Juvenal Franco, “os ovos ficam nas beiradas dos recipientes, como caixa d’água e vasos de planta, e não dentro da água. Por isso, é importante as pessoas realizarem com frequência a limpeza das caixas d’água, vasos de planta e outros locais que possam servir de criadouro.” Apenas este ano, pelo menos 19.459 pessoas foram infectadas e 48 morreram vítimas da dengue em Juiz de Fora, segundo o boletim epidemiológico divulgado na última quarta-feira pela Secretaria de Estado de Saúde (SES). O número de óbitos é mais que o dobro contabilizado em 2010, quando 17 pessoas faleceram por causa da doença e a cidade vivia sua pior epidemia até então.
Fumacê
Mesmo durante o inverno, alguns leitores entraram em contato com a Tribuna para relatar terem visto alguns mosquitos em suas residências. “No Bairro Bonfim, tenho matado cinco por dia. Não sei quais medidas a Prefeitura está tomando, mas acho que seria o caso de continuar com o fumacê”, sugere Danielli Videira. Na sua casa, a mãe de 63 anos teve dengue no ano passado e, neste ano, o irmão, também. “Aqui na rua, a cada cinco pessoas, quatro tiveram dengue.”
Conforme o subsecretário de Vigilância em Saúde, Rodrigo Almeida, o Ministério da Saúde preconiza que o UBV seja utilizado apenas no período de epidemia, com casos acima de 1.500 pessoas infectadas em um curto período. “Para utilizar o fumacê, a gente tem que estar em um período de alta transmissão, porque se você usa o inseticida agora, você vai gerar resistência e não vai matar o mosquito adulto, já que há pouco mosquito voando.” O subsecretário conta que os trabalhos estão sendo intensificados para antecipar e evitar uma nova epidemia. Entre as medidas, está o Comitê Municipal de Enfrentamento a Dengue que se tornou permanente e se reúne mensalmente para definir novas ações.
Setenta e um novos agentes são contratados
Cinquenta e dois novos agentes de endemias estão trabalhando em campo e outros 19 estão em processo de admissão para o combate ao Aedes aegypti em Juiz de Fora, segundo informações da Secretaria de Saúde. “O ideal seria que Juiz de Fora tivesse 221 agentes de endemias. Chamamos 50 agentes para o período de emergência sob contrato de 90 dias. Por meio do Comitê Municipal de Enfrentamento a Dengue, verificou-se que realmente a gente precisava ampliar esse trabalho porque a epidemia tem crescido, não só em Juiz de Fora, mas em todas as partes do país. Assim, efetivamos esses 50 agentes que haviam sido contratados e chamamos outros que estavam no cadastro reserva. Agora temos os 221 agentes, atendendo a recomendação do Ministério da Saúde”, explicou o subsecretário de Vigilância em Saúde, Rodrigo Almeida. O Ministério da Saúde preconiza um agente de endemia para cada 800 a mil residências. Em Juiz de Fora, são 218.688 imóveis.
Em novembro do ano passado, um relatório do Estado apontou falhas no Programa de Controle à Dengue do município. Entre elas, estava a inexistência do cargo de supervisor. Segundo Rodrigo Almeida, neste ano, foram nomeados supervisores de campo e de áreas. O supervisor de campo coordena cinco supervisores de área. E cada supervisor de área, coordena até dez agentes. “Isso não era remunerado. A gente fazia como a maioria dos municípios faz, apenas designava. Agora, nomeamos esses cargos e remuneramos para poder melhorar o serviço e cobrar mais. Também criamos metas que são avaliadas a cada 60 dias. Algumas metas são o aumento do número de residências visitadas e resgate de residências fechadas. Nas equipes que não estiverem alcançando as metas, iremos trocar os supervisores.”
A Secretaria de Saúde não informou o percentual de casas visitadas neste ano e nem se foi cumprido a meta estipulada pelo Ministério da Saúde de o município vistoriar todos os imóveis da cidade a cada dois meses. Em anos anteriores, Juiz de Fora não chegou nem próximo ao número preconizado, sendo que até julho de 2014, apenas 7,3% da meta anual havia sido cumprida e durante todo o ano de 2013, a cobertura foi de 15,7% da meta.
Aplicativo mapeia focos de dengue
Um aplicativo de celular promete auxiliar a população e o Poder Público no combate ao mosquito Aedes aegypti. O ZikaZoom foi desenvolvido por duas estudantes do curso de sistemas de informação da Faculdade Cenecista de Varginha, Prisciane de Assis e Raíssa Cogo, e mapeia os focos do vetor, de forma colaborativa, por meio de geolocalização.
De acordo com Prisciane, a ideia do aplicativo surgiu em razão dos altos índices de infestação do mosquito no país. A estudante é estagiária de informática da Superintendência Regional de Saúde de Varginha, o que a deixa próxima das questões relacionadas à saúde nesta região. Prisciane explica que há duas opções para se utilizar o aplicativo, por meio do GPS ou tirando uma foto e marcando a localização no mapa. O app é gratuito e está disponível na plataforma Android para qualquer lugar do mundo. Segundo a estagiária, já foram realizados mais de 50 downloads em todo o Brasil e até fora do país, como nos Estados Unidos.
O aplicativo ainda está em fase de testes, mas já há interesse em se elaborar projeto para associar os resultados do aplicativo ao trabalho dos agentes de endemias da cidade de Varginha. “Apresentamos na Câmara de Varginha, e os vereadores ficaram interessados. A gente acredita que as prefeituras irão aderir. Estamos felizes, pois não esperávamos tanto interesse. Esperamos que o aplicativo ajude realmente a reduzir o número de pessoas infectadas pelas doenças transmitidas pelo Aedes e o número de óbitos.”