O prefeito Antônio Almas (PSDB) voltou a subir o tom e insistir para que a população tenha consciência da gravidade da pandemia do coronavírus em Juiz de Fora. “Peço, mais uma vez, a cada cidadão que se comprometa consigo mesmo e com outros e fique em casa. Obedeça ao isolamento social para evitar ações mais fortes. Se incomoda tanto a discussão do lockdown, por que não fazer a nossa parte para que ele não seja necessário?”, resumiu Almas, ao fim de uma hora de nova transmissão ao vivo pelas redes sociais, na manhã desta quinta-feira (25). O prefeito deixou claro o risco de colapso do sistema de saúde, caso o comportamento dos juiz-foranos não mude, deixando de fazer aglomerações em espaços públicos, como no Calçadão da Rua Halfeld e no Mirante da BR-040, que vai ser interditado a partir do próximo sábado (27), exatamente pela quantidade de pessoas que frequentou o local no último fim de semana.
Ao mesmo tempo em que o Executivo municipal classificou como fake news informações que circulam nas redes sociais sobre suposto decreto para lockdown na cidade a partir de segunda (29), Almas não descartou a possibilidade, acrescentando que novas decisões poderão ser tomadas na noite desta quinta, durante reunião do Comitê de Prevenção e Enfrentamento ao Coronavírus (Covid-19). No entanto, ele ponderou que medidas mais drásticas, como essa, deveriam ser tomadas, ao menos, de forma microrregional para surtirem o efeito desejado, e não isoladamente pela Prefeitura, já que Juiz de Fora é referência para outros 93 municípios da Macrorregião Sudeste, com população estimada em 1,6 milhão de pessoas, ou para 23 cidades, se for levada em conta apenas a microrregião. Ainda assim, segundo ele, o lockdown dependeria da colaboração de todos para funcionar da maneira desejada.
O prefeito lembrou que a taxa de ocupação dos leitos de UTI cresceu nas últimas semanas, assim como os números de casos confirmados e suspeitos. “Houve uma piora do quadro sanitário de Juiz de Fora”, observou, demonstrando preocupação com a inserção de dois bairros da Zona Norte – Benfica e Nova Era – na lista dos dez com mais confirmações da doença, onde prevaleciam bairros da Zona Sul e Cidade Alta. “Quero chamar a atenção para a necessidade de nos preocuparmos ainda mais com essa doença. Quero apelar também para a sensibilidade das pessoas da Zona Norte. Estamos recebendo denúncias, principalmente sobre o centro comercial de Benfica. É preciso que as pessoas tenham responsabilidade, não é o momento de estarem voltando para as ruas.”
Almas destacou que o movimento de ascendência da curva da Covid-19 não acontece só em Juiz de Fora, mas no Brasil inteiro. “Há um descompasso entre os riscos sanitários e o que a população tem feito, não tem atendido ao chamamento de isolamento social. Para vencermos este momento de dificuldade, precisamos que haja esse olhar de novo para a questão pandemia. Parece que nós estamos nos acostumando, mas é o momento de piora da situação. Estamos colocando nosso sistema de saúde em risco. Na terça (23), tivemos 88% de ocupação dos leitos de UTI (SUS) em Juiz de Fora. Hoje, os índices mostram 85%.” Já em relação aos leitos totais, envolvendo os privados, a taxa é de 74%. “Mas o que a grande massa está envolvida é com o sistema público. É esse que impõe restrição aos nossos hábitos”, enfatizou.
Diante dessa ocupação, o prefeito acredita que um pico poderá ser atingido já na próxima semana, entre os dias 4 e 5. “Poderemos ter um problema muito mais sério”, disse ele, citando o estudo da UFJF, apresentado ao Comitê de Prevenção e Enfrentamento ao Coronavírus (Covid-19) na última terça. “Os números são muito preocupantes. Poderemos ter no dia 4 de julho ocupação de 86 leitos só com Covid-19. Hoje estamos com 71, então poderemos necessitar de mais 15 só para Covid até o dia 4.”
Acidentes
O prefeito observou que, em 26 de maio, há 30 dias, 17% da ocupação dos leitos de UTI SUS era composta por vítimas do coronavírus. “Hoje praticamente dobramos. Estamos com 31% dos leitos ocupados por Covid-19. E aqueles ocupados por outras patologias também cresceram.” Para ele, isso é reflexo do movimento nas ruas. “O que foi feito lá atrás foi o isolamento social. A cidade ficou vazia, diminuiu o trânsito e também houve redução dos acidentes, o que impactou em ocupação de leitos de UTI, principalmente no HPS. Hoje, com a população voltando para a rua, também começou a aumentar o número de acidentes automobilísticos.” Almas lembrou que, com a chegada do inverno, incidem patologias que necessitam de UTI, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e outras infecções respiratórias, como pneumonias bacterianas e virais. “Estamos somando vários fatores e mostrando um cenário muito difícil à frente.”
Comportamento nas redes sociais é rebatido
O prefeito Antônio Almas demonstrou incômodo com comentários realizados nas redes sociais sobre sua gestão diante da pandemia. “Parece que somos inimigos. O nosso único campo de batalha é o enfrentamento ao coronavírus. O prefeito não quer a destruição do setor produtivo da cidade. Só se eu fosse maluco. Não é essa dicotomia sanitária-econômica que temos que trabalhar. Muito pelo contrário. Temos que ter a coragem de enfrentar uma realidade que está se impondo. Corremos risco grande de acontecer o que nenhum de nós deseja: o colapso do sistema de saúde.”
O chefe do Executivo fez questão de lembrar que os leitos de UTI SUS foram ampliados em cerca de 50% na cidade, passando de 108 para 161, assim como os privados foram elevados em cerca de 30%, chegando a 91. “Muitas pessoas andam dizendo em redes sociais que nada fizemos para ampliar os leitos e que, por isso, não podemos voltar à vida normal. Primeiro: não sabemos se teremos vida normal como conhecíamos antes. Todos nós trabalhamos com a possibilidade de um novo normal ainda por um grande período, motivado pelas ações que teremos que ter a cada dia para garantir a não contaminação. É preciso convencer que estamos juntos nesta guerra, para sermos soldados e combatentes de um mesmo lado.”
Ainda sobre a ampliação de leitos, Almas garantiu continuar trabalhando para isso, mas falou das dificuldades enfrentadas. “Não depende só do prefeito, precisamos criar estruturação e mandar para o Ministério da Saúde aprovar. Também temos buscado comprar equipamentos”, afirmou, destacando os ventiladores mecânicos. “Os valores estão muito altos e, mais do que isso, não tem entrega para o período que precisamos. E não basta ter espaço físico e equipamentos, precisamos de equipes bem treinadas. Esta é outra dificuldade. Já convocamos 80 médicos e não conseguimos contratar todos.”
O tucano reforçou que, se a população não colaborar, “não adianta dizer que a culpa é do prefeito”. “Estamos fazendo nossos esforços. Qual é a única ferramenta que no mundo inteiro funcionou? O isolamento social. Onde isso foi desvalorizado, observamos explosão (de casos) e o colapso do sistema de saúde.” Almas destacou que se o sistema colapsar, significa que as pessoas poderão estar com seus entes queridos na porta do hospital querendo uma vaga, seja no sistema público ou privado, e essa vaga não existirá. “Por isso, precisamos que cada um faça a sua parte.”
Ainda sobre a consciência de cada cidadão a fim de evitar o pior, o chefe do Executivo municipal repetiu a frase da última transmissão ao vivo, na segunda-feira (22). “Nenhum bar saiu de onde estava. Fomos nós que nos aglomeramos, que nos reunimos no mirante (da BR-040), como se fosse uma grande festa. Somos nós que nos aglomeramos no Calçadão da Rua Halfeld sem necessidade.” Almas disse que “as pessoas estão indo para a rua andar”, enquanto a taxa de transmissão do vírus está alta. “O ideal é termos o chamado RT abaixo de 1. O nosso está batendo 1,13; 1,15. Isso só vai aumentando nosso risco.”
‘Esta decisão não cabe ao prefeito’
Sobre a adesão de Juiz de Fora ao programa Minas Consciente, o prefeito Antônio Almas avaliou que, se a cidade está na onda verde, a mais restritiva de todas, só seria possível retroceder – como é recomendado quando se atinge 90% de ocupação dos leitos de UTI – se houvesse a previsão de lockdown no programa. “Essa decisão não cabe ao prefeito.”
Para ele, não bastam os protocolos sanitários que os diversos segmentos têm apresentado para retorno das atividades, e não serão medidas locais que resolverão o problema econômico a longo prazo. Sobre “a desobediência de vários setores, que não pertencem à onda verde e estão abrindo”, ele garantiu fiscalização.
Almas reforçou a importância de a Polícia Militar trabalhar junto aos fiscais de posturas. Ele lembrou que o governador Romeu Zema (Novo) determinou, nesta semana, que a PM oriente as pessoas sobre a obrigatoriedade do uso das máscaras em locais públicos, atuando também para impedir aglomerações. O prefeito anunciou ações mais incisivas em áreas comerciais, não só no Centro, mas também em bairros, como Benfica e Manoel Honório. Ele ainda destacou o apoio do Corpo de Bombeiros e do Exército, enfatizando que este atua “em ações pertinentes e dentro da legalidade para enfrentamento da Covid-19”.
O chefe do Executivo ressaltou que a semana passada bateu recorde em número de casos, com mais 386 confirmações da doença e 756 suspeitas, entre os dias 14 e 20. “Nesta semana, já chegamos a 665 casos suspeitos e 215 confirmados. Isso significa que atingirá o mais alto número. Estes dados estão sendo trabalhados por todas as equipes para tomarmos uma decisão. Se algum dado novo se agregar a esse cenário sombrio, com certeza teremos medidas mais drásticas.”
Para que isso não seja necessário, ele reiterou a necessidade do uso de máscara e do distanciamento de dois metros entre aquelas pessoas que não puderem ficar em casa. “Estamos falando isso há 90 dias, o mundo está falando há seis meses. Precisamos continuar ganhando tempo, para que nosso sistema não entre em colapso. Foi com o comportamento da população, que disse sim no começo, que pudemos ampliar em 50% os leitos de UTI.”
Conforme Almas, a equipe da Organização Pan-Americana esteve em Juiz de Fora no fim de semana passado e, durante treinamento, orientou que lockdown só em Juiz de Fora não seria suficiente para frear o avanço do coronavírus. “Se as outras cidades (da região) não fizerem esforço nesse sentido, vai continuar tendo transmissibilidade. Talvez precisemos alterar o decreto para endurecer algumas decisões. O que assistimos no mirante foi uma situação completamente sem visão sanitária. Cada um pode mudar o rumo desta história, para não atingirmos o colapso, pelo bem da coletividade.”