A cada dia, um veículo entra na mira dos bandidos em Juiz de Fora. Somente no período de janeiro a maio deste ano, foram 155 casos, sendo 38 furtos e roubos de motocicletas e 117 de carros. Entre as regiões da cidade, a Zona Norte lidera o índice de veículos furtados e roubados, com quase um terço do total. Isso é o que mostra levantamento feito pela Tribuna durante os cinco primeiros meses de 2017, com base em documentos divulgados diariamente pela Polícia Militar. E os roubos continuam neste mês. Somente na última semana, trêsveículos foram roubados e outros dois furtados. Na última quinta-feira (22), três mulheres foram rendidas na Rua Pedro Botti, no Bairro Alto dos Passos, Zona Sul. Elas estavam em um Corsa Hatch, quando foram surpreendidas por um criminoso armado com revólver, que fugiu com o automóvel. O outro episódio violento ocorreu na noite de quarta-feira (21) no momento em que um condutor abastecia em um posto de combustível na Avenida Antônio Simão Firjan, no Distrito Industrial, Zona Norte. Dois homens armados renderam o frentista e, logo depois, seguiram na direção do motorista e levaram seu veículo. Em rastreamento, a PM localizou o carro roubado na BR-040.
Violência
Dos 25 casos de roubos de carros e motos, em 18 houve uso de arma de fogo, o que preocupa especialistas e autoridades de segurança. A polícia garante que operações são realizadas com frequência a fim de retirar os armamentos de circulação. Chama atenção ainda a concentração destes delitos em bairros da Zona Norte, com 38 furtos e nove roubos. A região central aparece na sequência com 30 furtos.
Em relação ao período do dia em que ocorrem os crimes, o preferido dos ladrões concentra-se entre 18h e meia-noite. Mas a luz do dia também não intimida os assaltantes, já que pelo menos 36 casos ocorreram entre 6h e meio-dia.
Para o titular da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos, Rafael Gomes, os números são assustadores e revelam que ainda há muito por fazer. “Os crimes de furto têm essa característica de acontecer na região central, pois os bandidos se valem da grande circulação de pessoas e de veículos. Apesar da presença policial e de câmeras de monitoramento, como o Olho Vivo, este tipo de crime não causa alarde. Sendo, portanto, ações, muitas vezes, despercebidas pelas autoridades. A Zona Norte é uma localidade onde já é sabido que a violência é maior e, talvez, isso explique a ocorrência frequente de roubos nos bairros que compreendem essa região”, diz o delegado, acrescentando que a maioria dos roubos e furtos estaria sendo realizada para prática de outros delitos com o uso dos carros ou motos, muitos deles abandonados depois sem deixar pistas. A PM classifica a ação como roubo de uso.
Conforme levantamento da Tribuna, 44 veículos foram localizados durante os cinco meses de análise. “Hoje não é mais possível dizer que os indivíduos praticam uma só modalidade criminosa. Antes existia aqueles que só roubavam carros, outros que só praticavam tráfico de drogas, aqueles que cometiam homicídios. No entanto, eles têm transitado em todas as esferas criminais”, constata Rafael Gomes, não descartando a possibilidade de esses automóveis serem destinados para desmanches e vendas de peças.
Inteligência criminosa
“Os assaltantes têm dificultado cada vez mais o trabalho da polícia.” É o que afirma o delegado Rafael Gomes, enfatizando que os bandidos também utilizam de inteligência a fim de ter sucesso em suas ações. “Os assaltantes têm olheiros que observam a rotina da vítima. Podem ainda se valer da troca de turno da polícia ou até mesmo simulam outros crimes de maior vulto. Por exemplo, fazem contato com a PM informando a existência de um caso de roubo com refém, homicídio e, a partir disso, viaturas são deslocadas para o tal endereço, enquanto eles praticam o crime planejado. Em alguns episódios, esses indivíduos dão tiro para o alto, assustam a comunidade que passa a acreditar em uma ocorrência grave, fazendo a corporação gastar tempo, colhendo informações e desvendar o suposto episódio, quando, na verdade, tudo foi organizado para que eles tivessem trânsito livre na prática de roubos e furtos contra veículos.”
O comandante do 27º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Oterson Nocelli, responsável pela segurança nas regiões Norte, Sul e Cidade Alta, que juntas somam 77 registros de roubos e furtos, garante que a PM realiza operações específicas para combater crimes contra veículos, que têm sido estudados pela corporação. “Nossas equipes têm ações voltadas para a prática destes crimes, como a Operação Desmanche, realizada na segunda semana de junho em bairros da Cidade Alta. Realizamos abordagens a carros e motocicletas em atitudes suspeitas, fomos a oficinas daquela localidade e, nesta ocasião, nada de irregular foi encontrado. É necessário o alerta para a compra de veículos e de peças, que deve acontecer sempre em locais autorizados, a fim de não contribuir para casos de desmanche e receptação.” O tenente-coronel lembra que o autor busca formas mais fáceis para o cometimento dos crimes. “Se o motorista age de forma desatenciosa, com vidros abertos, falando ao celular ou respondendo mensagens, braço para fora e bolsas à mostra, colabora para o delito.” O oficial afirma que os crimes violentos reduziram 20% na cidade em razão das operações policiais, que visam também a apreensão de armas de fogo. “Menos uma arma em circulação é menos uma possibilidade de crime contra a vida e contra o patrimônio. Pela facilidade de ocultamento das armas, nossas equipes precisam somar esforços para que elas saiam do domínio de infratores.”
Ações policiais
A Polícia Civil afirma que ações são desencadeadas para coibir essa e outras modalidades delituosas. “Nossa especializada atua diariamente na investigação dessas ocorrências. No entanto, encontramos algumas barreiras em razão das benesses da lei, que acabam colocando esses suspeitos na rua novamente. No entanto, vamos continuar realizando nosso trabalho”, pontua Rafael, reiterando que o emprego de violência em casos assim acende o alerta das polícias que atuam na identificação e prisão desses indivíduos.
Alerta para venda e adulteração de carros
Além do uso dos automóveis em outros crimes, a Polícia Civil não descarta a venda e encomenda de veículos, o que pode ser um fator que movimenta o mercado criminoso não só em Juiz de Fora como em outras cidades e estados. “Bandidos têm acesso a documentação de um determinado veículo e, a partir desses dados, encomendam um veículo de mesmo modelo para ser clonado, ter a documentação “esquentada”, ser realizada a adulteração dos chassis e trocadas as placas de identificação. A partir daí, o automóvel volta ao mercado com uma aparência comum sem levantar suspeitas de irregularidade. “Muitos carros são roubados e furtados em Juiz de Fora e vendidos ou adulterados em outras cidades”, disse o titular da Especializada de Repressão a Roubos, Rafael Gomes.
Para o chefe da 5ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Juiz de Fora, Wallace Wischansky, há algumas situações de carros produtos de crime, clonados e com chassi adulterados que acabam sendo apreendidos na BR-040. No entanto, conforme Wallace, não se pode falar que a rodovia é rota desse tipo de crime. O caso mais recente ocorreu na última terça-feira (20), quando um comerciante de 36 anos foi preso em flagrante. Ele trafegava em um Volkswagen Golf na rodovia durante a madrugada, momento em que foi interceptado pela PRF, no km 766 da BR-040, em Dias Tavares, na Zona Norte de Juiz de Fora. Os policiais constataram que houve adulteração do número do chassi, possivelmente por se tratar de um modelo clonado, com placa de Itapeva (SP).O motorista, morador de Belo Horizonte, apresentou um documento falso do carro e alegou não saber que o veículo era produto de crime.
“Temos que considerar a grande circulação de automóveis na via, tendo em vista a importância da rodovia e sua extensão. Isso acontece a nível nacional”. O chefe da delegacia garante que as apreensões feitas pela PRF são realizadas por policiais especializados e capacitados para identificar esse tipo de veículo. No site da PRF, as vítimas têm uma ferramenta que auxilia na localização dos carros produto de crime. Na página, é possível realizar o cadastro do automóvel, bastando preencher os campos com os dados solicitados. A partir desse registro, a informação passa a fazer parte de um sistema nacional, auxiliando na identificação e recuperação. O formulário está disponível no endereço eletrônico www.prf.gov.br/portal.
Condutor deve estar atento ao entorno
Instrutor de táticas defensivas há mais de 20 anos, Roberto Aragão garante que, em caso de roubo, jamais deve-se reagir. Ele é especialista na área de proteção pessoal, ministra cursos para civis, polícias e seguranças de várias personalidades nacionais e internacionais. “Deixe o assaltante ter certeza que ele está no controle da situação.” Para ele, é possível evitar esses crimes desde que a pessoa tenha 90% de prevenção, 5% de reação e os outros 5%, sorte. Ele ressalta a importância de trafegar focado na direção, sem se distrair com celular ou mensagens de texto ou voz. É essencial estar atento à movimentação do local, perceber se não está sendo seguido, além de dar prioridade aos estacionamentos privados. Não havendo essas possibilidades, Aragão orienta priorizar vias movimentadas.
Evitar ficar conversando dentro do automóvel, mexendo em bolsas e carteiras diminui as chances de ser vítima de roubo. Segundo o especialista, muitos casos ocorrem em frente a portões de casas ou entrada de prédios, quando os motoristas estão menos atentos. Por isso, deve-se avisar a alguém de que está se aproximando para que o portão seja aberto. Nunca parar com o veículo de frente para o portão e sim pela lateral, pois isso dificulta que o bandido tenha certeza se aquele local é sua residência. É importante reparar também em pessoas paradas próximo à entrada, atrás de árvores ou do outro lado da rua, além de transitar com vidros fechados e as portas travadas.
Nos semáforos, é interessante reduzir a velocidade ao se aproximar deles, de forma que não tenha que parar e possa seguir ao sinal verde. Distanciar de outro veículo para, em caso de assalto ao carro da frente, ter espaço de reação. “Evitar expor informações em redes sociais e até mesmo contar em detalhes sobre sua rotina para pessoas em locais públicos. Do lado pode haver um assaltante, e ele utiliza da sua conversa como fonte de informação. Ele pode praticar o crime, já sabendo dos seus passos, horas depois. Não há nada mais valioso que a vida”, assevera Aragão.00