Quem passou pelo Calçadão da Rua Halfeld, no Centro, na manhã deste sábado (25), não resistiu e parou para observar a exposição de pesquisas desenvolvidas por alunos do curso do Ciências Biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Espécimes de animais e de plantas aguçaram a curiosidade das pessoas, que se aglomeraram ao redor das mesas dos estudantes para saberem um pouco mais sobre a produção acadêmica dos universitários. O objetivo, segundo os alunos, foi mostrar para a população como a pesquisa que vem sendo desenvolvida no campus impacta socialmente a vida das pessoas e fazer com que os cidadãos se sintam mais próximos da universidade.
O estudante Thiago da Silva Novato, que se formou em Ciências Biológicas em 2017 e, atualmente, cursa mestrado, contou que o estudo abriu várias portas para ele, além de fazê-lo consciente acerca de diversos aspectos da vida em sociedade. O jovem levou para o Calçadão sua pesquisa, que trabalha a relação entre os agricultores e as formigas cortadeiras. “Desenvolvemos métodos alternativos junto com agricultores de movimentos sociais para controlar as formigas. Nosso objetivo é conseguir criar extratos de plantas para fazer o controle desses insetos. São métodos agroecológicos testados em laboratório, a fim de verificarmos se têm efeito repelente ou deterrente e descobrir um viés social”, relatou com entusiasmo o universitário, que também trabalha numa pesquisa sobre formigas que já começaram a nascer com os rejeitos da barragem de Mariana (MG), cuja finalidade é entender a recolonização do ambiente.
Thiago destaca que é fundamental para os cidadãos compreenderem que a universidade é um espaço democrático e que tem a função de universalizar o conhecimento. “Nossa intenção é mostrar uma ponte existente entre o conhecimento científico e o popular, porque, muitas vezes, as pessoas não conhecem o que é realizado dentro da universidade”, defende o jovem, lembrando que a UFJF tem diversos programas sociais para atendimento à população. “Por exemplo, temos o HU, que fornece vários programas de consultas gratuitas, sendo o único espaço que faz o transplante de medula óssea pelo SUS, o que é muito importante. Há vários programas odontológicos que atendem muitas pessoas também de forma gratuita. São muitos projetos de extensão. E dentro da Biologia, particularmente, há trabalhos sendo desenvolvidos para o meio ambiente, na área de biotecnologia, com conservação e manejo do meio ambiente.”
A estudante do último período de Ciências Biológicas, Layla Fonseca, que também é aluna de iniciação científica do Laboratório de Ecologia Aquática, apresentou em seu estande um pouco da água do lago do Museu Mariano Procópio. “É para a população entender qual o fenômeno que acontece naquele lago, que tem a água verde, a fim de contribuir para uma reflexão dos corpos hídricos da cidade, do Rio Paraibuna e outros reservatórios, porque a água impacta a nossa vida, já que dependemos dela”, disse a jovem.
Ela ainda pontuou a movimentação dos universitários no Calçadão tinha como maior intento levar as pessoas a enxergaram a influência dos estudos nas suas vidas. “No nosso laboratório, temos uma linha de pesquisa sobre as mudanças climáticas, e que conta com o professor Nathan Barros, que participou recentemente de um painel na ONU, sendo considerado um dos pesquisadores mais promissores do Brasil em relação a esse tema”, afirma Layla.
Mobilização nacional
O ato dos estudantes contou com a participação e organização de membros do DA do Curso de Ciências Biológicas e acompanha uma mobilização nacional de universitários para levar as pesquisas científicas para as ruas, desenvolvendo trabalhos de educação ambiental, de ecologia, sobre comportamentos e etologia. O propósito é alertar a sociedade sobre a crise que está sendo provocada pelos cortes de orçamentos para a área de educação. “Precisamos dos recursos públicos, para compra de material, condições de acondicionamentos de animais, solventes e reagentes que são caros para a realização das pesquisas. Esses cortes nas verbas têm impactos negativos, pois podem interromper esses estudos. Assim, estamos apelando para a população, mostrando o que é a universidade”, conclui o estudante Thiago.
Sensibilizada com o ato dos alunos, a secretária Hellen Dias do Nascimento, moradora do Bairro São Bernardo, era uma das curiosas a respeito dos trabalhos expostos. “Eles estão cobertos de razão em sua mobilização. É preciso vir para as ruas, mostrar o que estão estudando, o que de bom estão pesquisando para a sociedade. Eles têm todo o meu apoio”, enfatizou.