Juiz de Fora pode ganhar uma ciclovia às margens do Rio Paraibuna, ao longo da Avenida Brasil, entre o Bairro de Santa Teresinha e o Bairro Poço Rico. No início de março, a Secretaria de Esporte e Lazer, em parceria com a Secretaria de Planejamento do Território e Participação Popular, da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), realizou reunião para discutir o projeto que visa a garantir um novo espaço para os ciclistas na cidade. De acordo com a PJF, a previsão é de que a ciclovia seja implementada ainda este ano.
Segundo o secretário de Planejamento do Território e Participação Popular, Martvs das Chagas, o objetivo da proposta é criar uma ciclovia em quase toda a extensão do Rio Paraibuna, começando pelo Bairro Ponte Preta, na Zona Norte, até chegar ao Bairro Vila Ideal, na região central da cidade. Porém, nesta primeira etapa, a Prefeitura irá se concentrar no trecho compreendido entre a ponte da Avenida Rui Barbosa, em Santa Terezinha, até, aproximadamente, a altura do Tupynambás, no Poço Rico, o que corresponde a cinco quilômetros de percurso.
Para viabilizar a obra, a Prefeitura está em busca de empresas que tenham o interesse de contribuir com a proposta. “A exemplo do que ocorreu no Rio Pinheiros, em São Paulo, nós queremos que essa ciclovia seja completamente financiada e também mantida em uma parceria da Prefeitura com a iniciativa privada. Estamos, neste momento, em busca de parceiros para ampliar os que já existem, para arrecadar recursos e construir, o mais rápido possível, a ciclovia”, afirma Martvs Chagas. Entre os atuais colaboradores da iniciativa, segundo a PJF, estão, além do Município, a MRS Logística, as associações de ciclismo e outras empresas.
Por nota, a MRS Logística informa que foi responsável pelo desenvolvimento do projeto executivo da ciclovia, “por entender que esse empreendimento traz impacto positivo para a população”. A empresa ressalta que a iniciativa não contempla a execução da referida obra.
Ciclistas aguardam obra há mais de 20 anos
A discussão sobre o projeto de implementação de ciclovias em Juiz de Fora existe há mais de 20 anos. O primeiro esboço da ciclovia foi feito em 1994, elaborado pelo arquiteto Rogério Mascarenhas, contratado pelo ex-prefeito Tarcísio Delgado, que pretendia construir uma ciclovia às margens do Rio Paraibuna. A ciclovia fazia parte de um projeto maior, chamado de Eixo Paraibuna, que visava à despoluição do rio. Desde então, com as mudanças de gestão do município, as discussões foram retomadas, o projeto, remodelado, mas nada de concreto foi feito.
Segundo Mascarenhas, o projeto original de revitalização do Paraibuna contemplava uma grande ciclovia que iria percorrer o rio de Norte a Sul da cidade, desde o Distrito Industrial até o Bairro Vila Ideal, um trajeto que teria mais de 20 quilômetros. A proposta também previa o plantio de árvores, instalação de calçadões e quiosques às margens do rio.
“A ideia era criar grandes parques públicos na Zona Norte e Sul, ao lado do Rio Paraibuna, para transformá-lo não mais em um esgoto a céu aberto, mas em um parque linear. É claro que a ciclovia não poderia ter sido construída naquela época, porque primeiro precisava passar a tubulação de esgoto por baixo das margens do rio, que iriam levar o esgoto da cidade até a estação de tratamento. Agora que essa fase foi concluída e a tubulação instalada, já é possível fazer a parte de urbanização e contemplar a cidade com uma ciclovia”, explica o arquiteto.
Em 2005, o projeto Eixo Paraibuna foi escolhido para representar o Brasil em um dos maiores eventos de arquitetura do mundo, a Celebração das Cidades da União Internacional, que aconteceu em Istambul. Rogério conta que ainda tem esperanças de ver seu projeto sair do papel. “Acredito que, no futuro, essa área possa se tornar uma das regiões mais valorizadas da cidade. Seria uma alegria para mim e para toda a cidade poder ver o projeto executado, o rio sendo respeitado, bem urbanizado com arborização, paisagismo, calçadões e a ciclovia, que é fundamental para poder ligar a cidade, ainda mais no pós-pandemia, em que a bicicleta ganhou uma importância enorme.”
Plano Diretor Cicloviário
Em 2012, a Lei municipal 12.726 instituiu o Plano Diretor Cicloviário Integrado, que visa a estimular o uso de bicicletas na cidade em substituição ao transporte motorizado individual, as viagens a pé, ou como complemento ao transporte público de passageiros. A lei tem como objetivo o estabelecimento de um espaço viário adequado e seguro para a circulação de bicicletas, como ciclovia, ciclofaixa, ciclorrota, bicicletário, paradouro e paraciclo.
‘Urgente para a questão da segurança’
A nova proposta da Prefeitura traz esperança para os ciclistas da cidade, como aponta a presidente da Associação Juizforana de Ciclismo, Giovanna Rezende. “Esperamos que seja iniciado ainda neste ano, porque durante a pandemia houve um boom de pessoas aderindo a bicicleta como meio de transporte e lazer. Essa proposta já era muito necessária, hoje é mais ainda”. A associação observa que, embora não haja a estrutura de uma ciclovia, a população já utiliza o espaço nas margens do rio para andar de bicicleta, correr e caminhar.
“Nós precisamos dessa ciclovia porque hoje a utilização da via é de modo precário, não tem sinalização, não tem estrutura. Em vários pontos, as pessoas já andam em trechos de mato e terra. Essa obra não é só necessária, mas urgente para a questão de segurança dos transeuntes”, alerta Giovanna.
Outro ponto levantado pela associação é a criação de ciclorrotas para ter uma integração entre as áreas que não forem contempladas com a ciclovia. “Nas reuniões, nós temos colocado essa questão e relembrado a Prefeitura sobre a importância de revitalização das ciclorrotas, que são uma separação física entre ciclistas e veículos. Dessa forma, conseguimos sinalizar a existência dos ciclistas nas vias e também estimular o uso de bicicletas como um meio de transporte”, explica a presidente. O secretário Martvs das Chagas garantiu que a questão das ciclorrotas será trabalhada no escopo do projeto.
Alternativa de mobilidade e redução de impactos ambientais
O engenheiro ambiental e coordenador do Núcleo de Análise Geoambiental (Nagea) da UFJF, Cézar Barra, explica que há três avenidas na cidade com uma topografia plana favorável para a implementação de ciclovias, que são a Rio Branco, a Brasil e a Presidente Itamar Franco. “Se houvesse uma sinalização adequada e uma campanha educativa com motoristas e ciclistas seria uma alternativa, já que esses três eixos principais interligam grande parte da cidade.”
O engenheiro ambiental destaca que a criação de ciclovias seria uma das alternativas frente aos impactos das mudanças climáticas. De acordo com Barra, a média de veículos por habitante no município chega a ser semelhante à de Brasília. No entanto, o investimento em infraestrutura não avança há 30 anos, o que afeta a segurança tanto de pedestres, quanto de motoristas, e cria um prognóstico de acidentes nas vias da cidade, aponta Cézar.
“Temos muitos veículos e não temos uma estrutura que acompanhou esse aumento de carros. O transporte coletivo não é atraente, tanto em termos de tarifa e horários, quanto de segurança – estamos vendo muitos acidentes com ônibus por causa de falha mecânica. Hoje em dia é estimulado ter transporte individual, você tem uma família com quatro carros, e isso não é sustentável a médio e longo prazo. A ciclovia seria uma maneira de atenuar o impacto de tanto veículo na cidade e tentar também ser uma alternativa ao transporte coletivo. Quando tiver a ciclovia muitas pessoas vão passar a usar bicicleta para ir trabalhar e estudar”, analisa.
Segundo Giovanna Rezende, uma das preocupações da associação é a iniciativa ser pensada e executada em harmonia com o meio ambiente, utilizando recursos que não agridam o rio. “Nós pontuamos a questão ambiental porque esse projeto já existe há algum tempo e sempre esbarrava em algumas regulamentações quanto a margem do Paraibuna.”
O secretário Martvs das Chagas afirma que o atual projeto contempla todas as necessidades das regras ambientais, mas se for preciso, serão feitos ajustes. “Todas as questões ambientais vão ser acompanhadas diretamente pela Secretaria de Sustentabilidade em Meio Ambiente e Atividades Urbana (Sesmaur), através da Subsecretaria de Meio Ambiente. E também vamos dialogar com órgãos ambientais tanto do poder público estadual, quanto do federal, para que possíveis problemas possam ser solucionados.”
Pontos de apoio
Além da ciclovia, Cézar reforça a importância de elaborar estações de apoio, como a criação de estacionamentos para os ciclistas deixarem a bicicleta de forma segura enquanto vão realizar outras atividades e pontos de apoio com bomba para encher pneu e outras ferramentas para fazer uma rápida manutenção da bike.
Campanhas de conscientização no trânsito
O diretor social da União Ciclistas de Juiz de Fora e Região (Unicicli), William Moraes, acredita que a implementação da ciclovia precisa estar conectada a uma campanha de conscientização no trânsito, para evitar acidentes e incentivar a população a usar o modal. William cita, como exemplo, as ciclorrotas da Avenida Rio Branco, criadas em 2016, que, por não serem respeitadas pelos condutores de veículos automotores, acabaram não sendo utilizadas como o esperado.
“A ciclovia, por si só, é um instrumento importante para o modal de bicicleta, mas Juiz de Fora precisa discutir com todos os atores de trânsito uma campanha educativa, para começar a construir uma cultura de respeito à bicicleta, o que não tem na cidade. Não adianta fazer ciclovias e ciclorrotas se a população não comprar essa ideia”, afirma.
William conta que os integrantes da Unicicli estão animados com a possibilidade de finalmente ter um espaço dedicado aos ciclistas, que muitas vezes precisam ir a lugares distantes do Centro para praticar a atividade. “Nossa expectativa é a melhor possível, acreditando que desta vez, depois de muitos anos, esse primeiro trecho da ciclovia vai sair do papel.”
Fóruns
De acordo com a Secretaria de Planejamento do Território e Participação Popular, serão realizados fóruns com a participação da população e da iniciativa privada, para apresentar o projeto, arrecadar recursos e elaborar um planejamento para começar as obras, que estão previstas para serem finalizadas ainda em 2022. A pasta informou que as datas das reuniões ainda não foram definidas.