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Pelo direito à identidade

"É muito bom poder ser quem sou." Crystiane Sterci, 24 anos, estudante de fisioterapia (Foto: Arquivo pessoal)
“É muito bom poder ser quem sou.” Crystiane Sterci, 24 anos, estudante de fisioterapia (Foto: Arquivo pessoal)
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“Toda chamada era um constrangimento. O professor diz um nome, e quem atende sou eu. É um nome pelo qual não me reconheço, e nem as pessoas me enxergam nele.” O que era uma rotina na vida da estudante de fisioterapia Crystiane Sterci, 24 anos, não voltará a acontecer em seu cotidiano acadêmico. Neste semestre, a Faculdade Estácio de Sá criou um sistema on-line em que os alunos e alunas podem requerer o uso de seu nome social (aquele pelo qual optam por ser chamados) em todos os documentos acadêmicos. Segundo o reitor de graduação da instituição, Douglas Machado, a ideia é coibir preconceitos e criar um ambiente acolhedor para todos os estudantes. “Até o fato de a solicitação poder ser feita pelo sistema evita que os alunos tenham qualquer tipo de constrangimento. Não precisa levar comprovante, não precisa ter o nome legalmente alterado, é só fazer o requerimento e toda a vida acadêmica na Estácio passa a levar o nome solicitado.”

Para Crystiane, a iniciativa promove representatividade e respeito, além de abrir portas para que mais pessoas trans e travestis tenham acesso ao ensino superior. “Somos vítimas de tanto preconceito que muitas travestis e trans deixam de fazer faculdade, porque sabem que em muitos momentos vão ser chamadas por seu nome de registro e isso causará vergonha, constrangimento, humilhação. Poder ter o nome que a gente escolheu é muito mais importante do que se pensa”, diz a aluna.

Segundo Douglas, antes mesmo que o sistema fosse implantado, qualquer aluno que manifestasse o desejo de usar o nome social em sua documentação escolar poderia fazê-lo. Na visão do reitor, a afirmação da identidade dos docentes tem tido um impacto muito positivo no desempenho escolar. “Sabemos que o preconceito existe em todos os lugares e fazer da Estácio um lugar mais livre dele o possível faz com que os alunos tenham que se preocupar apenas com sua formação. Claro que fazer isso não evita a discriminação. Este ano mesmo tivemos um processo administrativo por preconceito, um desentendimento entre dois estudantes motivado por puro preconceito. Coibimos severamente este tipo de atitude, inclusive o aluno que cometeu a discriminação foi formalmente advertido, vai para o histórico escolar.”

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Douglas acrescenta ainda que o trabalho da instituição vai além da adoção do nome na documentação. “Temos uma equipe de professores muito atenta às questões de identidade de gênero, que, além de sempre respeitarem o desejo dos estudantes neste sentido, ajudam a sensibilizar toda a comunidade acadêmica para fazer o mesmo, promover o respeito. E, regularmente, fazemos eventos abertos à sociedade para ampliar o combate ao preconceito. ”

Nas salas de espera de consultórios médicos, nos bancos e em diversas outras situações do cotidiano, Crys, como é chamada pelos colegas de sala desde que começou sua transição com hormônios, ainda terá de enfrentar olhares tortos e discriminatórios. Mas, por ora, poder ser chamada pelo nome que escolheu dá legitimidade à sua identidade dentro de um dos ambientes mais importantes de sua vida. “Não tenho palavras para descrever como é incrível ser representada e respeitada no lugar onde estudo, onde aprendo minha profissão. É muito bom poder ser quem sou.”

 

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