Com pista estreita, que permite a passagem de apenas um veículo por vez, guarda-corpos baixos e faixas estreitas para a circulação de pedestres, a Ponte da Remonta foi construída há cerca de 60 anos para atender a uma realidade urbana bastante diferente da atual. À época, a estrutura ligava a Avenida Garcia Rodrigues Paes, no Bairro Barbosa Lage, Zona Norte de Juiz de Fora, às estradas Remonta e Ribeirão das Rosas, principais acessos ao Bairro Remonta e ao Campo de Instrução do Exército. Hoje, a ponte concentra problemas antigos de mobilidade e segurança, alvo de reivindicações históricas da população e, novamente, de promessas de intervenção por parte da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), que afirma trabalhar para executar uma obra no local.
Embora tenha cumprido a função para a qual foi projetada durante décadas, a ponte hoje já não acompanha o crescimento do entorno. A expansão dos bairros próximos e o aumento expressivo do tráfego transformaram a estrutura em um ponto crítico de mobilidade, gerando transtornos diários e evidenciando a necessidade de intervenções, como a duplicação da via ou a construção de uma nova ponte.
A equipe de reportagem da Tribuna esteve no local e constatou de perto a precariedade enfrentada por quem depende da travessia. Por ser estreita e permitir a passagem de um veículo por vez, filas se formavam nos dois sentidos, com motoristas aguardando a vez de passar.
Motociclistas utilizavam as faixas destinadas aos pedestres para atravessar a ponte. Os guarda-corpos laterais, além de baixos, apresentavam partes quebradas, rachaduras e sinais de reparos inadequados, ampliando os riscos para quem circula a pé. Nas vias próximas, a presença de poças, a ausência de calçadas adequadas e a falta de sinalização horizontal e semafórica completam o cenário de insegurança para pedestres.
Riscos à segurança
Morador do Bairro Barbosa Lage há cinco décadas, o aposentado Messias Lourenço, 60, conta que a passagem pela ponte sempre foi difícil, e que a reforma da estrutura é uma demanda antiga dos moradores. “Agora vem congestionando mais, dando até confusão. A transição de pedestres é péssima, a passarela é muito estreita, deve ter uns quarenta centímetros, no máximo.”
“Já aconteceu acidente aqui. Uma vez o motoqueiro veio ultrapassando pelo meio-fio e atropelou um pedestre. Ali é estreito e o corrimão está muito ruim, todo estragado”, relata o comerciante Lair de Oliveira Gatti, 57, que comanda um açougue nas proximidades há 32 anos. Segundo o trabalhador, ao longo de décadas a situação da ponte nada mudou, visto que, os problemas na travessia de pedestres e no tráfego de veículos tornaram-se parte da rotina, algo considerado como uma “gambiarra mal feita”.
Gilmar Afonso da Silva, de 51 anos, funcionário de uma empresa da região, considera perigosa a passagem de um lado ao outro da ponte, além de ser um motivo de atraso daqueles que a atravessam para ir ao trabalho. “A travessia aqui é bem ruim para passar. Vem carro de um lado, vem do outro, então, temos que ficar esperando. Uma vez meu colega passou com pressa, bateu em uma parte da ponte e machucou o tornozelo.”
Presidente da Associação Grupo de Amigos Atitude Solidária Ação Social e morador do bairro há 38 anos, Mario Lucio Flores, reconhece que a duplicação da ponte é uma demanda antiga dos moradores do bairro. Como conta, no início de 2025, a organização protocolou um pedido de estudo técnico para a ampliação da ponte, o que ele acredita ter agilizado o processo para a retomada da pauta da obra no local.
Promessa de reforma é histórica
A necessidade de intervenção na Ponte da Remonta não é recente. Em fevereiro de 2013, reportagem publicada pela Tribuna apontava que a Secretaria de Obras da primeira gestão do ex-prefeito Bruno Siqueira (MDB), antecedida por Custódio Mattos (PSDB), afirmava que a ponte passaria por obras ainda naquele ano. À época, o então subsecretário de Operação Urbana, José Walter Ávila, teria visitado o local, realizado diagnóstico e definido um cronograma de intervenções, considerando a estrutura como a que apresentava problemas mais graves.
Naquele período, a ponte chegou a ser sinalizada com placa da prefeitura indicando futuras obras, e parte da calçada quebrada foi isolada com faixas. O planejamento previa o alargamento da entrada no sentido Avenida JK–Represa, com o uso de uma viga metálica, além da construção de uma nova ponte ao lado da existente.
Os projetos, no entanto, não foram executados, nem durante as gestões seguintes. O ex-prefeito Bruno Siqueira, reeleito em 2016, entregou três pontes no município (Wilson Coury Jabour Jr., Luiz Ernesto Bernardino Alves Filho e Wandenkolk Moreira), mas a Ponte da Remonta permaneceu sem intervenções estruturais, assim como em administrações anteriores.
Obra deve custar R$ 2,5 mi
De acordo com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), a gestão municipal trabalha para viabilizar a execução da obra, que há muitos anos é pleiteada pela população da região e pelo Exército Brasileiro, para facilitar o acesso à sua área de suprimentos. Conforme a nota, o financiamento está estimado em R$ 2,5 milhões.
“A deputada Ana Pimentel contribuirá com R$ 1 milhão. Além disso, os vereadores Cido Reis, João Wagner e Letícia Delgado destinarão R$ 250 mil cada, por meio de emendas parlamentares individuais. A Prefeitura complementará com os recursos necessários para alcançar o valor total.” Segundo cálculo, a complementação do órgão para a execução deverá ser, como estimado, de no mínimo R$ 750 mil, ou 30% do montante.
A deputada federal Ana Pimentel (PT), por meio de nota, confirmou o envio de R$ 1 milhão em recursos ao município para execução da intervenção. “Os recursos ajudam a tirar do papel uma demanda histórica, construída a partir do diálogo com lideranças locais e em parceria com o trabalho da prefeita Margarida Salomão”, destacou a parlamentar.
Procurados, os três vereadores citados, Cido Reis (PCdoB), João Wagner Antoniol (MDB) e Letícia Delgado (PT), da Câmara Municipal de Juiz de Fora, também confirmaram o envio dos valores para execução do projeto.
Sobre as possibilidades de intervenção, a PJF declarou que a duplicação, reforma ou outras adequações da ponte, ainda serão discutidas durante a fase de elaboração do projeto.


