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Missão Papai Noel: encarnar a ‘magia do Natal’

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Nos meses de novembro e dezembro, a rotina de Mário Galvanni e de Cazé Rocha muda bastante. Eles trabalham todos os dias, um no Shopping Jardim Norte e o outro no Shopping Independência, em horários que vão variando – mas que são feitos para atender a grandes públicos. Próximo ao Natal, chegam a ser o centro das atenções do meio-dia às 22h, e há filas para recebê-los todos os dias. Esses dois homens, que trabalharam ao longo da vida como representante comercial e como contador, respectivamente, se transformam durante o período – é preciso ter uma roupa específica, ter alguns cuidados com o corpo e estudar bastante para estar preparado para todo tipo de pergunta e pedido que recebem. Algumas pessoas chamam o que fazem de “bico”, outras até esquecem que tem uma pessoa de verdade por trás do que fazem. “Dificilmente me reconhecem fora dessa época. A minha afilhada, por exemplo, não me reconheceu, mesmo me vendo com a barba sempre. Falaram com ela que era o ‘dindinho’ e ela disse: ‘Não, é o Papai Noel!'”, conta Cazé.

Já são mais de 20 anos desde que Cazé foi Papai Noel pela primeira vez. Para ele, tudo começou em casa, em uma brincadeira com as crianças que hoje já são adultas. “Como também sou do teatro, já trabalhava com teatro infantil, fui fazendo aos poucos visitas em algumas casas. Até que fiz uma experiência no Mister Shopping, e hoje já estou trabalhando há 7 anos aqui no Shopping Independência”, conta. Para interpretar esse papel, ele deixa a barba crescer ao longo de todo o ano, sem tirar – apenas apara quando o período das festas se encerra. Mário, por sua vez, usa uma barba postiça que foi importada e ainda um enchimento de barriga, investindo sempre em um figurino elaborado para retratar de forma fiel a figura mítica. Ambos concordam, no entanto, que “ser” o Papai Noel depende de bem mais coisa: “O que importa, pra mim, não é só o visual do Papai Noel, e sim essa essência que ele transforma”, diz Mário.

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Cazé Rocha é ator e contador, e há mais de 20 anos veste a roupa vermelha de Papai Noel (Foto: Leonardo Costa)

Aprendendo com as crianças

Aposentado, Mário Galvanni, aos 69 anos, afirma que a essência de interpretar Papai Noel está na vontade de atender a todos, compreendendo a realidade de cada um e sempre sendo gentil. Para ele, é sua responsabilidade respeitar os limites de cada criança, inclusive quando, por exemplo, ficam com medo. “São vários universos humanos diferentes com que lidamos. O Papai Noel me ensinou muito a lidar com a diversidade das pessoas, principalmente com a diversidade das crianças. São várias frentes em que já trabalhei, já tive que lidar com todos os tipos de pessoa e jeitos. Isso me ensinou a ser muito mais gente, a ser uma pessoa melhor mesmo e a observar com mais carinho o entorno”, diz. Para ele, entender e transmitir essa vontade de caridade é essencial, e é algo que pode se transformar por todo um ano. “O Natal que acontece dia 25 de dezembro é uma preparação para mostrar o sentido da generosidade, da caridade e do amor, da união entre os povos. O Papai Noel é muito explorado comercialmente, mas o sentido mesmo é diferente, e eu procuro sempre mostrar esse sentido”, diz.

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Da mesma forma, Cazé acredita que eles também sempre aprendem com as crianças. “Elas nos ensinam mais do que a gente ensina a elas sobre essa magia. Não adianta vestir uma roupa de Papai Noel, trabalhar com o público e não saber, por exemplo, responder como o Papai Noel surgiu. As crianças ficam curiosas, querem saber das coisas, e como Papai Noel eu tenho que ter as respostas na lata para passar essa magia”, conta. Por isso, como ele explica, é importante entender bem como começou a “fantasia” do Papai Noel e toda a sua história no Polo Norte, assim como compreender a figura religiosa em que é inspirado, a partir do Santo Nicolau. “Sempre tento passar isso para as crianças e conversar. Acho importante para elas”, conta. No curto tempo que tem, com cada uma, vai pensando em formas de marcá-las para além das fotos que ficam em suas casas.

Mário Galvanni tem 69 anos e se define como “um homem tranquilo, aposentado, que gosta muito de escrever e de estar próximo das pessoas” (Foto: Felipe Couri)

Pedidos inusitados

Receber pedidos inusitados faz parte da rotina de cada um. Cazé mesmo admite que já escutou de tudo: “Cada ano eu me surpreendo um pouco. Eu morri de rir, semana passada, quando uma criança pediu uma mala grande para colocar os pais. Disse que estava com medo de ir sozinho a algum lugar e que aí podia levar eles. Também já pediram copo d’água e um foguete de verdade para ir pra Lua. É essa imaginação”, conta. Enquanto atende a uma criança, uma delas responde à pergunta do que quer ganhar de Natal com uma simples palavra: “Muito”. Da mesma forma, Mário relembra que já ouviu crianças pedindo os presentes mais baratos até os mais caros, sem levar em conta, claro, as condições financeiras da família. “A criança me ensina a transparência da vida, a pureza do olhar do ser humano, que tantas vezes faz falta”, conta.

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Para ele, a abordagem dos presentes deve ir mudando: “Não se deve ameaçar a criança: ‘Ah, se você não obedecer, Papai Noel não vai te dar isso ou aquilo’. Eu mudei esse chavão. Falo que o presente do Papai Noel é um prêmio para o que a criança fez e aprendeu ao longo do ano, é isso que importa”. Como Cazé completa, com o avanço da tecnologia, cabe a eles também fazer o possível para tentar manter essa magia do Natal. “Incentivamos a trazer um desenho, fazer as cartinhas e conhecer mais das histórias. Sempre trago esse lado da espiritualidade, do nascimento de Jesus, para conversar mesmo”, diz. A experiência, como ele conta, é tão gratificante que, ao final dos dias dedicados ao Papai Noel, ele mesmo sente falta: “Nessa reta final, começo a ficar já triste por estar acabando. É bastante cansativo, porque são muitas horas, precisa tratar voz e barba para ela não escurecer, lavar o vestuário e se cuidar para passar uma imagem agradável. Mas esse contato com as crianças faz valer a pena. Tem famílias que eu acompanho desde que as crianças são bebês”.

De volta ao Polo Norte

“Quando a gente sai desse mundo da magia do Natal, eu viro contador. Vou para o meu escritório, volto para a vida normal. Mas para as crianças, eu volto para o Polo Norte”, afirma Cazé. Em sua experiência, a melhor parte é mesmo poder fazer da sua transformação uma memória marcante para os outros. “Eu quero fazer isso até quando tiver força. Tenho crianças que acompanho todos os anos, que vejo até aquela fase em que os coleguinhas dizem que Papai Noel não existe, sabe? Mas aí vêm outras crianças e essa magia é renovada. Não acaba nunca.”

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