O termômetro do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicava aproximadamente 28 graus, embora parecesse muito maior a sensação térmica para aqueles que esperavam o início da última Missa do Impossível do ano, realizada na última terça-feira (19) em Juiz de Fora. Uma atmosfera indescritivelmente sacra tomou parte da Avenida Sete de Setembro e todo o entorno da Igreja de São José, no Bairro Costa Carvalho, ao longo do dia. Os telões instalados pela via davam indícios da grande quantidade de pessoas que ocuparia o espaço na hora da celebração. Chegando cerca de uma hora e meia antes do evento, já conseguíamos ter ideia da dimensão do que se daria pouco depois. Os primeiros fiéis chegaram ao local bem mais cedo: às 9h já havia quem esperasse pela celebração que teria início às 19h. Eles resistiram à incidência direta do sol, à fome, à falta de conforto, ao cansaço físico e mental, em nome da fé.
Eles traziam pequenos moldes dobráveis de casa, feitos de papel, com a palavra impossível, seguida da palavra difícil escrita duas vezes. Elas indicavam os campos que deveriam ser preenchidos com os anseios mais urgentes de cada um dos presentes e também de quem não pode ir, independente do motivo. A casa, segundo o padre Pierre Maurício, celebrante da Missa do Impossível, foi escolhida pela história de Isabel. “Ela era uma mulher idosa e estéril, para o mundo era impossível que ela fosse mãe. Diante do clamor, ele concede a ela a graça de se tornar mãe. Aquilo que era impossível, então, Deus realiza. Nos inspiramos nessa casinha, porque o primeiro impossível da história aconteceu justamente dentro de casa.” A ideia, então, era de que cada um depositasse, dentro de sua própria casa, as suas realizações impossíveis: “A pessoa vai abençoar a casinha, a fé dela nos diz que ela também receberá o seu impossível”, pontua o padre. Para ele, a casa é uma forma simplificada de as pessoas falarem diretamente com Deus. “Isso aproxima as pessoas. Elas recebem aquilo que podem tocar. De fato, a consagramos na fé e na esperança de que as preces sejam ouvidas.”
A mensagem também não se destinou apenas à fé individual no que cada presente pretendia realizar, mas também no que se quer em um ambiente amplo. Não foi um ano fácil, as dificuldades reverberaram em todos os níveis, mundial, nacional e individual. Para mudar esse quadro, a fé que levou cada uma das pessoas a aguentar a espera pela missa é o principal meio. “Nós vivemos conflitos grandes na nossa sociedade, morais, éticos e até mesmo religiosos. É preciso que o todo reflita os valores. Estamos vivendo de forma contrária à mensagem de Jesus. Ele passou levando paz, amor, sem preconceitos, sem falta de diálogo, sem conflitos. Não podemos continuar fazendo o contrário do exemplo que ele deixou”, ressaltou padre Pierre. “É a fé que começa a tocar a vida dessas pessoas, fazendo com que elas percebam uma vida diferente daquela que estão vivendo. Então é tempo de louvar e agradecer e reconhecer que essa mensagem chega aos corações delas e causa mudança.”
Uma multidão de impossíveis
Antes mesmo das 19h e, portanto, 30 minutos antes do início da missa, em alguns pontos do aglomerado de fiéis, não era possível se mover. Muitos deles se concentravam na reza do terço. Um número incontável de vozes se unia à oração, a cada conta que passava entre os dedos. No meio das inúmeras repetições de preces, cada história ganhava uma ponta de esperança, em algo que se pudesse realizar, ou no agradecimento de quem já tinha experimentado algo que considerasse impossível.
Assim que a missa começou, o padre listou uma série de impossíveis particulares. O primeiro era de uma mulher que não quis se identificar. Há exatamente um ano, ela foi à missa depois de passar pelo sistema prisional e ser liberta. O impossível dela era ser ressocializada. Um dos difíceis era estar livre das drogas e o outro era que as pessoas com quem conviveu no cárcere também conseguissem terminar de cumprir suas penas. Na edição desse ano, ela conseguiu cumprir os três propósitos. Foi ressocializada, viu-se livre das drogas e as mulheres com quem esteve também são egressas da penitenciária.
Sônia agradeceu pelo restabelecimento da saúde do marido que tinha sido, de acordo com o relato dela, desenganado pelos médicos. Ela conta que, após a bênção e as orações, seu marido está curado. Tainara agradeceu a aprovação no trabalho de conclusão de curso com nota máxima. Marta contou que o filho foi promovido e o neto foi aprovado na escola. Cláudio conseguiu pagar as dívidas. Amanda passou no mestrado. Maria de Fátima conseguiu que o filho aceitasse a internação em uma clínica de recuperação para usuários de álcool e outras drogas. Ela contou que o homem vinha sendo ameaçado de morte e, finalmente, concordou que precisava de ajuda. Josiane conseguiu transferência do trabalho, para ficar mais perto da família. Iranir conseguiu se aposentar depois de nove anos de tentativas. A filha de Maria conseguiu comprar a casa própria. Uma pequena amostragem dos muitos testemunhos que acompanhados de uma mão lançada no ar, indicando a autoria do agradecimento, arrepiavam a pele de quem estava ao lado.
A busca pela mudança de vida
Entre as muitas pessoas que concentradas acompanhavam atentamente o terço, estava Josiane de Paula Victor, de 23 anos. Ela disse que o que a levou à missa foi justamente a fé na realização do impossível. “Acompanho os testemunhos das pessoas que conseguiram alcançar muitas coisas e mudou muita coisa desde que comecei a frequentar. Fiquei mais calma, com maior tranquilidade e paz. A saúde também melhorou. É importante confiar que o impossível pode se realizar. Basta ter fé.” O impossível dela ainda não chegou, mas ela disse entender que cada coisa deve acontecer na hora certa.
A mesma crença é compartilhada por Luci Santana Lima Barbosa, 67. “Vim buscar muitas graças. O que me traz é a fé que eu tenho, vale muito a pena vir, porque vemos muitas graças acontecerem. Não peço muitos impossíveis, não. Eu venho mais para rezar, fazer minhas preces.”
Outros impossíveis também são encontrados no meio da multidão. Arlete Eugênia de Paiva Azarias, 58, frequenta as missas há dois anos, desde quando a bênção não era dada em uma casa, como foi na última celebração, mas em uma barca. “Já consegui muitas bênçãos. Venho sempre. Nem sempre consigo trazer todo mundo (diz, referindo-se aos filhos e netos que a rodeavam), mas as graças vão chegando. Fui curada de um câncer de mama, tive que fazer quimioterapia, radioterapia. No segundo laudo, foi diagnosticado outro nódulo, voltei aqui, continuei pedindo a Nossa Senhora dos Impossíveis que me desse força, porque ia começar tudo outra vez. Quando fiz o segundo exame, não tinha mais nada. Estou curada e agradeço. Todas as bênçãos vêm chegando no seu tempo.” Ela também já levou o impossível para a vida de outras pessoas. “Trouxe meus vizinhos, que trabalham com uma barraca popular, para rezar e agradecer. Sempre trago meus filhos e netos e, quando penso em não vir, na hora me dá uma força muito positiva, e eu me motivo. Com chuva, frio, calor, de qualquer jeito eu venho.”
A crença na melhoria de todos os âmbitos da vida também marca a história de Adalberto Magalhães, 58. “Com muita fé e perseverança, os objetivos são alcançar o que almejamos. Acompanho essa mensagem há um ano e meio e, desde então, tudo mudou. Venho por uma mudança que é alcançar essa fé cada vez mais, o resto conseguimos conquistar com êxito.” Ele contou que foi bem-sucedido na realização da vida financeira, após pedir intercessão na missa.