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Estudantes recolhem material reciclável e visitam associação de catadores

if sudeste marcelo
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O catador que está nas ruas não é reconhecido pelo trabalho que faz. O que a sociedade dispensa, como algo inútil e sem valor, se torna renda e se converte em alimento e sobrevivência para quem tira seu sustento dessa atividade. Tendo esse ponto de vista como norte, o projeto de extensão “Consumo, lixo e cidadania: uma experiência socioambiental com os alunos do IF Sudeste Campus JF nas ruas da cidade” leva um grupo de alunos para recolher material descartável. Em seguida, eles vão visitar a sede da Associação Lixo Certo (Alicer), no bairro Jóquei Clube, Zona Norte da cidade, na manhã desse sábado (24), para conhecer mais sobre a rotina da Associação. O projeto visa a conscientizar sobre o impacto que o lixo provoca e a despertar os adolescentes para reflexões sobre consumismo, produção de resíduos e sua correta destinação.

De acordo com o coordenador do projeto, Ciro de Sousa Vale, professor do Núcleo de Geografia do IF Sudeste, o choque de realidade proporcionado pelo encontro é um ponto de partida para que os estudantes entendam que a responsabilidade sobre o resíduo não é só do poder público. De acordo com ele, o tema exige um debate mais amplo na sociedade, que não deveria estar restrito a campanhas em datas isoladas, como a Semana de Meio Ambiente ou o Dia Internacional da Água.

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“Vivemos em uma sociedade consumista, que desperdiça muito e é muito mal educada. Não faz nem a própria segregação do material dentro de casa e, muitas vezes, o lança nas ruas. Essa atitude independe da classe social ou de outros fatores. Esse lixo vai entupir os bueiros e contaminar mananciais, sendo que poderia ser reaproveitado, reutilizado ou reciclado.”

Por meio dessa vivência, é possível, por exemplo, trabalhar com uma diferenciação correta de conceitos, que muitas vezes são trabalhados de maneira equivocada. Segundo o professor, ainda há uma confusão muito grande entre termos como coleta seletiva, reciclagem e reaproveitamento. Por isso, o projeto vai sistematizar esse processo. “Os alunos vão recolher material reciclável. Nós vamos pesá-lo, separá-lo por categoria e, de forma simbólica, vamos entregá-lo a uma associação de catadores.”

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Ciro comenta que faltam políticas públicas em todos os níveis, seja municipal, estadual ou federal, e esses profissionais, embora tenham longas e extenuantes jornadas de trabalho, não são remunerados adequadamente. “Muitas vezes nem as próprias escolas fazem a coleta seletiva, e, com isso, a responsabilidade, que deveria ser compartilhada, recai sobre o poder público. Só nos lembramos dos catadores quando há greve, porque eles são figuras muito invisibilizadas, porque realizam um trabalho braçal, que nunca foi considerado no Brasil, mas que é fundamental do ponto de vista socioambiental.”

Conhecendo os processos

Por meio da ação, os estudantes terão contato mais claro com um sistema complexo, porque há catadores associados, autônomos, pessoas em situação de rua que recolhem esses materiais e outros atores. “Eles são a parte mais frágil da cadeia, porque o catador vai vender para o atravessador. Esse vai vender para a indústria e muitos preferem passar o que separam e recolhem direto para os atravessadores, ao invés de fortalecer o trabalho dos catadores. O poder público também não incentiva o trabalho das associações com investimentos, como deveria ser. Eles acabam trabalhando gratuitamente e a reciclagem não atinge nem 1% do resíduo produzido na cidade.”

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Da forma como agimos hoje, além de não aproveitarmos o potencial de todo esse material que pode ser reciclado ou reutilizado, sobrecarregamos os aterros, diminuindo sua vida útil. Há outras ideias que também precisam ser quebradas, como a de que é possível reciclar tudo. De acordo com o professor, os três R’s – reciclagem, reuso e redução – são feitos na ordem inversa e deveriam começar por um esforço maior para diminuir o consumo.

“Mesmo que se sinta desconfortável ou envergonhado no início, o estudante vai entender o ponto de vista do catador. Não só por meio dessa vivência, como também por textos e filmes, se tornando um multiplicador. Em países em que a educação ambiental é uma obsessão do poder público, há uma preocupação maior da população com o tema. Temos que ter esse processo de maneira contínua, do ensino infantil à faculdade, com reforço de condomínios, associações de bairro e outras entidades. Porque a natureza há algum tempo dá sinais de esgotamento e eles estão cada vez mais fortes”, finaliza.

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